quarta-feira, 24 de março de 2010

LUZ DO SOL - 64

- PÉROLA -

- CONTO -

Pérola era a candura que se podia notar nos aposentos inflamados dos bordeis da sua cidade. De nada havia por mais esplendorosa que existisse uma mulher capaz de ser como se almejaria naquelas noites de verão. Pérola era a única deusa entre todas as amantes dos ambientes sedutores dos palácios noturnos. As pecadoras ninfas do amor e do prazer a respeitavam igual às divindades dos augustos altares por sentir demais uma veneração imponente como as demais divindades. Nas noites quentes e fugazes dos escolhidos amantes as damas procuravam saber de Pérola qual o seu verdadeiro amante. As mais novatas das mulheres, ela dizia que fosse com um tal parceiro pois a ela cabia escolher aquele que melhor entre os melhores que se faziam presentes. Em sua alcova recolhida, Pérola era a verdadeira mulher para os seus amantes de poucas horas. No luxuoso e opulento aposento onde a ninfa fazia os anseios aos seus eternos apaixonados um pouco de prazer, ali era também a sua alcova onde dormia todas as noites e dias como assim lhe aprouvesse. Em seu castelo de cristal ornado por tudo o quanto era belo, estava a linda morena a suspirar de anseios ao ver o seu belo amante esbanjar o seu poder que jamais contraía para não ser vulgar por demais. Tudo o que lhe depositavam os seus amantes, ela guardava no seu seio e no dia seguinte chamava uma camareira a qual depositava em uma Casa de Crédito da cidade. Era assim a vida de Pérola no seu caminhar da existência.
A mulher tinha uma beleza impar no seu aprumo de toda a face. Olhos negros e brilhantes, rosto afilado e boca púrpura tinham na maciez de suas curvas sensuais os mais doridos encantos onde tudo se encimava. Tal beleza incomum era toda divinal igual as mais brilhantes pérolas do oceano bravio. Talvez por essa questão provável fosse que alguém um dia lhe chamou de Pérola. E se foi assim, então assim ficou sendo conhecida a deusa para todo o sempre. No altar da concubina nada se fazia a não ser o verdadeiro afeto. O seu local de lide de Pérola era o mais sofisticado do lugar onde se podia ter luxuoso local com as camas e cobertores que encimavam os mais encantados locais que nem se podia imaginar sua essência. Um luxuoso candelabro estava no centro do salão refletindo a sua luz por um amplo espelho amparado na parede e decorado com duas luminárias, cada uma a seu lado. Um abajur lilás ambientava a sala com mais uma banqueta onde se podia ver apenas um luxuoso amparo de rosas. Quadros reproduzindo obras de pintores famosos deleitava o amado após a ânsia de fazer a sua reprodução corriqueira com a amada Pérola.
--- Lindo o ambiente visto de perto. – dizia o amante.
--- Mais lindo é que o vê. - declinava Pérola como forma de sedução.
Diante de tal elogio o homem deleitava para mais uma orgia de afago. Quando vencia o tempo de ficar, Pérola recordava ao homem que era a vez de acordar, muito embora o homem tivesse desperto. Ao sair da alcova, o homem agradecia o prazer da sedução e que em breve voltaria para se ter mais um pouco de apego. Diante de tal afirmação, Pérola olhava com os seus olhos ternos e cheios de encantos aquele augusto másculo e lhe oferecia um brinde de champanhe para satisfazer o desejo de quem partia. No seu altar de sedução, a mulher bem jovem ainda, se espreguiçava como um todo e dormia a seguir. Da porta, o homem largava para o seu caminho quando, logo após entrava a camareira para proteger dos seus preguiçosos sonhos. Tal encanto Pérola fazia a cada vez que o amante de poucas horas saia do seu recinto. Não se importando com coisa alguma, a camareira costumava chamar Pérola para tomar o seu precioso banho e, depois, ela então podia repousar.
--- Ô. Não, mulher. Deixa-me dormir. – falava Pérola como quem quisesse chorar.
--- Levanta. Levanta. Ora. Não estou dizendo mesmo. – articulava a camareira como quem estava com um pouco de raiva.
A dama da noite então saía para o banheiro do cômodo onde se lavava por completo e só então voltava à cama e pedia à camareira que deixasse a luz ambiente para que ela pudesse pegar no sono então.
--- O dinheiro, ele deixou? – perguntava a camareira.
--- Esta na banca. – respondia Pérola com voz de sono.
--- Ah bom. Amanhã eu deposito. – falava a camareira.
--- Deposite. Deposite. - falava Pérola já pegando no sono.
--- Vai dormir mesmo? – perguntava a camareira.
--- Um cálice de champanhe, por favor. Deixa-me dormir. – respondia Pérola.
E assim, terminara a noite da jovem dama da noite que só acordaria no dia seguinte. O sono veio como sopro nos seus olhos negros de cristal e a brandura lhe fez presente ao refino do que almejava a mulher. As horas passavam como todas as horas e na rua, o assobio de alguém se ouvia a passar. A vitrola da casa tocava um tango dolente como sendo uns velhos uns bandolins a rimar no efêmero cantar sonolento de algum cantor ao desespero em busca de sua amada. Algo triste e lânguido igual a quem que busca a mulher amada que desaparecera de vez. A luz do cabaré se apagara por completo e a noite envelhecia para todos os enamorados. A madrugada sonhava tristonha a cada vez que o amante se acariciava em triste nostálgica melodia no desânimo de velhas notas adormecia para os eternos dissabores.




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