domingo, 28 de março de 2010

LUZ DO SOL - 68

- CLOTILDE -
- CONTO -

Manhã de domingo, logo cedo, Clotilde estava ao telefone falado com o seu pai sobre questões rotineiras. Ela perguntou-lhe por sua mãe e o pai respondeu que ainda estava internada no Hospital, pois seria submetida no dia seguinte a uma cirurgia complicada que o velho temia por sua sobrevivência. Em contrapartida Clotilde lhe dava conselhos ao dizer que a medicina estava em franco progresso e sua mãe não era a primeira vez que se submetia a cirurgia. O velho se fez de duro para não chorar, porém agradecia os conselhos da filha mais velha do seu casamento de cinqüenta anos com a sua mulher lhe dava como um toque de amparo. No ano em que se deu tal caso, Clotilde estava morando em outra cidade, um pouco mais adiantada do que a do seu velho pai. De qualquer forma, ela temia pela sobrevivência de sua mãe. A mulher, um pouco mais moça de que o seu velho pai, já sofria do diabetes e não era comum para a mulher se submeter a uma cirurgia tão delicada como a que estava programada.
O sei pai, Augusto, estava intranqüilo por tudo o poderá ocorrer com a sua esposa, apesar de falar manso e dizer apenas:
--- Tudo bem. Tudo bem. Obrigado. Vou tentar. – pronunciava Augusto.
Porém dentro de si, havia um temperamento frágil ao sentir que podia perder a qualquer momento a sua esposa Isaura, mulher de fibra, confiante em Deus, católica acima de tudo, capaz de rezar um dia inteiro como fazia quando estava em sua casa, juntando-se as demais amigas do bairro, fazendo o terço do mês de maio, ou mesmo outros terços quando alguém fazia aniversario nas redondezas do seu lar, um apartamento em um prédio de oito andares. Isaura era inegável que sempre esteve confiante na cirurgia a que seria submetida naquele dia e sempre dizia.
--- Deus proverá. – recitava Isaura.
Mãe de quatro filhas, uma da qual casada e morando com seu marido no exterior, pouco discava o telefone para saber como a sua mãe estava passando de saúde. Talvez por displicência a filha não tivesse tanta preocupação. As outras duas tinham mais apego a sua carinhosa e dedicada mãe e sempre estavam no Hospital se revezando na permanência entre si. Por seu lado Clotilde, morando em outro Estado, se preocupava por demais pela delicada sobrevivência a mulher, pois sabia que Isaura enfrentava uma seria crise na sua operação para retirar um tumor maligno que os médicos identificaram quase por acaso, nos intestinos. Com isso, a seu ver, Clotilde tinha por demais preocupação pela sobrevivência da mulher já um tanto desgastada da saúde. No entanto, de onde estava morando, Clotilde pouco podia fazer a não ser também rezar, ir à missa e comungar contrita.
Em certa vez, quando ainda era menina, Clotilde e suas três irmãs passeavam a cavalo, cada uma no seu corcel na fazenda do seu pai, no interior do Estado. Um caso que ela se lembrava sempre era o fato do cavalo morder a brida e sair na correria, passando por fruteiras e matagal, com a amazona sempre gritando:
--- Socorro! Socorro! O cavalo! O cavalo!. – era o que dizia Clotilde.
Quando Clotilde disso se lembrava tremia de medo com o que o corcel fez naquele dia com a sua amazona. Por isso, a mulher sempre temia ao ver um corcel a pastar por perto do alpendre da fazenda. Mesmo assim, ela não abandou as corridas de cavalos fazendo com eles a travessuras de uma menina. O animal que mordeu a brida teve mais respeito por parte de Clotilde que procurava manter sempre distante. Quem apostava no cavalo em uma corrida, Clotilde já adulta comentava:
--- Eu heim! Aquele me pôs sal na moleira. – e desconfiada, sorria de forma modesta.
Ainda passado o tempo, Clotilde comentava o fato de sua montaria e se alguma pessoa perguntasse se teria coragem de montar naquele cavalo, ela dizia:
--- Naquele animal? Nunca mais! – respondia Clotilde.
Mesmo assim, o tempo reservou a morte do animal por conta da velhice pelo tempo de vida de 30 anos, aproximadamente que o animal viveu. A um tanto extenuado, o animal não corria e sempre seu velho pai o guardou poldro em um estábulo próximo aos demais animais da fazenda. Em um dia qualquer de inverno um tratador meio até a fazenda dizer que o cavalo havia morrido. Foi um dia de luto para o seu criador, Augusto, que tanto amava o animal, apesar de sua velha e abatida idade. Por varias semanas se fez luto no recinto em tributo ao velho cavalo que morrera.
Após algum tempo, Augusto veio residir na capital tendo deixado entregue a fazenda a um seu filho adotivo que assumiu a função de dono. Pelo que se sabe tal filho, de nome Junior, porque era Augusto também, tinha sido fecundado pelo seu pai – o velho Augusto - em uma empregada jovem e bem servido que trabalhava na fazenda desde criança. As filhas legítimas de Augusto tinham um ranço por conta de Junior e se falavam com ele, sempre se dirigiam a outra pessoa como se o rapaz não estivesse no local. O rapaz, calado como sempre, ouvia o que as moças falavam para outra pessoa e, açoitando o chão com um chicote saía para aprontar o que havia sido pedido. Quando o velho Augusto entregou a fazenda ao jovem, houve uma discussão por parte das filhas, pois nenhuma entendia a razão do pai se desligar da fazendo deixando tudo com Junior. Porém, o velho sempre dizia:
--- Justiça! É o que se faz. Justiça! – respondia o velho Augusto.

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