quinta-feira, 4 de março de 2010

LUZ DO SOL - 44

-MARINA -

- CONTO -

Seu nome era Marina. Mulher monumental e quem a visse, na certa, haveria de sentir calafrios por todo o corpo. Sua forma arrebatadora não deixava a enganar sua malícia de mulher vulgar na forma de deusa atraente em todos os aspectos. Marina aparecia no seu ambiente de atração momentânea onde os homens ensimesmados com tanta delicadeza e deleite apenas, com mais vagar, somente à noite. Na verdade, era uma musa de tons orientais, podia-se dizer. Cabelos loiros e quase longos, macios e sedosos, pele clara, rosto límpido e de tonalidade oval, seios pequenos para uma dama de cabaré, braços longos e finos, como que não pudesse arcar com imensa força um móvel, cintura fina fazia do seu corpo uma magistral mulher para todos aqueles que a rodeavam e faziam a corte. Quando a dama aparecia no salão era um verdadeiro delírio por todos os que estavam presentes.
Marina nasceu no interior em uma fazenda onde seu pai era um simples vaqueiro. O seu porte de criança estava longe de ser o que se concebera quando moça-mulher. No início de sua infância, quando ela era uma menina dos seus oito anos, se apaixonou pelo filho do dono da estância. Era um amor escondido para que ninguém notasse. E viveu assim por 4 anos, namorando o filho do homem forte da fazenda. Nesse tempo, ela engravidou do rapaz e teve que sair de casa, às escondidas para ter seu filho em outro lugar. Foi numa casa de taipa coberta de palha que Marina teve seu filho. Na tal casa ela deixou o menino para ser doado a quem quisesse e partiu para outra cidade. O casal de velhos foi quem tomou conta da criança, um menino raquítico, porém de boa saúde. Nesse tempo, Marina tinha seus 13 anos incompletos. Perambulou mundo a fora, de cidade em cidade até chegar a um entreposto que existia em uma cidade do litoral. Quando chegou a esse local, já estava com seus 14 anos. Viveu por lá um ano e seguiu para outro local. Quando estava com seus 17 anos, chegou à pensão onde ela era uma simples doméstica e, nas horas vagas, ficava com um e com outro guardando dinheiro para o seu futuro. Marina, quando nem esperava, estava a pensar em seu filho que devia ter 4 ou 5 anos, pelas suas contagens. Depois, esquecia de momento pelo que tanto lhe afligia.
Certa vez, um homem de negócios perguntou-lhe o que estava a fazer ali, tão só, ao que Marina respondeu:
--- Nada, se lhe importa! – respondeu a ninfeta.
--- Quer sair desse lugar? – perguntou o homem, um pouco enciumado com a quase moça, pois lhe faltava apenas um ano para ser independente.
--- Não! Aqui tá bom, se lhe serve! – respondeu Marina um tanto ríspida.
--- Eu dou casa, comida, roupas finas e tudo o mais que você ainda não tem! – contrapôs o homem.
--- Ah é? E o que me sobra para fazer? – indagou Marina.
--- Você não precisa fazer nada. – sorriu o homem.
--- Ah é? E o senhor o que lucra com isso? – inquiriu a moça com um ar de delinqüente.
--- Nada. Ou tudo. Verei você em um lugar bem mais brioso como este. – redargüiu o homem.
--- Vou pensar. Mas tudo indica que não quero, visse? – respondeu Marina.
O homem agradeceu, deu boa noite e foi embora. Marina sorriu com certo receio e fez um “rum” no final da historia. Com a vassoura na mão, o tempo curto para fazer tudo, cabelos em forma de totó, ela cuidou de limpar o sobrado onde as damas da noite estariam à espera de seus amantes.
--- Ave! Tem cada coisa! – resmungou Marina.
--- Que está dizendo, menina? – perguntou a gerente da pensão.
--- Nada não. Só pensando. Deixa pra lá. Tô muito ocupada. Deixa. Deixa. – respondeu Marina, inconseqüentemente.
Com o passar dos dias, um freguês ilustre da casa de recurso, procurou algo mais atraente para si, em lugar das mesmas damas de todas as noites. Era isso o que ele dizia a “gerente” da casa naquele instante. A mulher insistiu em que ele saísse com a mais experiente da noite naquela casa e o homem rejeitou. Para deixá-lo partir sem qualquer despesa, a mulher disse até brincando a homem:
--- Só se for a empregada da casa. – sorriu e pediu desculpas por não querer ofende-lo.
--- Boa idéia. Boa idéia. Você esta se perdendo aqui. Chame a menina! – respondeu o homem.
--- Mas o senhor vai querer aquele troço ali? – perguntou a mulher apavorada.
--- Chame a menina. Eu vou ver se ainda dou no “couro”. – disse o homem sorrindo.
A mulher saiu do seu lugar e foi depressa chamar a garota que estava a enxugar o chão e disse para ela, alarmada.
--- Sola isso. Solta isso. Te arruma. Tem um freguês de boa posse que quer ficar com você. Te arruma. Veste as mais brilhantes roupas, Passa talco na cara, limpa o xibiu. Faz tudo direitinho. Eu te ajudo. Vamos depressa! – arrematou a gerente do recurso.
--- Votes. Que merda é essa? – falou Marina, meio assombrada, com a vassoura pregada no queixo, e ela de boca aberta, com seus olhos miúdos a açoitar a gerente.
--- Avia menina. Isso é pra já. Vamos. Depressa. – falou baixinho a gerente, agoniada.
E lá se foi a menina, transformada em mulher, se arrumando toda, com as roupas mais requintadas que havia no bordel, vestido até os pés em meio ao bom gosto de todas as damas e cavalheiros. Ao sair da alcova ainda levou um tropeço por calçar sapatos de salto alto. Mesmo assim, com seus cabelos penteados ao modo do apurado poder da sedução, uma boina sobre a cabeça que lhe dava mais cuidado ao vestir, a jovem chegou ao sofá onde estava acomodado o cliente e, de um jeito um tanto primaveril, cumprimento o homem e passou a fazer carinhos em seus cabelos, olhando de leve o encanto que aprendera a fazer em outros lupanares da vida. As carícias enfeitiçaram o homem que em poucos minutos estava extasiado por tanta candura feminina. Daí por diante, Marina era o feitio de emoção de todas as noites para os ébrios tontos de amor e paixão para todo o sempre.




Nenhum comentário: