sábado, 13 de março de 2010

LUZ DO SOL - 53

- RASTROS -
- CONTO -
Gustavo estava a observar os recentes lançamentos da moda feminina quando, por um momento, viu passar na rua ao lado, em um auto Plymouth ultima geração a figura de alguém que ele não vira há muito tempo. Ele estava a pé, e a jovem cruzou a rua em seu veículo mais depressa do que o costume. Aquilo deixou Gustavo boquiaberto, pois algo de muito serio levara a jovem moça a cruzar a rua de modo tão intempestivo. Na direção do carro, estava um motorista e ela no banco de trás. Como havia carros daquela marca descoberto em toda a extensão, era assim que Gustavo pode ver a notável presença de Gilda. Mesmo se perguntasse a alguém do lado, ele não obteria resposta, pois a jovem senhorita não estava ligada aos prazeres de desfrutar uma terna amizade fugaz. Gilda continuava exuberante bela como Gustavo a conhecera tempos passado. Seu rosto oval lhe dava segurança na primorosa silhueta de seu corpo fenomenal. Cabelos curtos, sobrancelhas arqueadas, olhos miúdos multicoloridos, nariz afilado e boca pequena cheia de desejos, era assim aquela doce criatura que Deus a criou. Há alguns tempos, quando menina, Gilda costumava brincar em sua ampla sala de apartamento quando Gustavo a olhava suave e delicado com o seu jeito de apreciar os enigmas de menina que Gilda fazia a tarde inteira.
Certa vez, ela a brincar sozinha como costumava fazer, olhou para Gustavo, com um riso maroto nos lábios, baixou a cabeça tornando a brincar com seus jogos infantis e, de imediato chamou o jovem para brincar com ela. Apesar do seu ciúme por aqueles jogos, Gilda estava disposta a deixar Gustavo brincar também.
--- Você joga com as pedras azuis e eu com as vermelhas. Jogue. É você quem deve jogar agora. – sorrio Gilda.
O rapaz, sem jeito, começou a jogar ajudando Gilda em sua brincadeira. Então, os dois começaram a jogar aquele brinquedo que tinha o nome de “RASTROS”. Gustavo não sabia por que um nome tão complicado para uma brincadeira tão simples. Mesmo assim, os dois jogaram a tarde toda. Às vezes, Gilda dizia com aperreio de criança:
--- Ah! Você não sabe jogar. É assim, ó! – e mostrava como se jogava.
O jovem rapaz fazia de conta que não entendia, pois o jogo era tão fácil que, de uma tacada, ele já terminaria com a partida. Por isso mesmo, era preferível fazer que não soubesse, deixando a menina a ficar alegre a cada partida vencida.
--- Venci mais uma vez! – dizia a menina, em entusiasmo infantil.
--- Venceu mesmo. – dizia Gustavo.
--- Jogue agora. É você. Sua vez. – dizia Gilda alegre e saltitante.
Gustavo perguntava como se estivesse alheio ao jogo.
--- Sou eu que jogo? – perguntava Gustavo como se estivesse alheio a partida.
--- É. Você começa. Comece. – sorria Gilda em sua pequenina meninice de apenas oito anos de idade.
Vez ou outra Gustavo deixava a partida empate, para ouvir de Gilda aquela expressão de que foi ela mesma quem empatou. E tudo começa outra vez. Quando já era o entardecer, a mucama lhe chamava para tomar banho do fim do dia e Gilda sempre encontrava uma desculpa para dizer que a mulher esperasse um pouco. Gustavo entendia mais que Gilda e deixava que ela fosse para depois do jantar ele pudessem recomeçar a brincadeira do “RASTROS”, uma brincadeira de esporte divertido, onde os dois parceiros ficavam sentados de frente para o outro a jogar pedras torneadas de azul de vermelho.
Nesse tempo, Gustavo aproveitava para sair do apartamento, deixando um beijo na face da menina e desejando-lhe boa sorte, pois quando voltasse eles tornariam a brincar.
--- Você não vem! – dizia Gilda com um muxoxo na boca.
--- Venho sim. Pode esperar. – respondia Gustavo.
Porém, o rapaz quando voltava, encontrava Gilda já amparada em sua cama a dormir. Ele abria à porta do quarto onde a menina dormia e então aproveitava para lhe dar um leve beijo na face, com a mucama de perto como sempre fazia. Gustavo achava bela a menina quando então agarrava no sono doce e angelical de uma pura carinhosa virgem onde os pensamentos vários se entreteciam em sonhos e uma infantil criatura de plena e suave harmonia.
Foram dias eternos que o rapaz aproveitara para brincar com a criança, ainda meiga e cheia de encantos como nenhuma outra ele encontraria em algum lugar. Nos dias de domingos, era como, ao final da tarde, Gilda ir para a praça onde brincava de escorrego, de balanço e de outras brincadeiras de menina. Com Gilda estava sempre a mucama. Gustavo também fazia se presente para em seguida tomarem sorvetes de baunilha ou de coco, passearem pelos recantos cheios de plantio de roseiras, arvores de fícus que os exímios jardineiros formavam uns coelhos gigantes ou uns tronos para quem quisesse sentar e tirar fotografias. Tanques de água com criaturas marinhas, como tartarugas, eles também faziam visitas. As demais crianças jogavam flocos de pipocas para que as tartarugas viessem a se locupletar e assim, a criançada pudesse ver os espécimes bem perto delas.
Aquela era uma tarde de encanto primaveril. Amplas crianças brincavam no parque, nas rodas de empurrar, com cada vez dez meninos e meninas. Os homens bem vestidos a vender sorvetes, picolés, pipocas, puxa-puxa, doce-de-coco, rolete de cana, e mais um sem numero de coisas gostosas para os rapazes, moças e crianças que se divertiam como sempre. Vez ou outra fotógrafos com suas máquinas de fotográficas tiravam fotos sob encomenda de rapazes com suas namoradas, de pares de amigas e de crianças que pediam para ser de veras amplamente fotografadas. Nesse caso, Gustavo sempre fazia a vontade de Gilda.
--- Quando você entrega a foto? – perguntava Gustavo.
--- Dois dias. – respondia o fotografo.
Certa vez, Gustavo resolveu comprar a sua maquina Kodak, pois assim tinha a oportunidade de tirar tais fotos da menina nos balanços, nos escorregos, nos jardins e em tanto outros locais. Com a sua maquina fotográfica ele podia fazer fotos da menina quando dormia de vários ângulos e formas, da mucama para que ela não tivesse ciúmes, da mãe de Gilda. Às vezes a mãe com Gilda no colo, quando essa estivesse acordada. Era um prazer total que Gustavo havia tido com esses dias primaveris.
Com o passar do tempo, Gilda partiu para bem longe de onde eles estavam sempre a brincar. E ele não teve mais notícias da menina e de sua família. Dos tempos de alegria e entusiasmo ficaram somente as distantes fotos que, com o passar do tempo se tornaram amareladas pelos desgastes dos sais que revelaram aqueles instantâneos. Distante ou tão perto, Gilda não deu mais noticia. Não fora aquela ocasião em que o auto passara célere, ele jamais tinha visto Gilda, agora moça que sob enfeite de seus arranjos nem sequer olhou para ver Gustavo onde ele estava. Lembranças tardias de um jogo de “RASTROS” eram tudo o que restava para o rapaz.

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