sábado, 6 de março de 2010

LUZ DO SOL - 46

- OLGA -
- CONTO -
Não restam duvidas que Américo sempre fora tomado de fortes emoções por Olga, para ele mulher sagrada ou santa mulher como dizia sua própria origem e por sua personalidade forte e eminentemente marcante. Suas responsabilidades no trabalho não tinham limites. E em sua casa, era da mesma forma. Talheres e copos, cálices e guardanapos, pratos e tigela tudo estava organizado ao seu gosto para ninguém por defeito da arrumação da mesa. Isso acontecia com outras partes da mansão bem ampla ao modo dos seus pais e avós. Nem se notava e Olga estava passando a mão em um quadro de um pintor que estava exposto ali. Quando sentia qualquer aspereza, logo declarava ao mordomo da mansão.
--- Limpe! Está sujo! Limpe! – dizia Olga.
Mesmo que estivesse limpa a moldura, ela fazia questão em se limpar um resto de poeira que o vento trazia, por acaso. Assim, Olga fazia inconseqüente com os demais móveis existentes no salão da enorme mansão. A criadagem era intimada a limpar o que estava com sujo conforme dizia a encantadora mulher, cheia de charme e de bom gosto. Os seus cabelos eram alongados, porém, tinha vez que ela mandava ao seu cabeleireiro aparar o corte para que ficasse em um sentido mais baixo que o normal. O homem era um homossexual célebre por ter bom gosto de aparar os cabelos das mais atraentes mulheres da imensa cidade onde ele vivia.
--- Ficou do jeito que você me pediu. – dizia o homossexual, com os seus trejeitos.
Com a costumeira elegância de sempre, vestindo peças atemporais com seus símbolos máximos, estava Olga a se compor a moda que mais lhe aprovasse. Do seu canto, sentado, passando a vista nos jornais do dia, Américo ostentava o seu ímpeto de um homem que encontrara para si uma mulher fatal. Era difícil satisfazê-la na cama, pois Olga se ajeitava no leito deixando-se cobrir um véu onde era quase impossível alguém incomodá-la. O marido, por sinal, dormia em quarto separado, porém ninguém da mansão podia abrir a boca para dizer tal fato. Quando Olga sentia vontade de ter um companheiro de alcova, então chamava o seu esposo para dormir com ela. Uma vez terminado o ato, ele saía, calçando os chinelos felpudos e voltava a dormir em seu cômodo, sozinho.
Filhos, a mulher nunca teve. E mesmo que alguém perguntasse por herdeiros, ela arranjava um jeito de que vivia só com o seu marido. De certo modo, em sua mansão havia um menino dos seus dez anos de idade, que ela adotara como filho, mas evitava falar no caso. O garoto era um simples garoto. Vivia correndo no pomar, corria atrás dos animais, brincava como qualquer outro garoto com plena liberdade. Quem procurasse observar melhor, veria a figura da mulher, dos seus quarenta anos, a observar a criança, sem dizer coisa alguma. Apenas observava o garoto com suas arteirices fervorosas. Quando mais não queria olhar, Olga se recolhia ao seu aposento onde era costume ler algum livro de autor medieval. Os novos ou modernos autores, Olga não os queria, talvez por considerá-los uns:
--- Chatos! – dizia sempre Olga.
Em uma manhã de primavera, Olga recebeu em sua mansão a visita de uma amiga de infância que há tempos não aparecia por aquelas paragens. O encontro já tinha sido acertado uma semana antes, pelo seu telefone. Na hora aprazada, a mulher, Aline, de linhagem nobre, graciosa e atraente, chegou à casa nobre, recebida à porta principal pelo mordomo que a seguiu compassivo até aos aposentos que Aline ficaria a esperar a sua amiga de longas datas. Não foi nem preciso esperar tanto assim, pois Olga lhe veio ao encontro, abraçando-lhe afetuosamente com o seu ar feliz. A visitante, trajando cores vibrantes, meias semitransparentes, formas geométricas lembrando elementos do futurismo, chegou-se até Olga com os mesmos afagos e desenvolturas. As duas amigas conversaram por um bom tempo, lembranças de seus tempos de crianças, passando pela puberdade, advindo a juventude até chegar a forma adulta de mulher.
--- Você esteve viajando? – inquiriu Olga.
--- Paris. Tenho negócios lá. Viajei por outros recantos, como Berlim, Madrid, Lisboa, assim, assim. – respondeu Aline.
--- Paris. Bela cidade. No ano passado, eu e Américo estivemos nesses locais. – objetou Olga com um sorriso na face.
--- Ô se eu soubesse! – reclamou Aline.
--- Pois é. Negligência minha. – sorriu Olga.
--- Tem amigos nessas cidades? – perguntou Aline.
--- Em Paris. Um forte amigo. Jean-Luc. E na Alemanha. Parece. – reclamou Olga.
--- Lindas as cidades. Eu fico mais em Paris. Negócios. Quadros. Etc. – respondeu Aline.
Após uma tarde inteira, Aline se despediu, pois era hora de sair. Olga lhe convidou para um almoço em um restaurante da cidade no próximo domingo. Aline aceitou lembrando que tinha também um noivo. Ele deveria estar presente.
--- Não tem importância. Nós nos encontramos de bom grado. – disse Olga.
No domingo marcado, os quatro estavam no restaurante, onde o chefe oferecia o cardápio de Entrada com Carpaccio de pupunha, sopa de tomate com queijo e os Pratos principais com Fricassê de Vitela, Champion e cabolete, Risotto de Salmão e lingüiça italiana. De sobremesa tinham maçã, uvas passas e sorvete com mousseline de chocolate. Aquela foi uma verdadeira tarde de festas para os dois casais. Américo tecia conversa mais o noive de Aline, coisas que só interessava aos homens e Olga, ao riso, falava de encontros que elas duas tiveram tempos passados. De sua observação, Olga não deixava de notar o traje da amiga onde as transparências e rendas vinham com toda a força. Lingerie à mostra sob jaquetas faziam o ar sexy e romântica das roupas intima. As alfaiatarias fizeram das roupas estampadas, desenhos divertidos e acessórios bizarros uma inspiração do surrealismo. Os tons neutros eram misturados aos vibrantes e os acessórios foram chapéus, bolsas e sapatos de formas inusitadas.
Ao findar o almoço no Grande Chefe, o restaurante chique a metrópole, as duas se despediram com estima especial, acordando para um jantar a qualquer dia onde todos os quatros teriam a oportunidade de rever suas historias. Por fim, rumaram em seus veículos. No cruzamento da avenida, um choque. Olga nem ao menos notou. No dia seguinte, os jornais estamparam a morte de Aline e seu noivo em um acidente sem motivos. Esse caso tomou de choque a mulher que, em breves instantes, desfaleceu. Foi um caso sem grande repercussão na gigante cidade. Um acidente apenas. Duas mortes. E Olga entre lágrimas perdidas chorava por Aline.







Nenhum comentário: