terça-feira, 16 de março de 2010

LUZ DO SOL - 56

- DALIA -
- CONTO -

Era o mês de março, tempo quente, quase não ventava por esses lados do norte, gente a trabalhar, autos cheios fazendo o percurso da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Às 6 horas da noite, o tumulto era ainda maior, pois na cidade havia apenas duas saídas para o trabalho e para casa. Depois das 8 horas da noite, era maior a tranqüilidade no andar, pois os veículos não eram tanto assim como nos horários de costume de segunda-feira ao sábado. O domingo era calmo. Não raro, havia maior movimento em direção às praias, pois nesses locais havia maior burburinho de gente, na sua maioria, bêbados quando chegava o anoitecer. E nessas ocasiões, estava em seu apartamento a jovem Dália, olhando o movimento de gente e de carros bem longe dos que passavam indo ou voltando. Em seu lugar de descanso, Dália tinha o seu gabinete de trabalho onde fazia os seus afazeres cotidianos ou mesmo as suas refeições, assistir televisão ou apenas dormir quando o sono chegasse, por volta das onze horas da noite. Desse modo, vivia a moça fazendo seus afazeres diários quando não estava a conversar com alguém ao celular onde Dália passava horas e mais horas trocando idéias, ouvindo o que os amigos tinham a dizer ou, ao menos, falando com os seus pais, irmãos e irmãs.
Quase sempre aparecia em seu apartamento o seu amigo Gabriel, jovem rapaz de seus trinta anos, solteiro, pois nunca casara até aquela data. Caso ele tivesse alguma namorada, não falava em tal coisa. E muito menos Dália perguntava a Gabriel a esse respeito. As visitas de Gabriel eram apenas de amizade quando ambos falavam de negócios passados no tempo em que eram estudantes na Universidade onde eles freqüentavam o mesmo curso e por isso trocavam idéia do que estava certo ou errado em um projeto de arquitetura. Às vezes, Gabriel aproveitava o tempo para dormir em um amplo quarto de vistas enquanto Dália caminhava para os seus aposentes. Por um certo motivo que Dália não queria dizer o seu apartamento era bem amplo, cobrindo um andar inteiro como os outros apartamentos do mesmo estilo existentes no prédio de vinte andares. Ela ocupava o décimo terceiro andar, pois havia gente que habitava os andares mais a cima do seu.
As cartas do correio ficavam com a portaria e Dália solicitava quando chegassem para remetê-las para ela, coisa que nem precisava, pois o porteiro do prédio já sabia o que fazer e quando havia correspondência para a moça, ele mesmo as entregava a domicílio, caso todo especial que o porteiro fazia apenas para a jovem, pois o caso dos outros tantos inquilinos, tais correspondências ficavam sempre guardadas no próprio balcão de recepções. Em plena e tranquila noite de estio, alguém tocou a campainha de apartamento e Dália já havia sido comunicada pelo interfone se podia receber uma pessoa que não fazia parte de seu clã.
--- Quem é? – perguntou Dália.
O porteiro respondeu de forma de certo modo rápida.
--- Pode subir. – disse Dalva.
Quanto à sineta tocou, Dália já estava pronta para receber a tal visita. Era um jovem, também amigo de Universidade que achara de visitar a jovem em uma noite acalorada de domingo. A televisão que esteve ligada até àquela hora, Dália desligou. Portanto estava serena para ouvir o tinha a dizer o seu amigo Enoch, homem que se casara há pouco tempo com uma jovem de sua mesma religião, o judaísmo. Depois dos abraços e cumprimentos de costume, Enoch levantou uma história nada bem interessante. Sua esposa estava sofrendo de uma chamada Doença de Degos, muito rara por sinal. Tal enfermidade durava, para o enfermo, cerca de três anos, quando muito, podendo ser de apenas de um ano. A enfermidade atingia a pele, olhos, sistema nervoso central, sistema digestivo, cardiovascular e respiratório. A enfermidade na mulher de Enoch já atingira o movimento das pernas o que lhe causava o desequilíbrio. Ele não sabia o que fazer, pois o médico desenganara a paciente, ainda jovem por sinal.
--- É pedir a Deus que a console. – disse Dália.
--- Mas de onde vem essa doença? – perguntou Enoch.
--- Confesso que não sei. Não tenho a menor idéia. E nunca ouvira falar em tal moléstia. Podes crer. – respondeu Dália.
O homem caiu num choro profundo sem nada mais poder fazer para salvar a sua bela mulher que, por causa da enfermidade, já perdera todo o encanto. Ele soube que o mal era antigo e que somente em 1941 foi diagnosticado para ciência e para os que apresentavam os sintomas, no caso, era esperar de um a três anos de sobrevivência. Na medicina, havia pouca resposta para a origem da enfermidade. Era tudo que ele sabia a respeito da Doença de Degos, nome estranho por sinal e invariavelmente letal. Sua origem, nem os médicos da cidade sabiam dizer como se comportava. A mulher de Enoch era judia também como ele e seu casamento foi dentro dos preceitos judeus conforme manda a sua religião. Ele conheceu sua esposa e logo depois se casaram pondo o contrato conforme diz a lei judaica. Viviam felizes até certo dia em que a mulher se queixou de umas dores abdominais e, daí, veio o repentino desequilíbrio total da moléstia que logo se chamou de Doença de Degos. Sensível ao padecer de sua mulher, Enoch apenas chorava sentado no divã do apartamento de Dália.
A moça se compadeceu de Enoch e lhe pediu que a sua fé fosse mais forte do qualquer outra ocorrência. Por isso, ele não deveria chorar tanto.
--- Sabe Dália. Não é a fé. É a perda que me faz doer. – reclamou Enoch.
--- Eu sei disso. Mas não podemos fazer milagres. Só Deus é milagroso. Ele é quem pode fazer. Se Deus quiser, Ele pode. – recitou a jovem mulher.
--- Ajude-me Dália. Ajude-me. – pediu chorando Enoch, colando a sua cabeça ao ombro da bela mulher.
--- Eu te ajudo em minhas preces. É tudo que eu posso fazer. – respondeu a jovem.
Na rua, os carros passavam em célere correria, vindo da região das praias para o repouso noturno. As aves noturnas procuravam fazer o seu ninho em cima de uma árvore que havia além no matagal. Crianças brincavam lá embaixo no parque do edifício. As televisões estavam ligadas para se ouvir a contento as noticias do dia nos apartamentos visinhos. Em um bar não muito longe, havia prosa de bebedores que gargalhavam a seu bem querer. O mar batia calmo ao longe na beira da praia, trazendo o sossego para os eternos enamorados. Tudo era de pura felicidade para os notívagos pensadores do acaso. Dália rumou para a sua cozinha onde faria um chá para Enoch. Nesse instante, a sineta bateu na porta anunciando outro visitante. Era Gabriel que chegara àquela hora. Quando Dália abriu a porta ouviu de Gabriel a expressão de alarme.
--- Cuidado!!! – gritou Gabriel.
A moça voltou o olhar e viu Enoch pulando para o vazio pela ampla janela do seu apartartamento naquele momento, como se estivesse inocentando de vez a alguma pessoa qualquer coisa o que cometera.
--- Enoch!!! – gritou Dália.

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