sábado, 20 de março de 2010

LUZ DO SOL - 60

- CALMA NOITE -

- CONTO -
Naquela noite calma estava Amanda enciumada com seu amante, por isso mesmo, bebendo igual uma louca pensando no que poderia fazer quando Heitor chegasse para apenas dormir. A mulher ainda jovem tinha cerca de trinta anos e estava neste desamor há algum tempo desde que o seu amante se meteu com as damas da noite de outros bordeis. Na verdade, o que ela sentia era o desprazer por parte do seu homem. Os dois, no seu começo de vida, estiveram plenos de felicidade, onde a praia era o principal desfrutar do amor eterno. Porém tal fato já fazia anos. Amanda, como todas as outras mulheres que freqüentavam o bordel já bebia naqueles idos tempos. Depois veio um período de alegria onde os dois amantes eram puro amor sem nem mais beber como antes. Contudo, tal estágio da vida durou pouco. Notadamente Amanda trazia o seu copo de bebida às escondidas de Heitor para poder delibar quando o homem não estivesse em casa, um apartamento que tinha a frente para o mar, logo no recanto aprazível da cidade. Dos apartamentos vizinhos se ouvia o clamor da gente moradora a teimar sobre qualquer assunto no decorrer do dia ou da noite. Crianças aos berros, jovens em discussão, adultos em desespero. Todo isso levava a Amanda a se recolher de forma que deixasse de ouvir tais más criações dos vizinhos. Com o tempo passando, ela voltou novamente ao bordel onde tudo se ajeitava com um gole de uísque.
Em torno do bar havia os que a consideravam, pois sabiam que Amanda não era de sair com mais ninguém. Outros, porém, desconhecidos até, cortejavam a dama na tentativa de um pouco de amor fugaz. Em tais casos, Amanda dava de imediato o fora e ficava quieta em seu ninho de solidão. Quando estava já por meia noite, o sono lhe aplacava e Amanda findava por dormir, deixando o copo cair sobre o seu vestido. Com as vestes desabotoadas, ornamentos de ouro a lhe enfeitar os braços, relógios e anéis pouco importava para a soberana mulher que desejava apenas o seu homem. Na banqueta ao lado, ficavam as chaves do quarto de bordel e outros adornos que Amanda sempre deixava permanecer por todo o tempo que lhe soasse. No seu intimo quarto de bordel, de tudo Amanda incluía ao seu bem estar. Porém, nada do que se expunha continha alguma importância para a mulher. O homem que lhe fazia falta, esse estava perambulando por outros lupanares nos braços de mais alguém.
Ao dormir no salão do bar, a figura de Amanda deixava notar que a mulher já perdera todo o seu viço e seu homem talvez não a quisesse jamais, tal o motivo de estar tão desencantada de seu majestoso caráter que sempre teve. O seu luxuoso apartamento continuava fechado para a estranheza dos seus vizinhos. E ela não se importava com tal ocorrência. No bar do bordel por menos luxuoso que fosse ali era o seu lugar. Quando ainda era uma jovem bem moça, ela encontrou nos alcoices o seu verdadeiro e agradável lar, pois foi ali que ela teve as amizades mais sinceras que poderia conter. Com isso, Amanda encontrou também o seu amado Heitor. Eles viveram dias de gloria com festas regadas a caviar e uísque em seu apartamento a beira mar. Logo depois veio o declínio. Heitor se aproximou de outras mulheres, como era o seu jeito de ser e vagou para longe ao desprazer de sua amada.
Naquela noite cruel, Amanda agarrou no sono tendo sido levada para o seu quarto por uma camareira que fazia a vez de socorro da fêmea doida por causa do afeto perdido. Foi quando entrou em seu quarto daquele exuberante lupanar, que a camareira notou um movimento grosseiro por sob as cobertas do velho leito. Ali estavam Heitor e outra mulher a se agasalhar como seres perdidos em uma noite sem luar fazendo da alcova o seu bem estar de majestoso prazer. O homem foi tomado de surpresa com a entrada da camareira arrastando Amanda àquela hora da madrugada. Então, sem nenhum acanhamento, perguntou a mulher:
--- Que estás fazendo aqui dentro? – vociferou o homem.
--- Trazendo Amanda que estava a dormir na saleta do bar. – rebateu a mulher.
--- Não tem outro canto para levar? – indagou o homem inquieto e completamente despido procurando se arranjar de qualquer modo.
--- Esse é o quarto dela! – replicou a camareira um tanto desaforada.
--- Ora merda! Vou pra outro quarto. – articulou Heitor ao se levantar com uma das mulheres do lupanar.
--- Espere. O senhor vai por na cama a dona do quarto! – predisse a camareira já um tanto aborrecida.
--- EU? – indagou Heitor.
--- O senhor sim! Quem come paga! Unf !!! – reclamou a camareira agora desaforada.
Depois de tais altercações, Heitor pôs Amanda no leito já um tanto desarrumado por estar sendo usado por longas horas pelo amante da mulher que dormia a sono solto por conta da forte bebida que havia ingerido. Quase inteiro despido, enrolado apenas com o lençol da cama, Heitor fez de tudo para deixar Amanda a dormir. A outra dama da noite que esteve com ele até àquela hora, escapou bem que depressa. Ela não desejava ser aborrecida pela camareira. Envolta em uma toalha de felpo correu pelo corredor da casa até encontrar um quarto desocupado onde pudesse se agasalhar. Em poucos instantes, Heitor também chegou para continuar com os seus encantos que de antes fora interrompidos.
Logo pela manhã, por volta das nove horas, Amanda acordou de seu sono eterno e aos poucos foi tomando conhecimento do lugar em que estava posta a dormir. Ela olhou em volta e viu, entre outros objetos, a gravata de Heitor, um sinal de que ele esteve ali a certas horas da noite. De vagar, perambulando, cambaleando entre os moveis do ambiente, Amanda chegou até a porta do seu quarto de alcova, olhou em torno e não viu ninguém. Mesmo assim, caminhou tropeçando ao longo do corredor, procurando outro quarto onde pudesse estar à velha camareira e perguntar por Heitor. Em um dos últimos aposentos, ela abriu e viu aquela montanha de corpos desnudos a dormir a sono solto. Amanda abriu e fechou os olhos para entender o que estava vendo afinal. Por fim, notou a presença do seu bem amado homem que estava ali a dormir em companhia de outra dama. Ela resolveu sair quando notou uma espátula sob a lareira. Amanda teve uma idéia. Foi até a lareira, pegou a espátula e fincou no peito do seu amado homem. Este se levantou pela dor que lhe causara tal instrumento de corte e olhou em torno do ferimento que jorrava sangue aos borbotões. Heitor teve tempo apenas de soltar o grito e dizer em seguida:
--- Estou ferido de morte, Amanda. – proferiu Heitor.Depois caiu nos estertores da morte. Foi esse o fim do encantado amante de Amanda.


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