quarta-feira, 10 de março de 2010

LUZ DO SOL - 50

- DOCE JUVENTUDE -
- CONTO -
Samara teve tudo para se tornar feliz. Desde cedo de tenra idade, era ela a ouvinte e confidente para as suas amigas. Samara não precisava de qualquer coisa, como até dinheiro para poder ouvir e falar dos segredos íntimos das que se punham a margem da amargura. Em casos de amor e de afetividade, era Samara que todas as garotas buscavam ouvir. Atraente, jovem e bela era assim a linda mulher. Seus cabelos louros e longos formavam uma silhueta de adornada fêmea. Olhos escuros como negros, miúdos como sementes de amêndoas, nariz afilado e boca carnuda e perfeita era tudo que encimava a jovem virgem de amor perfeito. Quando, às vezes uma ninfa lhe chegava chorando por causa de um amor que se foi ela era a companheira. De porte esguio, seios belos, braços de fluidez abrasadora era tudo que se podia crer em uma macia jovem como existia em Samara, a esplêndida jovem adulta. A juventude que lhe imprimia o sentido, era tanto como o poder de sedução que existia nas lindas e belas jovens de alcovas. Samara tinha o alcance de atrair os mais nobres senhores que à noite a procuravam para os seus sentidos medrosos aplacar longe do lar que julgavam não ter direito de lhe amparar como nos braços da jovem dama.
Doce, virgem e calma, assim era a nobre mulher que a todos arrolava como meigas e angelicais crianças do seio materno. A pureza d’alma que Samara possuía era como o afago de afetuosa dama das noites sombrias do abrigo. Certa vez em uma noite de verão aquecido, o cabaré estava todo em alvoroço com as demais damas buscando seu amado e lhe oferecendo doce, carinhoso e imaculado amor quando não se sabe ao certo, alguém conchegou a jovem cativa como se fosse um pêndulo caído em cima de uma mesa de bar. Samara não lhe deu a importância que de fato merecia. Foi então que, por mais uma vez o jovem senhor puxou para si aquela figura ardente como se fora algo sem sentido. Samara então se fez rogada. Porém, teve um tempo em que ela se tornou precavida quando o homem a queria possuir em plena sala de baile. Ela se desvencilhou dos braços que a prendiam como uma fera ferida.
Ao dar-lhe as costas, o homem a segurou de novo querendo a todo custo fazer amor no pleno salão. As jovens companheiras de alcova que estavam por perto e os homens que lhe davam a segurança acudiram Samara, amparando-a de qualquer forma e segurando o jovem homem, já um tanto embriagado, retirando do salão para longe a juvenil mulher.
--- Me solta. Me solta. Me solta. – gritava o homem, enfurecido de ódio.
--- Calma Samara. Esta tudo bem. Calma. Deixa ele pra lá – dizia outra jovem a acudir Samara a qualquer custo.
A confusão se abateu célere sobre todo o salão com todos os que estavam presentes gritando, bradando, vociferando a qualquer custo contra o homem.
--- Deixa ela. Deixa ela. Deixa ela. – gritavam as mulheres de alcova.
Outras sorriam, com a algazarra que se formou em plena luz da noite. Mais pelo ímpeto da bebida que latejava em suas cabeças, empolgadas pelos seus amantes que as teciam para si, enquanto as demais mulheres largavam de seus parceiros notívagos para defender Samara do seu algoz. Com tanto desespero envolto sobre si, Samara obedeceu aos conselhos das suas amigas e dos próprios seguranças e tomou lugar em sua alcova, não recebendo visita de mais ninguém, a não ser das próprias amigas de cabaré que lhe acudiam a todo instante.
--- Você está bem? – perguntava uma mulher.
--- Sim. Estou. – respondia Samara, chorando.
--- Não vá chorar. Deixa que os guardas tomam conta do cara. – dizia a mulher.
--- Eu não tenho culpa. Ele foi que se atreveu. Foi isso. – dizia Samara.
--- Tudo bem. Não tem importância. Ela foi posto para fora. – dizia a mulher.
Mas Samara não se continha e começou a chorar intensamente como se algo estivesse a cair sobre seu corpo. Nunca alguém em algum lugar fizera tal façanha com a jovem e ela nem pensava que isso fosse acontecer por mais história que ouvira a respeito de salão de bar. Não raro, tinham historia que se contavam a respeito de tais assuntos em cabarés de última categoria. Talvez isso fosse comum por esses locais. Não seria cabível de se encontrar casos de tal natureza em locais de primaz requinte como o que ela estava a freqüentar naquele tempo. Contudo, pela vez primeira ou não, por um cabaré de alto luxo como que Samara estava a fazer salão naquela noite de verão, ou não, o fato é que acontecera. E foi justamente com a jovem mulher.
O tempo foi passando e Samara ouvindo os gritinhos das lindas amigas procurando ser a sedução de seus amantes companheiros de alcova, a gargalhada dos homens que as alegres damas os acompanhavam para o templo das ilusões. Isso era tudo o que ouvia. O mesmo acontecimento de costume de todas as noites. Mesmo assim a jovem deixou de lado aquela tumultuosa confusão das noites alegres do cabaré e procurou dormir sem nem sequer ter o apurado do dia que se apresentava ser tão promissor.
Em um derradeiro instante, a porta do quarto se abriu quando tudo era sossego no restante do augusto lupanar. O relógio de cabeceira marcava dez para as quatro da manhã. Samara estava dormindo e continuou a dormir sossegada. Dentro da alcova, estava o homem. Apontou a sua arma e deflagrou três tiros no peito da jovem que teve tempo de acordar e dar um só grito.
--- Ai! – gritou Samara.
E de imediato caiu morta na cama. A bala transfixou o coração da mulher causando-lhe morte instantânea. Com o grito de Samara, a gerente do estabelecimento que ainda estava acordada, cuidando do café da manhã para os notívagos que estavam a dormir na sua alcova dos prazeres, pulou fora, abrindo a porta de onde ela estava e vendo o homem passar a carreira. Dois outros seguranças abriram a porta de seus quartos e já não viram nada. A mulher gritou:
--- Por aqui! Ele já está descendo! Vamos! Eu vou ver o que se deu! – disse a mulher gerente, apavorada.
A gerente saiu da cozinha e caminhou as pressas para os quartos vizinhos e encontrou o de Samara total e completamente aberto. A jovem estava ensangüentada em cima do peito. Outras mulheres chegaram as pressas ao local. Cada qual com o seu ar de espanto.
--- O que foi? – perguntou uma das quais.
--- O que houve? – perguntou outra.
--- Ai meu Deus. Está ferida? – a voz de uma terceira jovem que em seguida desmaiou.
A mulher gerente chegou até a cabeceira da augusta cama de alcova onde Samara estava inerte, ensangüentada, cara pálida, roupas prontas para quem saíra para dormir. Na alcova, quatros véus brancos encimava o seu recinto. Ao largo, uns dois alcochoados de veludo formavam as cadeiras que se encontravam ao seu modo. Um piano de cor amarela, um sofá aveludado de cores mortas. E mais uns quadros de musas desnudas. Quatro mesas no recinto com suas bem ornadas cadeiras. Ao longe, outro sofá com suas almofadas de veludo parecendo um céu escuro. Lâmpadas acesas com uma tênue luz. Alguns outros ornamentos e a cama de casal com o corpo da dama sem vida.
--- Está morta. – disse a gerente do bordel.
--- Chamem a policia. – gritou uma das damas.
Do outro lado da rua, a correria. Um tiro mortal. Um homem caído no chão. Um grito parado no ar. A morte acidental do homem que acabara de matar a jovem dama pondo fim a sua doce eterna juventude. Tudo acabado afinal. Os dois guardas que se aproximaram do corpo apenas disseram:
--- Está morto. Que cara! Como pode uma morte assim? – perguntou um guarda-costas aturdido.
--- Vamos avisar a gerente e fugir daqui. – disse o outro.

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