sexta-feira, 5 de março de 2010

LUZ DO SOL - 45

- YOLANDA -
- CONTO -

Eram doze horas do dia e a redação já não tinha quase ninguém. Apenas Flaubert estava em seu birô na redação de rádio. Este era um local totalmente fechado, com uma entrada e saída, além disso, outra porta que dava para o setor de revisão. Àquela hora não tinha ninguém no setor de revisão. Apenas janelas com vidraças permitiam ver o que se passava no restante da redação de jornal, local mais distante da redação de radio. Na redação do jornal estava apenas um rapaz batendo máquina, pois a matéria que ele trazia chegara um pouco com atraso ás suas mãos. Para melhor efeito, Flaubert desligou o sistema de luz da sala de revisão, ficando aceso apenas o de rádio-jornalismo. Era tudo calmo, pois o “velho” tinha saído àquela hora. O velho era o Sr. Abdias, carrancudo, não falava com qualquer um, andava de cabeça baixa como se pensado. Ele era o dono do jornal e da rádio, por conseguinte. Yolanda chegou por volta desse horário, pois seu serviço iniciava às 13 horas. Então, os dois namorados, Flaubert e Yolanda, aproveitavam esse escasso tempo de hora para aproveitar o período e ali fazerem o que era bem apropriado. O dia estava sem chuva e Yolanda reclamava do sol quente que apanhara na rua ao vir para a redação da rádio. Esse ensejo não afetou em nada Flaubert, pois ele acostumara-se com o sol do meio dia e além do mais, onde Flaubert estava até que fazia frio, pois o ar condicionado estava ligado e a temperatura chegava aos 17 graus Cº, certamente.
--- Que calor que nada. Tá fazendo é frio nesse ar. – rematou Flaubert.
--- Prá você, que está aqui. – disse Yolanda, com um meigo sorriso nos lábios.
--- Foi à aula? – perguntou Flaubert, enquanto ajeitava o gravador ficando de costas, levemente arqueado em direção a Yolanda.
--- Terminou agora. Quer dizer, 11,30. – respondeu Yolanda com simplicidade.
--- Foi fácil? – voltou a perguntar Flaubert.
--- Teve uma questão meio difícil. – objetou a moça.
--- Normal. – concluiu Flaubert, deixando o gravador parado e se voltando para a moça.
--- Você está gravando? – perguntou Yolanda.
--- Enquanto esperava você. – disse Flaubert.
--- Eu sei. Você é muito “engraçado”. - respondeu Yolanda com seu sorriso meigo.
E o rapaz nem se importou com a resposta. Aproveitando o calor que a moça sentia, foi para cima para fazer agrados sensuais, coisa bem normal entre os dois. Beijou-a freneticamente ao ponto de Yolanda reclamar por estar suada por conta do sol quente que tomara. O rapaz não levou em consideração os reclamos de Yolanda e a beijou com arrebatamento igual a tudo que estava em seu começo.
Porém, Flaubert conhecia Yolanda quando ainda eram meninos. Nesse tempo, Yolanda era uma garota de seus 8 anos e Flaubert um pouco mais velho, com os seus 10 anos de idade. Era o tempo dos devaneios, de sonhos fáceis, de brincadeira de roda onde os dois e mais algumas colegas da casa da esquina onde eles moravam, viviam a fazer tais brincadeiras como o “Cai e Fica”, coisa bem comum nos seus tempos de infância. Para bem dizer, Yolanda morava na casa vizinha a de Flaubert. Os dois sempre estudaram no mesmo colégio desde o princípio. Veio o segundo grau, e lá estavam eles no mesmo colégio. Depois, a Universidade. Ambos fizeram o mesmo curso de Jornalismo. Quando começaram a trabalhar, foi no mesmo jornal, sendo que Flaubert fazia Rádio-Jornal e Yolanda, fotografia. Assim, de namoro, os dois vinham de longo tempo.
Na redação da Radio, Flaubert segurou Yolanda sem pudor e ali fizeram com meiguice e afeto a tão demorada ternura de suas vidas. Na cabeça de Flaubert passavam cenas de uma praia desertas onde os dois namorados sempre costumavam ir aos sábados à tarde. O lugar ermo, não tinha ninguém, ficando longe do centro da cidade. Apenas um Forte se avistava ao longe quando alguém se aventurava ir para pescar no tempo de maré alta. Foram tempos de glória aqueles em que os dois imberbes namorados estiveram metidos por lá. Quando o sol já descambava no horizonte, eles temendo a escuridão, voltavam para as suas casas, agarradinhos e descuidados. Por aqueles recantos, os dois fizeram amor como jamais pensaram em suas vidas. Nesse tempo, Yolanda já estava com seus 12 anos. O tempo passou e os dois amantes continuaram a procurar recantos escondidos como os da mata do morro para fazer o seu amor. Nesses recantos escondidos os namorados de amaram com ternura. No tempo do Colégio, eram os banheiros impuros que davam guarida. Na Universidade, igualmente os banheiros ou a mata ao lado do Campus. Quanto eles terminaram o curso superior, foram então a um motel, desgarrando-se assim dos velhos e inseparáveis amigos fraternos que tinham deixado ao arrebol. E no quarto de motel, fizeram amor a todo preço.
Quando estavam na redação, sozinhos, sem ninguém a incomodar, com apenas o reporte lá no fundo da redação, os dois se amaram como loucos em plena escuridão do quarto, pois Flaubert desligara a lâmpada que alumiava o recinto para que ninguém notasse que havia gente naquele local. Até a porta, o rapaz fechou a chave e pôs o trinco também fechado. O mundo era só um. O deles. Amassando-se por toda a parte, as calças caídas até ao chão e da moça, o vestido soerguido, era enfim um imenso amor de suas vidas. Nada podia impedir o tão grande apego dos dois namorados naquela ânsia do prazer. Abraçados, apertados nos braços um do outro eles gemiam de ardor e de terna candura para satisfazer os seus desejos. Delirante de apego Flaubert só fazia dizer:
--- Te quero. Te quero tanto. – dizia o rapaz.
--- Faça. Faça mais meu lindo. Assim. – respondia Yolanda
Naquela tarde de primavera, os dois amantes apenas queriam viver amplos os sonhos para depois morrer de plena ânsia de idolatria, perdidos de encantos. Juras de amor eles deixaram cair da amplidão dos seus desejos. A tarde que chegava se mostrava mais linda como um véu de brancas afeições. O silencio das máquinas deixavam-lhes envoltos em segredos do cômodo anseio. Era o tempo da eterna juventude que ainda ali aos dois fazia sucumbir os seus temores de terminar tão breve os seus encantos. Ao findar o ato, mesmo em pé, escorados na divisória de madeira, ela, Yolanda, molhada de suor, os seios de plena brancura mostrando-lhes ao tempo, o cabelo solto ao léu, nariz transpirando, boca imersa de prazer, coxas de branca candura igual a um eterno esplendor da natureza fez cair por cima de um birô enquanto Flaubert puxava as suas calças do mesmo modo em que beijava sua dama de doce encanto. Era o fim daquele ato de jovens e delicados enamorados.

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