segunda-feira, 29 de março de 2010

LUZ DO SOL - 69

- EUNICE -
- CONTO -
Sempre que Eunice se lembra do seu velho pai sente um remorso no coração por causa de não ter podido estar presente aos últimos momentos de agonia. Para ela, o seu pai era o ícone de todas as criaturas vivas presentes neste mundo. Lembra-se Eunice de quando ainda era criança de seus oito anos, tinha no seu pai aquele cavalete quando queria assistir aos desfiles dos soldados que aconteciam sempre no Dia da Intendência do País. Montada na garupa do então novo pai – e ela não sabia nem que idade ele estava – olhava com emoção os soldados montados em seus cavalos ou mesmo a pé, os tanques de guerra maravilhosos por demais e por fim os aviões que passavam no céu de sua praça envolvendo a todos os que estavam a assistir o desfile. Ela, agarrada na cabeça de seu pai nem imaginava que outras coisas tivessem. Após o desfile da Independência sempre havia um picolé para distrair o seu paladar de menina. Com Eunice também estava a sua estimada mãe. A boa e fiel mulher comentava sobre a Independência com o seu marido no seu caminho de casa.
Era assim aquele Dia da Independência. À tarde, em conversa com as suas amigas das casas próximas Eunice tinha a dizer:
--- Eu vi o desfile! – falava Eunice procurado chamar a atenção das suas amigas.
--- Eu também vi. – respondia a amiguinha.
--- Eu estava na garupa de meu pai. – discorria a menina.
--- Eu estava em cima do muro. – dizia a amiga.
Por ai seguia a conversas das amiginhas de Eunice, ainda cheia de motivo orgulho para conversar por horas a fio. Aqueles eram dias de glória para a infante sapeca cujo passado ela estava sempre a recordar como se fosse um caso ocorrido no dia anterior. Outras passagens de sua infância, Eunice recordava muito bem. Tais lembranças se prendiam aos domingos pela manhã logo cedo, quando com o seu pai e sua mãe, Eunice seguia para a praia onde tomava banho de mar em um canto raso, pois sua mãe sempre a advertia que o mar era bastante perigoso para se entrar de peito aberto. E a menina não se conformava com isso voltando a mostrar:
--- Olha aqueles moços, mamãe! – dizia a menina insinuando que havia gente a nadar bem longe da praia.
--- Aqueles são rapazes. Você é menina. Pronto! – respondia a sua doce mãe de forma serena e pacata.
--- E papai não vai La dentro? – perguntava a menina.
--- Isso é seu pai. Ele é grande. Pode ir lá no fundo. – contestava a mulher.
--- Só eu que não posso ir? – perguntava a menina.
--- Têm outras também que não podem. Elas brincam da areia. Veja ali. – mostrava a sua mãe outras garotinhas que estavam a brincar de fazer castelo de areia.
--- Droga. Então eu vou fazer castelo. – dizia um pouco ofendia Eunice querendo ser adulto para poder tomar banho de mar mais no fundo do oceano.
Quando o seu pai voltava do banho de mar, logo perguntava a sua filha dileta.
--- Que está havendo? - perguntava o pai se esfregando na toalha que estava próxima.
--- Não sou adulto. Só posso fazer castelo. – respondia amenina.
--- E por que essa cara amuada, heim? – voltava a perguntar seu pai.
--- Porque não posso ir aonde o senhor vai. – respondia Eunice com a cara de choro.
Então o homem arrastava a menina para ir com ele no mar aberto mostrando que ela podia tomar banho desde que fosse à companhia de uma pessoa adulta, como seu pai. E a menina de engasgava com a água salgada do mar, os olhos ardiam também de tanto sal que lhe consumiam a vista. Enfim Eunice começava aprender a nadar diante do olhar inquieto de sua mãe que naquele momento estava com o marido a tomar banho de mar. No local de banho, havia pedras em diversos locais onde as pessoas procuravam distancia com temor de se furar naqueles arrecifes pontiagudos e de letal influência para os de menos conhecimentos.
--- Cuidado, minha filha, com as caravelas! Elas queimam – falava a sua mãe.
E a menina batia na água como se fosse nadando, segurada por seu pai, pondo a criança sempre acima das ondas perigosas do mar. Se a maré estivesse enchendo, havia um maior perigo pôs seu pai conduzia a filha com maior proteção diante das ondas gigantes ameaçando aqueles que estavam na parte mais difícil do mar aberto. A mãe da menina procurava entrar sair para a beira da praia chamando o marido para que não deixasse a filhar sozinha no mar.
Diante de tal apelo, o seu marido atendia prontamente e a seguir, já na margem, mostrou a menina como era difícil se tomar banho sozinho em um mar revolto. Eunice ouvia o que tinha de ouvir, mas em contrapartida dizia muito alegre e com os olhos vermelhos de tanto sal:
--- Foi bom! – respondia alegre Eunice enquanto a sua mãe lhe enxugava por completo
Diante de tal afirmação, seu pai se deitava na areia já aquecida da praia e contemplava a filha ampla de regozijo por ter entrado no mar, coisa que outras crianças não faziam porque não tinham seus pais ou gente grande para sustentar o seu corpo diante do mar cruel. Com pouco de tempo, um vendedor de sorvete passava oferecendo os seus produtos e seu pai comprava três copinhos de abacaxi e então se deleitava a tomar o suco daquela espécie de frutas que deixava a menina animada como se não houvesse coisa mais gostosa no mundo.
--- É bom! – falava a menina Eunice.
--- Quer mais? – perguntava seu pai.
--- Quero, sim! – falava Eunice.
Mais um copinho. E a menina estava satisfeita. A família procurava uma sombra para se acomodar e logo em seguida voltavam todos os três para as suas casas, depois do alto do local da praia, onde o Bonde fazia parada do fim da linha.
Coisas de lembranças de Eunice que àquela hora já não poderia mais conversa, contar histórias, fazer perguntas, delirar aos eternos encantos de quem nutria sempre a maior atenção. Bem longe de onde esteve o seu pai, Eunice só apenas lembrava-se das histórias infantis com quem viveu os seus mais belos tempos.

Nenhum comentário: