domingo, 19 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 25 -

- Snejana Onopkq -
- 25 -
No domingo manhã antes das dez horas Honório chegou à residência de Ângela, passou pelo portão da frente e bateu palmas junto à porta. Parecia até que a moça já estava pronta ao pé da porta, pois ao bater palmas à porta se abriu e a meiga e atraente figura da garota estava pronta para sair. Ela beijou suavemente o rapaz e falou de momento estar só à espera dele para sair à festa de posse do novo presidente do Clube Lagunas. Por seu lado, Honório agradeceu a presteza pela acolhida, porém replicou que antes de sir de sua casa, ela teria de chamar a sua mãe para ele formular o pedido de casamento, de forma oficial. A moça fez uma careta, mas não tardou em chamar a sua mãe para oficializar o noivado. Ângela de há muito vinha com esse mesmo propósito, porém Honório somente se decidia por querer namorar a sua irmã Adélia. Ao que parece, o rapaz não viu futuro algum nesse namoro, entendeu ser o melhor a poder fazer noivar com Ângela. Afinal ele já havia seduzido a moça. Não que isso lhe importasse. Contudo, se a donzela achasse de abrir a boca e falar o que se passou entre os dois, ele então era o mais prejudicado, certamente. No dia anterior, Honório já dissera a Ângela o seu desejo de os dois casarem. Foi um caso repentino e a moça foi tomada de surpresa, levando em consideração o caso de não passar de uma brincadeira. Então, naquela hora de domingo, Honório teria a oportunidade de mostrar não estar brincando de forma alguma com a garota. E foi o que fez. Quando dona Almira surgiu, o rapaz sem muita conversa foi ao termo. Disse-lhe que estava enamorado da sua filha.

--- Então o que tem a dizer a senhora? – falou o rapaz.

--- Bem. Ela já havia falado da sua decisão. Se for do gosto de ambos, eu concordo. - respondeu a mulher por seu lado com a cabeça pendida para frente e ligeiramente torcida para um lado.

A mulher, dona Almira quase chorou pela emoção de conceder a filha em noivado. Ao que parecia, ela mesma chorava por dentro vendo a filha, qualquer dia ou momento, trajando vestido branco de seda, subir ao altar da Santa Madre Igreja de Nossa Senhora. Em instante a mulher soluçou e enxugou as lágrimas. A filha, Ângela, voltou-se para a mãe e lhe fez afagos ao proferir que a mãe não precisava ficar do jeito que estava. Era apenas um noivado. Quem sabe, depois um casamento. Ninguém morreria por uma causa tão simples. A moça Ângela, ajoelhada aos pés de sua mãe apenas proferiu com total delicadeza:

--- Não precisa ficar assim, minha mãe. Tudo isso é pura normalidade. – contestou Ângela a sua pobre mãe.

--- Bem. Falta agora o anel de noivado! – respondeu eufórico Honório.

E retirou de uma caixinha de música onde alguma vez conteve jóia o anel de brilhantes com a pedra de safira da cor de ametista que representava justiça, cuidados humanos, ingenuidade, verdade, grandeza, sabedoria e amor. Com essas palavras Honório depositou no dedo anular de sua noiva a pedra preciosa de cor púrpura encimando um anel de ouro. Dessa vez quem chorou foi à moça, com seu orgulho de poder sentir a verdade de ser noiva. Ângela se abraçou com tenaz afeto o homem que ela tanto amor teve para dar. E, em seu abraço incontido de precioso afeto Ângela se pós a chorar. Nessa altura, chorava dona Almira, a mãe da noiva e a própria noiva maravilhada em poder mostrar o anel de brilhantes a todos quantos queriam depois cumprimentá-la.

Ao passar dos momentos afetuosos, Honório se pôs a luta, pois chegaria com atraso ao inicio da solenidade de posse do Presidente Ernani Salgado o qual tomaria o destino do Esporte Clube Lagunas. Ambos se despediram de dona Almira enquanto essa pensava o que seria de Adélia ao saber de toda aquela história.

Às dez horas da manhã começou a solenidade de transmissão do cargo de presidente do Clube Lagunas. Como não havia o deposto presidente, a festividade foi assumida pelo cidadão mais idoso do Clube. Houve a formalidade de sempre, com Ernani Ganso Frito sentado ao lado de Honório Dumaresq, esperando a vez de ser empossado Presidente. A mesa era ampla com todos os diretores da velha guarda presentes. Na cabeceira da mesa estava sentada a jovem Ângela Emereciano a qual não cabia de contentamento, expondo o seu anel de noivado a todos os que estavam ao seu redor. Quanto orgulho a moça sentira naquele momento onde todos ouviam as palavras do Secretario lento a ata de transmissão de posse para o recente eleito presidente. Um circunstante estava presente junto a Ângela e lhe dirigiu a palavra ao perguntar se ela também fazia parte da diretoria do Clube. Ela olhou para o circunstante e falou apenas que era a noiva de um dos presentes. E mostrou-lhe o anel de safira tecendo o dedo anular direito.

--- Ah, Sim. Eu pensei que era apenas só homem na solenidade. – reclamou o desconhecido.

--- O senhor é míope? – perguntou Ângela.

--- Não. Por quê? – indagou surpreso o desconhecido cheio de mãos pelas mãos, pois era assim que o homem fazia ao torcer as próprias mãos com sua barriga de elefante.

--- Têm senhoras presentes também aqui. Se olhar direito, verá. – rompeu a noiva.

--- Ah sim. Bem que tem. – quis sorrir o desafeto.

Nesse momento, Sandoval Marinho, o popular “Maneco” se aproximou do homem e com toda fúria lhe disse que ele estava sobrando na festa. Era melhor ele sair dali, pois a moça era noiva do diretor de esporte.

--- Cai fora energúmeno! – falou com raiva Maneco.

--- Desculpe. É melhor sair mesmo. Desculpe! – relatou o barrigudo e baixinho para o seu rival Maneco.

Ao sair o barrigudo, Maneco tratou de amenizar a situação para a moça, pois já estava com muita raiva do homem por suas perguntas descabidas. E falou a Ângela ser aquilo bem comum em um clube quer de esporte quer social. Ou qualquer outra entidade. Então ele começou a conversar baixinho com a noiva de Honório como quem não quisesse se intrometer assim, de vez, em assuntos particulares.

--- A senhorita não se apresentou! Quer dizer: não sei o seu nome! – falou Maneco desatento

--- Ah, Foi mesmo. Não disse! – Ângela fez de conta que não se lembrava em dizer.

--- E? – perguntou Maneco.

--- E o que? – quis saber Ângela de modo a sorrir.

--- Nome! – perguntou Maneco ensimesmado.

--- Ah. Nome! Sabe que não me lembro? – sorriu Ângela com ar irônico.

--- Ah. Isso acontece. A gente esquecer o próprio nome. – sorriu Maneco.

--- Pois é! Sabe? Não sei o seu também! – relatou Ângela com seu sorriso irônico.

--- Maneco! Os que me conhecem me chamam assim! – sorriu Maneco ao dizer seu nome.

--- Mas eu juro que esqueci o meu. Pode me chamar da noiva do homem que come sapo! – sorriu Ângela ao falar com Maneco.

--- Come o que? – indagou apavorado o homem.

--- Sapo! Ele como sapo! Vivo! Ele é maçon. Comedor de sapo. – sorriu a noiva de Honório

--- Nossa!!! Comer sapo? Essa eu nunca vi. Sei que maçon pega bodes. Mas sapo? Triste de mim que fui convidado para ser maçon. – lamentou Maneco com olhos tristes.

--- É. E dança. Em roda do sapo. Eu vejo isso. Toda noite ele come um sapo vivo e cru. Desses grandalhões. Cururu Tei Tei. É. – sorriu a noiva ao pegar o home que pretendia ser maçon.

--- Ave Maria! Sapo vivo! Eca. – fez o comentarista ao querer vomitar tudo que havia comido.

--- E cru. Quando eles vão para as sessões, cada um leva um sapo! – sorriu Ângela.

--- Não. Pare com isso. Eu vou vomitar! – saiu correndo Maneco para o banheiro.

Nesse ponto o secretário acabou de ler a ata e passou ao presidente dos trabalhos para assinar na frente de dois observadores. Em seguida, o presidente interino vez a vez de chamar o presidente eleito para assumir os trabalhos. Ernani se arrumou e seguiu para o centro da mesa onde prestou o juramento. Como ele não sabia dizer todo que prometia, apenas acompanhou o presidente interino no que ele disse e ao final apenas jurou:

--- Eu Juro! – estava terminada a solenidade de posse.

Em seguida vieram os discursos de boas vindas terminado com as palavras do novo presidente, o qual dizia que no juramento estava embutido tudo o que um presidente devia fazer para seguir o seu mandato e não apenas um juramento formal. Ele sabia muito bem que nem tudo poderia oferecer aos amigos e, talvez, inimigos. Pois, daquela hora em diante não haveria mais inimigos, porque todos eram irmãos. E como irmãos teriam de trabalhar unidos e juntos para o melhor do esporte do seu Estado e, por conseguinte, da gloriosa nação de todas as cores. Tendo dito isso, Ernani Salgado agradeceu aos presentes e os convidou naquele momento para o saboroso repasto de todos.

--- Viva! Ganso Frito! – gritavam os torcedores do clube azulão.

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