terça-feira, 7 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 13 -

- Lucille Ball -
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Quando Honório chegou ao seu escritório, o dono, Dumaresk já estava no seu local de trabalho passando as vistas em documentos importantes para ele. O sobrinho disse apena ter chegado atrasado por motivos particulares. O homem ouviu sem tirar a vista dos papeis. Pigarreou e cuspiu para dentro de um cesto e não disse coisa alguma. O homem Miguel que tomava conta de todo o conjunto, pois ele era também o porteiro, foi quem falou a Honório.

--- Uma moça telefonou para o senhor. – relatou Miguel a meia voz.

---Disse o nome? – indagou surpreso, o rapaz.

--- Disse. Mas não me lembro bem. Está anotado o telefone dela. – respondeu Miguel.

--- Ah. Deixa-me ver. Hum. Não seria da minha casa? – perguntou Honório.

--- Não. Parece que a moça falou em uma repartição. – falou Miguel.

--- Repartição? Não temos nenhum pedido para atender em repartição! – observou Honório

--- O senhor liga para a repartição. E logo informam. – respondeu o homem.

--- É. Pode ser. Deixa-me fazer a chamada. – desconversou Honório.

Então Honório ligou para o numero anotado e quem atendeu a chamada telefônica foi uma voz masculina dizendo apenas o tradicional “alô”. Honório se identificou e perguntou se alguém dessa empresa tinha telefonado para ele. O homem respondeu que se estava falando de uma Procuradoria. Porém ele verificaria que poderia ter ligado para Honório. Passou-se um bom tempo e uma voz feminina atendeu ao telefone.

--- Sim? Pode falar! Com quem o senhor quer falar? – perguntou a voz de mulher.

--- Escute. Ligaram para mim desse número. Eu não estava. Mas o rapaz anotou o numero. Eu queria saber de quem partiu a ligação. Aqui é um escritório de Despachantes. Quem fala é Honório. – resumiu Honório.

--- Não sei informar. Aqui tem vários funcionários. Qualquer um pode fazer ligação. O senhor não tem o nome de que ligou para o senhor? – respondeu a voz de mulher.

--- Claro que não. Ela informou, mas o rapaz que recebeu o recado não se lembra quem foi. – disse em troca Honório.

--- Lamento. Não sei informar. Desculpe esse mal entendido. – respondeu a voz de mulher.

--- Tudo bem. Não tem importância. Espero que a pessoa volte a ligar. – concluiu o rapaz e desligou o fone.

E de volta ao seu oficio Honório não se lembrava quem podia ter chamado ao telefone. O caso correu através da sua mente e logo ele se esquecera de tudo. Com um pouco de tempo entrou um rapaz no escritório procurando por Honório. E o rapaz respondeu ser ele a pessoa. O visitante da manhã veio direto ao assunto. Ele era Aloísio e estava ali para lhe oferecer uma oportunidade genial.

--- De que se trata? Se for abacaxi pode ir embora! – respondeu Honório um pouco áspero.

O homem sorriu e disse não se tratar de frutas. Ele apenas estava a oferecer um automóvel por preço módico e queria saber se o rapaz gostaria de ter um veiculo quase novo.

--- Quase novo! De quem é o calhambeque?. – perguntou Honório sem pressa em comprar.

O homem voltou a sorrir e explicar o carro não era um calhambeque. E mesmo que fosse, era um veículo novo, ou quase novo. Ele oferecia ao rapaz, pois tivera as melhores informações a seu respeito. Honório não se importou com os elogios, pois, com suma e imperdoável certeza, era aquela linguagem de um vendedor de carros velhos.

--- Não. Não quero. Algum dia eu compro talvez ao senhor mesmo. – replicou Honório.

No entanto a conversa continuou, o preço caiu quase pela metade, o vendedor negociava das melhores opções possíveis; Honório podia rodar no carro de qualquer jeito; mandasse um mecânico examinar o veículo e com certeza ninguém colocaria defeito em peça nenhuma. Uma conversa de mais de uma hora e sempre a recusa do comprador ao lhe dizer, pois não tinha o numerário previsto para adquirir o automóvel.

--- Não tem importância. Nós nem falamos nisso. O senhor paga a quantia que dispuser. O senhor é quem sabe onde o sapato aperta. Fique com esse maravilhoso veículo, por favor! – resultou a conversa do vendedor de carros.

--- Mas me diga uma coisa; por que somente eu tenho que comprar? – perguntou Honório já um tanto desconfiado.

--- Não é o senhor ter que comprar. É por causa da sua necessidade. Mora longe, pega o bonde, gasta uma hora. Tem todos esses incômodos. Compre o carro, por favor! – resultou a conversa de Aloísio, vendedor de carros usados.

--- E o senhor por que não fica com o carro? – perguntou Honório.

--- Eu já tenho o meu. Afinal estou trazendo para o amigo o melhor dos carros já postos no comércio. – sorriu o vendedor de carros usados.

Nesse instante o telefone tocou. Miguel atendeu. E disse:

--- Para o senhor. – e tapando o fone, explicou – (É a moça do telefone). – esclareceu Miguel.

--- Ah. Bom. Quem fala, por favor? – perguntou Honório ao telefone.

Alguém respondeu no ponto da linha.

--- Ah Sim. Adélia! Como estas? – perguntou Honório cm certo fulgor em sua voz.

--- Aqui, tudo normal. E você? Não apareceu mais? Por quê? – respondeu a moça.

--- Hoje tive visitas para fazer e demorei a chegar. –sorriu o rapaz ao responder.

E piscou o olho para Miguel. Este o compreendeu.

--- Ah bom. Julguei que fora outro assunto. – sorriu a moça do outro lado do fio.

--- E foi outro assunto mesmo. Eu trabalho no Porto. Entendes? – perguntou Honório.

--- Ah sim. Mas ai é de um escritório. – sorriu a moça.

--- É. Mas eu trabalho fora. Aqui venho só para prestar contas! – sorriu o rapaz.

--- Eu sei. Eu sei. Quando apareces lá em casa? – perguntou a moça.

--- Hoje. Está bem. Hoje. Mas de onde você fala? – perguntou Honório.

--- Procuradoria. Do meu trabalho. Entendes? – respondeu Adélia.

--- Ah sei. Para onde eu ligo quando quiser falar com você. – perguntou Honório.

--- Para esse telefone. Sabe? – respondeu Adélia sorrindo.

--- Ah sei. Mas eu telefonei assim que cheguei e ninguém soube dizer dessa repartição quem telefonou para mim! – sorriu Honório.

--- Eu estava ao lado da telefonista e ela não disse não sei por quê. Eu fiquei até cismada. – respondeu a moça.

--- Ah sei. Eu estou agora com uma pessoa. Depois eu ligo para você. Ou à noite com mais vagar a gente conversa. Certo? – perguntou Honório.

--- Está bem. Então até à noite. –sorriu Adélia.

E então se desfez a ligação ao tempo em que o vendedor já estava impaciente para obter uma resposta definitiva do seu comprador com relação ao veículo. Quando Honório retornou, esse já estava com outro aspecto. Foi nesse ponto quando Honório disse de uma vez por todas.

--- Eu fico com o carro. Deixa-me ver como está. – disse Honório esfregando as mãos uma na outra e dizendo para com ele. –

--- “Essa está no papo” – e seguiu para verificar o calhambeque.

Foi uma vistoria rápida com o auxilio de Milton, o mecânico. Correndo de cima a baixo pelo Bairro Alto, entrando pelos becos mais tumultuosos e afinal chegando ao ponto de partida. Os papeis foram assinados e o rapaz entregou a chave do veículo a Honório se comprometendo em vir passar os pais durante o período da tarde. Nesse ponto, Honório deixou o carro nas mãos de Milton para verificar o resto do automóvel e saber se tudo estava nos conformes. Na parte da tarde, Honório foi com Aloísio até ao Departamento de Transito para sacramentar o pedido de transferência do veículo para o seu nome. Ao cair da tarde, Honório já estava feliz e satisfeito pelo seu novo calhambeque.

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