quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 36 -

- Gene Tierney -
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Luiza estava a escrever à maquina o oficio que Honório lhe entrou instantes antes. O homem Miguel, guardador das chaves do edifício, estava limpando o chão desde que chegara para o seu segundo expediente. Dentro do escritório de Dumaresq estavam Honório e sua esposa, Ângela tratando de assuntos da firma e da nova loja “A Botija”. Tão logo terminou a reunião Ângela estava a sair da sala quando, de repente, escorregou no encerado e levou um tombo. Foi queda esquisita. A mulher foi ao solo com as suas belas nádegas ao chão. As suas pernas completamente abertas; o vestido pela cintura; calcinhas brancas de seda; e os documentos que ela conduzia ficaram espalhados pelo corredor. Foi um baque ensurdecedor. Ângela bateu com a cabeça na parede. E fez um grunhido como se dissesse um “ai”. Quase que de repente, o homem Miguel porteiro, soltou o limpa-chão que estava a passar para cima e para baixo no chão quase limpo e correu para atender a jovem mulher esparramada. O seu marido também fez o mesmo. E Luiza se levantou da cadeira onde estava, a bater a maquina, e ficou atônita, imóvel vendo os dois homens a socorrer Ângela. Ainda foi dar à mão a mulher para que ela se erguesse. Ângela olhou de repente de quem era a mão e então disse sem mágoas:

--- Pode deixar. Eu me levanto. – falou Ângela se ajeitando toda.

--- Você está bem, querida? – indagou Honório preocupado.

--- Que queda senhora!! – respondeu Miguel porteiro, assustado e tremendo de medo.

--- Pode deixar. Eu levanto só. – se desculpou Ângela.

--- Cuidado! Cuidado! – fez Honório à mulher.

--- “AÍ”. Minha perna. Parece que torci. – falou a mulher fazendo careta.

--- É melhor ir ao hospital, querida! – argumentou Honório bem atento a situação.

E Ângela se pôs de pé, ajeitando suas vestes, procurando andar para apanhar os documentos esparramados pelo chão e voltou a dizer – “ai” – quando procurou andar firme. O marido, assombrado, preferiu levar a mulher para o hospital onde faria exames minuciosos. Pediu que Miguel fechasse a porta do escritório e caminhou com Ângela, devagar, pelo corredor, com o paio pelo lado direito da moça Luiza, fazendo a vez de uma muleta. Ao chegarem ao carro de Honório, a moça Luiza ainda perguntou serenamente:

--- É preciso eu ir também? – falou a moça se dirigindo aos dois. Principalmente a Honório.

--- É bom. Entre com Ângela para o banco de trás. Muito cuidado com a perna machucada. – comentou Honório plenamente nervoso.

Luiza segurou a mão de Ângela e pôs até o meio do banco para em seguida poder entrar. A mulher gemia com a dor na perna direita. O que motivou a queda talvez tenha sido o chão ainda úmido que o homem Miguel passara a esponja minutos antes. Com pouco tempo, Honório chegou ao pronto-socorro do Hospital Geral. Quando entrou no pronto socorro, parecia até que os maqueiros estavam a sua espera. De imediato um deles pegou Ângela pelas pernas e costas e a socorreu para uma maca posta bem próxima ao veículo. Os gemidos de dor da mulher pouco importaram ao maqueiro, pois de imediato o rapaz a levou na maca e subiu para dentro do consultório do médico de plantão. De imediato, foi feito o exame, diante do marido Honório e da moça Luiza. O médico recomendou um Raio-X de toda a perna enquanto o marido ficou a esperar pelo lado de fora do gabinete do médico. Luiza, calada, também ficou a olhar os pés de roseiras plantadas no local onde não havia nada para construir. Era rosa bela e cheia de encantos. Luiza pegou em uma delas e sentiu seu cheiro, mas não a tirou. Nesse instante, Honório se aproximou de Luiza, cabeça abaixada, tristeza imensa, voz cortada. Tudo que o rapaz não tinha ainda posto. Ele perguntou a Luiza:

--- Isso demora? – indagou Honório a Luiza.

--- E eu sei? Deve demorar. Um pouco! – respondeu Luiza olhando as rosas.

--- É danado. Logo agora! – falou Honório cabisbaixo.

--- Pois é. O pai está internado e agora a esposa. – comentou Luiza olhando mais rosas.

--- E você? – perguntou Honório a Luiza.

--- Eu? Estou bem. Passou aquele tempo. – falou Luiza voltando-se para Honório.

--- Sei. Mas tem alguém? – perguntou Honório disfarçando a conversa.

--- Não tenho ninguém. E é bom saber que tal fato não me interessa. – falou Luiza.

--- Sei. Sei. É bom assim. – comentou Honório.

--- E o senhor, continua afoito? – falou Luiza com um sorriso disfarçado.

--- Eu? Não. A mulher é braba. – sorriu Honório olhando para onde Ângela tinha entrado.

--- É bom assim. Quanto mais braba, melhor. Pega no osso! – falou Luiza trincando os dentes.

--- Quem te conheceu! – resmungou Honório lembrando o passado.

--- Pois é. Com gente até de boa aparência. – sorriu Luiza.

Com isso, Honório sorriu. Queria indagar se ela não saíra mais com ninguém. Mas não houve a oportunidade. Talvez com ele, depois. Algum dia. Quem sabe? O tempo foi passando e já fazia uma hora de espera quando o enfermeiro chamou Honório para a sala do médico. O homem foi ligeiro e entrou a esposa com a perna direita engessada. Totalmente engessada. Dura, pára a frente. Ela chorava não pela dor. Porém pelo engessamento. O médico lhe passou a receita dizendo para a mulher voltar dentro de quarenta e cinco dias. Houve uma fratura no fêmur. Porem muito pequena a fratura. Se a moça ou senhora sentisse dor, podia dar tais medicamentos prescritos. De um modo ou de outro, o médico receitou medicamentos para dois meses, sabendo que a fratura levaria um mês para cicatrizar. Andar, somente após uma semana. Evitar esforço. Banho morno e outras recomendações como a de não molhar a parte engessada. Embora sentisse uma dor suave, Ângela continuava a chorar por saber que não poderia sair de sua Mansão nos próximos trinta dias. Todos os dias ela teria que mandar instruções para a sua secretária.

Ângela foi direta para a Mansão acompanhada de Luiza no automóvel dirigido por Honório, o seu marido. Sua cara era horrível, constantemente gemendo, não se sabe se de dor ou de dengo. O automóvel foi devagar trafegando até a residência nobre do casal. A Mansão ficou como residência para Ângela e Honório. Eles passaram a conviver com Dona Do Carmo e o restante dos membros da Mansão, inclusive criados. Enquanto a jovem senhora Dumaresq gemia, a funcionária do escritório não estava dando a menor importância. O que Luiza tinha em sua mente era de que aquela pobretona era agora uma ricassa.

--- Megera pobre metida à rica! – pensava Luiza no seu silencio e com a cara por demais antipática torcendo a boca para um lado.

Depois de arrumada em seu quarto ainda de núpcias, Ângela se aquietou na cama procurando um melhor caminho para por a sua perna engessada. No momento, estavam no quarto de Honório, a sua mãe, Do Carmo e as duas empregadas – Catarina e sua mãe além de Luiza. Após um breve momento de determinações, com os cuidados passados pelo médico do plantão do hospital e a atenção para tomar a medicação na hora certa, Homero pediu licença e se despediu da esposa levando consigo a ajudante de gabinete, Luiza, cujo objetivo de cuidar da enferma terminara naquela hora. Quando eles chegaram ao escritório, já estava na hora da saída, pois era quase cinco horas e meia da tarde. De qualquer modo, Luiza ainda terminou de bater o oficio que Honório lhe recomendara e outros pais de urgência. Ao entrar no escritório de Honório para entregar a documentação, o homem recebeu e conferiu o que estava batido à máquina por sua ajudante de secretária. Em seguida, ele recomendou a Luiza no dia seguinte ela colocar a sua mesa no interior do escritório, pois seria mais prudente que os documentos evitassem ficar à mostra. Ela agradeceu e disse que faria tudo como Honório recomendara.

--- Com relação ao pessoal do atelier da “Botija”, só tem entrada exclusiva a moça Cleia. – recomendou Honório torcendo a gravata do pescoço para um lado.

--- Pois não. Quanto ao telefone? – indagou Luiza a Honório.

--- Telefone? Que telefone? Ah sim. Telefone. Vamos fazer o seguinte: quando Miguel transferir a mesa, amanhã, que ele traga também o telefone. A extensão fica com você. – resolveu Honório de uma vez por todas.

--- E a sua esposa vai concordar com isso? – perguntou a moça.

--- Concorda. Concorda. Afinal, o diretor sou eu. Oras. – reclamou Honório com a cara fechada.

--- Eu sei. Mas, ao que parece ela não vai muito bem com os meus modos. – enfatizou Luiza.

--- Mas eu dou um jeito nisso. Ela concorda. – disse Honório desapertando o cinturão.

--- E a viagem? – perguntou a moça muito delicada.

--- Ah. Isso é o problema. Pode cancelar essa viagem. – recomendou Honório.

--- Cancelo logo amanhã. Digo por quê? – perguntou Luiza.

--- Assuntos domésticos. Só isso. – concluiu o rapaz.

 



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