sábado, 18 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 24 -

- 24 -
No dia seguinte, uma quinta feira, Honório já estava batendo palmas na residência de Ângela para levar-lhe ao trabalho. Nem precisou muito, pois a moça já estava a esperar. Sempre a sorrir Ângela foi de imediato para o carro. Ela entrou depressa no veículo, dizendo:

--- O meu primeiro emprego. – sorriu a moça. Nesse instante quis beijar o jovem, mas esse evitou por estar com o carro de frente a casa da garota.

--- Agora não. Tenha calma! Mais na frente! – sorriu o rapaz.

--- Tá bom. Você é quem manda meu príncipe. E o que eu fazer nesse primeiro dia? Tem também? - sorriu Ângela parecia que apenas só pensava naquele tema.

--- Pode ter. Quem sabe? – sorriu Honório.

O veículo correu por entre a rua cheia de paralelepípedos, pois a Prefeitura estava a fazer o serviço de calçamento, e desse modo quem estava a vir de carro demorava mais um pouco que o costume. Quando o veículo chegou a frente ao escritório de Homero, este desceu para abrir a porta do lado onde estava Ângela. O homem disse ser aquela a primeira vez que lhe abria a porta, pois de outras vezes ela, Ângela, abriria mesmo. Dizendo isso, Honório sorriu ao comentar não ser motorista de aluguel de nenhuma dama. A moça desceu do carro e beijou o rapaz como para apagar o fogo manso que o acometia.

Ao entrar no escritório, Ângela ficou surpresa com todo aquele aparato, como se nunca entrasse em um escritório particular ou não. Apenas ela conhecia a repartição onde Adélia trabalhava. Fora isso, tudo era igual. Na sala tinha apenas o homem que tomava conta do prédio. Por sua vez, Honório o apresentou a moça.

--- Miguel, essa é a nova secretaria. Vamos ter que ajudá-la a fazer o serviço! – sorriu Honório

--- Como vai dona? - falou o homem a sorrir.

--- Ângela é o nome dela! Ela vai aprender a trabalhar! – sorriu Honório.

--- Não tem o que aprender. É só bater máquina. – sorriu Miguel para a moça.

E Ângela sorriu de volta dizendo também:

--- É um prazer trabalhar com o senhor. – sorriu a moça.

--- Deixa ela! Deixa ela! – sorriu Honório piscando o olho para Miguel como querendo dizer outra coisa.

Em seu primeiro dia de trabalho, Ângela mostrou eficiência, atendendo telefone, passando para o patrão, Jorge Dumaresq, atendendo a algum visitante e sem a presença de Honório, pois nesse ponto ele já estava no Porto para onde segura logo que chegou pela manhã. Às onze horas Honório voltou para ensinar a moça onde fazer refeição do primeiro expediente. No bairro havia o Restaurante Popular, onde se comia bem e a preços mais baratos. Quem não quisesse ir ao Popular, havia outros com preços muito mais altos. Essa foi à recomendação que Honório fez a acanhada moça argumentando, porém no bairro haver outros restaurantes a preços módicos, como o de Osmarina, cuja existência Ângela desconhecia. Contudo, Honório resolveu seguir o trajeto habitual em seguir para o Popular mostrando a moça como entrar na fila, pagar o preto feito, receber a bandeja de alumínio, seguir para uma mesa de ferro onde outros fregueses disputavam o lugar e tudo mais que o Popular fazia a cada um dos vorazes fregueses das onze horas.

No seu primeiro dia de trabalho a moça estava contente e feliz apesar de encarar com certo temor o velho Dumaresq cujo escritório era ao lado do que Ângela estava. Ela observou, no seu primeiro dia que, às vezes o patrão saía sem dizer para onde. Ela também não perguntava. Durante o primeiro dia a moça estava por muitas vezes sozinha e sem ninguém porque até Miguel, um homem de meia idade, saíra sem lhe dar satisfação. E ela findava por acreditar que a moça não fora bem quista por Miguel. Em outras ocasiões, Miguel aparecia, colhia os papeis do cesto e desaparecia outra vez. A moça ficava só a espera que o telefone tocasse. Por vezes olhava para a máquina de datilografia. Porém tinha medo de escrever, pois já observara o seu Dumaresq a bater algo naquela sisuda máquina e depois a cobria com uma tampa de ferro. Era de ferro mesmo, a tampa, pois fazia um barulho tremendo quando se erguia para por no chão.

Às cinco e meia da tarde, o expediente chegara ao fim. Honório já estava no escritório em companhia do seu tio Dumaresq tratando de assuntos cujo enigma somente eles entendia, pois Ângela ainda era muito nova no trabalho para decifrar. Ao sair do escritório, fechando tudo, Ângela reclamou por estar sozinha sem fazer. O rapaz sorriu em troca e disse que ela não se preocupasse, pois havia dia em que ela achava ser muito o serviço. Os dois entraram no carro e Honório lhe fez um convite para ir no sábado para a Praia da Pêra.

--- Hum? – fez a moçar com a surpresa da praia.

--- Pêra. Uma praia distante do centro. Eu e você. – sorriu o rapaz.

--- Jura?! – indagou a moça repleta de alegria.

--- É. Nós vamos à praia, tomamos banho, desancamos. ... – replicou o rapaz.

--- É? – perguntou Ângela.

--- E! – respondeu o rapaz a sorrir.

A moça não se conteve e também sorriu de grata emoção.

O certo é que, no sábado eles já estavam na bela Praia da Pêra. Praia deserta. Uns pescadores puxavam a rede para colher peixe e vender no Mercado Público. Outros apenas observavam. Meninas e meninos verificavam o pescado enquanto os maiores mergulhavam no mar de maré cheia. Gente da cidade, muito pouca. Dois ou três carros estacionados. Um era o de Honório. Ângela temeu entrar no mar. O sol era quente para ser apenas nove horas. Nuvens de chuva ameaçavam cair. Nem por isso era vento frio. Uma menina de seus dez anos olhou Ângela e sorriu. Era moradora da praia da Pêra. Logo depois sumiu. Ondas gigantes batiam na costa, às vezes beirando casas de pescadores. Era um tempo seco apesar de haver chuva ocasional. Do lado, Honório a observar e sorrir para Ângela. A moça fitou o homem e disse apenas temer.

--- Está cheia? – relatou a moça.

--- É. E o que você disse em casa? – perguntou Honório.

--- Eu? Nada! Disse que passaria na praia com uma colega. – e sorriu.

--- Nem falou no meu carro? – perguntou Honório buscando saber mais.

--- Não. – achou graça a moça com entusiasmo.

--- Bom. – comentou o rapaz.

--- Era para dizer? – perguntou a moça.

--- Acho que não. Está bom assim. – relatou Honório.

--- Você ainda me quer? – indagou Ângela.

O homem sorriu como se não quisesse dizer o seu sentimento por Adélia. Fazia dias que Honório não tinha estado com Adélia. Ele chegou mesmo a pensar em desistir e ficar mesmo com Ângela. Mulher difícil, Adélia. Isso ele pensava. Ângela era mais aconchegada. Ela se mostrava divina e graciosa. Mas parecia ser mulher em lugar da irmã. Aquele encontro na praia da Pêra foi mais uma pergunta que o homem fazia a si mesmo. De ficar com Ângela ou esperar por Adélia. As nuvens passaram ao largo e não choveu daquela vez. O rapaz olhou o céu e o sol. Não queria tomar banho de mar. Uma taberna acolhia quem passasse ali perto. O dono da taberna chegou a oferecer um banco a Honório.

--- Vai tomar banho? – perguntou Honório a Ângela.

--- Tenho medo. O mar está muito cheio. – sorriu a moça.

--- Então se sente nesse banco. – ofereceu Honório o banco a moça.

--- E você? – perguntou a moça sorrindo.

--- Arranjo outro. - replicou Honório.

--- Tem coco na taberna? – indagou Ângela.

--- Deve ter! – sorriu Honório.

O rapaz observou os homens quando já saiam da praia em busca do Mercado daquele local ermo e com iluminação precária para entregar o peixe ao seu proprietário e receber em troca a sua partilha da pescaria na empreitada. Gente humilde de parcos recursos. Quase nenhum. Na taberna o que havia de mais luxuoso era uma velha geladeira a querosene e estava sempre sem funcionar.

--- Querida, eu vou me casar com você! – recitou Honório penalizado pela vida.

--- O que? – assustou-se Ângela como quem não acreditava no que ouvira.

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