sábado, 11 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 17 -

- Marlo Thomas -
- 17 -

Três horas da manhã o barco ainda navegava com destino ao Porto não tardando a chegar. Todos dormiam a bordo, com exceção dos tripulantes de serviço. No cômodo de Honório, ele dormia a sono solto. O cansaço do dia anterior e o vexame por que passaram todos a bordo faziam com que o sono fosse acolhedor. As lâmpadas da suíte do barco onde Honório dormia estavam apagadas, salvo por uma tênue lâmpada em um abajur lilás no final do quarto. Não havia pássaros noturnos e mesmo assim as janelas com vidraças estavam trancadas. Ouvia-se o ressoar das ondas a bater no casco da embarcação marejando de leve o Catamarã. Um tenaz e virtuoso silencio fazia o embalo dos necessitados de letargo. Nesse momento, quando todos dormiam a bordo do barco, uma figura furtiva se esgueirou por entre as sombras e pulou na cama de Honório, recolhendo-se em baixo do edredom e, silencioso nada fez com homem que dormia. Apenas se encolheu como pode, passando a perna por cima de Honório, de forma delicada e soprando leve no seu ouvido para o caso do rapaz ter de acordar. Era Ângela, a sombra furtiva. Ela bolinou o membro sexual, bastante adormecido como estava o homem. Este procurou se virar um pouco para o lado e de repente, acordou de supetão.

--- Que. ...- e ele teve a boca fechada pela mãozinha da Ângela tão delicada.

--- Psiu! – fez a moça. – Não fale. Deixa eu aqui. Ela está a dormir. Sono ferrado. – sorriu baixinho Ângela para o homem plenamente assustado.

---Vá para a sua cama! – disse baixo o rapaz quase a sussurrar.

--- Fico aqui um pedacinho. Só deitada. Não te perturbo. –falou em frases miúdas e baixas a voz da moça aquietando-se sobre o colo do rapaz.

O rapaz se inquietou com aquele acordar no meio da madrugada e pediu que a moça saísse daquele local, pois Adélia podia acordar a qualquer momento. A moça, muito tranqüila, disse ao rapaz que ela não acordaria nunca, até de manhã, pois tomara um sonífero para repousar mais tranqüila após os acontecimentos da tarde. E desceu sua mão até o sexo do homem e fez com que o moço tivesse tal agitação como estava febrilmente a desejar. Ângela apenas de calcinha e sem nada para cobrir os seus lindos e pecaminosos seios fez como Honório fosse terno, carinhoso e de modo sensual para uma fêmea em plena volúpia do cio. Sentia-se no instante de fugaz alucinante tremor o genital do másculo a assumir proporções por demais estonteantes. Alienado com a intenção da jovem moça de 20 anos, Honório quis dispensá-la como fazia sempre quando a jovem se aproximava do seu colo, dessa vez ele não teve mais qualquer ação. Louco com tais manifestações de uma jovem rebelde o homem se acercou da moça como um instrumento cortante. E ali mesmo, ele fez o que não poderia ter feito. Entre beijos soturnos e amados, Ângela disse apenas a Honório:

--- Eu te amo. Mais do que tu podes imaginar. Eu te amo. Te amo. Te amo – e saiu da cama onde estava como uma gazela após o coito. E dizia para Honório apenas palavras amorosas de que era ele seu grande e imensurável amor. E poderia ir até ao limite de seu ser com tudo para ofertar. Ele era a moda mais linda que se podia ter. O rapaz disse apenas em troca:

--- Você está doidinha. – sorriu do seu inigualável modo de ser.

Honório se levantou de sua cama e foi ao banheiro tomar uma ducha quente para tirar todos os efeitos daquele sublime amor. Ele não podia imaginar onde aquela meiga e delicada jovem tirou tanto esplendor para amar. Em um instante ele viu a moça se aproximando para mais um aconchego, de modo como disse não, pois estaria total esgotado àquele momento, de pernas vacilantes, quase a cair. Aquele febril e tão misterioso amor ele jamais poderia entender. Eram perpétuas e maliciosas caricias ao longo do eterno tempo. Mesmo diante da insistência da ninfa, ele já não podia ter mais o orgasmo desejado por aquela voluptuosa fêmea. Então a moça saiu do banho e ficou a espiar o homem quando ele saísse, toda coberta pelo edredom menos sua enigmática face. Após a ducha Honório saiu do banheiro, onde a meia luz não deixava ver de tudo, porém pode observar aquela lebre toda enrolada e só a ponta de sua face de fora, olhando sem vergonha de tudo o que fez. Ao se deitar e enrolar ouviu a moça dizer:

--- Não vou me lavar para não tirar seu cheiro de mim. – e sorriu.

O rapaz não falou nada. Apenas disse adeus com dois dedos da mão direita e se enrolou da cabeça aos pés temendo não conciliar o sono por ter de ver a jovem moça novamente em seus braços tenros e sem forças.

Quando chegou às sete horas da manhã o Catamarã atracou no Porto. Decididamente, todos os passageiros já estavam prontos para o desembarque, inclusive Ângela e a sua irmã, Adélia que nem suspeitava do que acontecera entre a sua irmã e o rapaz Honório. A moça estava ainda sonolenta, pois tivera que tomar o sonífero tarde da noite. Ângela nem se importava com o tal sonífero, enfim foi o medicamento que lhe deu toda a ventura de incontido prazer. Com isso, conduzindo o seu saco de roupas, olhando para todos os conseqüentes passageiros, deu de ombro e desceu a curta escada por onde subira na madrugada do domingo. Nada fazia crer em poder a moçar ter feito as agruras da madrugada. Ângela volteou o Porto e olhou para trás vendo se avistava Honório para poder pegar o seu novo e velho automóvel.

Com toda a multidão a passar, Honório chegou até seu carro, abriu os vidros das portas, e permitiu entrar as duas moças. Do lado de fora, no pátio do Porto, ainda havia a conversa do homem morto no acidente da tarde de domingo. Ninguém sabia dizer ao certo se o defunto foi no embarque do Catamarã e se ficou em terra para ser trazido a bordo de um avião regular. Por isso, a moça Adélia ainda perguntou a Honório por querer saber:

--- E o morto? –foi a pergunta da moça.

--- Não sei, - foi a resposta do rapaz sem grandes pretensões em saber de fato.

--- Você já vem de novo com essa história de defunto! – replicou Ângela.

A moça calou e deixou o carro partir, buzinando para que os passageiros desse lugar ao veículo transitar no meio da frenética agitação daqueles viageiros de arribada. Muita gente mesmo à saída do Porto e Honório teve de ser paciente com o pessoal, muitos dos quais igualmente tinham conduções para se locomover para casa, com certeza. Segunda feira era mais um dia perdido para Honório não fora um rapaz avisar do material por ele esperado ter chegado no dia anterior ao Cais. Honório agradeceu a informação e deixou dito que mais tarde viria buscar a encomenda feita pela Representação. Desse modo, ele já vira que nem tudo estava perdido, pois já havia noticia nova para dar ao seu tio.

Com o passar do tempo, o rapaz chegou até a casa das moças e as deixou. A menor estava completamente cheirando a sal e a maior tinha tomado seu banho de água morna ou ducha tal como se dizia a bordo do Catamarã. Ângela se voltou para Honório e procurou beijá-lo com insistência ao passo que o rapaz recusou tal demonstração em público. Ela relutou e deu-lhe um beijo no rosto de qualquer forma. A irmã não notara, pois estava o seu enorme saco de viagem a carregar para sua casa. A irmã menor ainda teve tempo de dizer para Honório:

--- Não esqueça. Eu te amo. Quero ter você nem que chova canivete. - relatou Ângela com plena afeição e ternura de olhos bem abertos.

Honório sorriu e ainda teve tempo em dizer.

--- Tenha cuidado! – falou Honório querendo despistar o exagero da moça.

--- O “cuidado” está aqui dentro. Eu não sossego enquanto ele não chegar. – respondeu a jovem cheia de entusiasmo apertando o seu ventre.

--- Nem diga uma coisa dessas! – manifestou o homem já alarmado.

--- Verás! Verás! – falou a moça com certeza e entro em casa levando o seu saco de roupas.

O homem sorriu e entrou no carro, esperando por Adélia para se despedir da moça. Com um pedaço, Adélia retornou e lhe agradeceu, dando-lhe um beijo suave na face. O rapaz então olhou para saber se Ângela estava por perto, mas não a notou de modo algum. E agradeceu a Adélia pela companhia que lhe fizera lamentando apenas a tragédia do domingo.

--- É pena mesmo. Como é que pode uma tragédia dessas? Estou morta! – relatou Adélia.

--- Morta de raiva ou de pena! – perguntou Honório com um sorriso no rosto.

Adélia olhou com franqueza o rapaz e resolveu não relatar mais coisa alguma. Ela estava, a saber, qual seria a sua contra resposta. Preferiu sorrir e dar-lhe novo beijo enquanto sua mãe aparecia no portão cumprimentado Honório. Ele mesmo de dentro do carro fez um aceno para a mulher. Nesse ponto, dona Almira ficou a olhar melhor o automóvel do homem, mostrando-se admirada com aquele automóvel, para a mulher, uma coisa de gente rica. Do portão onde estava Dona Almira custou a acreditar no que estava a ver.

--- Um carrão! – disse Almira para a surpresa de todos. Muito embora só estivessem nas portas das casas próximas outras mulheres a conversar asneiras.

De um momento, Honório deu partida no seu automóvel e largou por rua afora olhando pelo retrovisor a presença de Adélia e fez aceno com o braço para o lado de fora da porta do carro. Adélia também fez sinal de adeus com a mão e logo entro mais a sua mãe. Dentro de casa, a moça contou da alegria sentida e do acidente que se dera com um passageiro. Ele mergulhou para a morte, com certeza.

--- Você já está conversando isso? – perguntou Ângela bem atrevida.

 

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