segunda-feira, 13 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 19 -

- GRACE KELLY -
- 19 -
Antes da eleição de Ernani e antes mesmo dele ter sido convidado, na segunda feira ao meio dia, quando Honório já estava na cidade, ele teve de ir a sua casa para, pelo menos, pedir a bênção de sua mãe, ver a garota Damiana, enfim contar de sua viagem sem falar que foi de barco para passear com suas duas outras convidadas, uma delas, sua namorada. Apenas ele falou a sua mãe ter sido uma viagem proveitosa e nada mais. Não disse ele para onde tinha ido por três dias. A mocinha estava calada e calada ficou. Quando Honório entrou na mansão foi até tomado de surpresa. Ele pode ver descendo escada abaixo um rapaz de cerca de vinte anos que fora fazer algum conserto na instalação elétrica, com certeza. Mesmo assim, Honório nem pensou em que estava a fazer o rapaz. Apenas notou o sorriso de leve da moça Damiana para o homem. Nesse ponto o rapaz ficou serio olhando para Honório sem dizer coisa alguma. Falou apenas para dona Do Carmo ao falar que já havia terminado o conserto. Por tal motivo é que pensou Honório ter sido um reparo na instalação elétrica. Por cortesia, Honório cumprimentou o rapaz e esse agradeceu apenas balançando a cabeça. Isso foi na chegada de Honório a sua mansão. Com o passar das horas Honório teve a dizer a sua mãe que a noite chegaria um pouco tarde, pois veria um amigo de velhos tempos. Nesse ponto, já na mesa de almoço, Damiana olhou de repente para Honório com a cabeça descida, pois estava a sorver uma sopa. Mesmo assim, não disse nada. Apenas o rapaz cruzou a sala em direção a cozinha no momento em que Catarina vinha com uma tigela na mão. A moça desviou no caminho para evitar um encontro de frente com o rapaz. Foi então que Honório falou para a sua mãe a perguntar;

--- Domingos! – respondeu Do Carmo.

Honório olhou para Damiana e lhe deu um sorriso. Essa calada estava e calada ficou. Nesse momento uma tampa de panela caiu ao chão. Todos tiveram um susto. Catarina lamentou o ocorrido e disse que voltaria para limpar o chão. Do Carmo comentou;

--- Que susto!!! – comentário de Do Carmo quase se engasgando com a sopa.

A moça Catarina foi e voltou para limpar o chão. Quando a moça Catarina se baixou para fazer a limpeza deixou mostrar as calcinhas por um lapso de momento. Mesmo assim foi o suficiente para Honório olhar. Contudo nada falou. Catarina, abaixada ficou a limpar o chão e Honório, com a ponta do olhou, observou a brancura das calcinhas de Catarina e suas mimosas pernas entreabertas com a moça a limpar o chão. Uma ereção se deu na ocasião em Honório. Porém o moço de conteve. Após limpar o chão a moça se soergueu e saiu depressa para a cozinha onde estava a sua mão que a reprovou pelo desastre que fez. Catarina estava lavando o pano e nada respondeu.

Ao terminar a refeição, Honório foi até a pia lavar a boca e escovar os dentes. Após esse instante, passou depressa para o seu quarto onde procurou mudar de traje. Quando estava apenas de cueca, notou entrar em seu quarto de dormir, a mocinha Damiana, toda faceira e sorrindo com vagar. O rapaz disse então para Damiana.

--- Feixe a porta! – falou Honório com modéstia.

A moça obedeceu e lhe fez a costumeira pergunta como se não tivesse almoçado.

--- Agora? – perguntou Damiana.

--- Agora que nada. Estou atrasado. Tenho de ir ao Porto. – falou Honório apressado.

--- Por que você voltou agora? – indagou Damiana.

--- Eu cheguei pela manhã. Porém só agora eu tive hora para vir. – respondei o rapaz.

--- De carro? – voltou à moça a pergunta.

--- É. Mas eu devo entregar hoje ou amanhã. – redargüiu o rapaz.

--- É do escritório? – tornou, a saber, a moça.

--- Não. De um amigo. Você não o conhece. – replicou Honório vestindo as calças com pressa para depois vestir a camisa, calçar as meias e os outros sapatos.

--- Tinha mangue onde você foi? – perguntou de repente a Honório

--- Que? . ... – indagou o rapaz surpreso com a pergunta.

Ele pensou rápido e respondeu:

--- Mangue, praia, sargaços e o diabo a sete. Fui pra todo o canto. Nos outros tinha seca. – respondeu Honório fazendo por dentro um: - (ufa. Por pouco!) –

--- Ah. Bom. Você está queimado do sol, parece até que a praia tava forte. – disse Damiana sorrindo.

--- Eu achei que muita exposição ao sol. O homem era um feitor de embarcação. – se saiu pelo meio Honório.

--- Muita mulher? – indagou Damiana.

Mais perguntas descabidas que ele tinha de mentir com pressa, enquanto calçava as meias.

--- Mulher as pencas. Mas todas com donos. Não tive tempo pra nada. E só você me importa e nada mais. Senti falta de você. – sorriu Honório ao se calçar depressa.

--- Você está mentindo com a cara mais deslavada do mundo. – respondeu a moça a sorrir.

--- Verdade! – relatou o rapaz.

--- Vou embora. Fique com as suas mentiras. Eu também não importo. – respondeu a moça.

E saiu deixando a porta do quarto toda aberta. Honório ficou a tremer. Pensava só no que havia a dizer quando voltasse.

--- “Essa piranha é de lascar. Sabe logo decifrar tudo. Ora merda!” – falou irado o rapaz.

Ao sair de casa viu novamente o Domingos a subir os degraus para o alto onde estava o andar superior. No local ficavam jóias e pendores da família, retratos, biografias, brinquedos e mimos de crianças, utensílios domésticos já em desuso todos bem aquartelados nos cômodos.

A Mansão dos Dumaresq era deveras ampla. Podias-se encontrar no velho sobrado um hall de entrada, cozinha, despensa, sala de jantar, duas outras salas, biblioteca, salão com varanda, sete quartos, armários, sótão, portaria, garagem e lavanderia. Era uma Mansão enorme, em amplo terreno murado. No andar de cima e no sótão tinham-se guardadas as peças de esmero cuja família herdara de parentes quase todos falecidos. Apesar de ser imensa, a Mansão era menor de aspecto para as demais mansões existentes no lugar. A falta de calçamento das ruas próximas era o ponto fraco da mansão dos Dumaresq. Quem passasse no local dos Dumaresq sempre temia a olhar o casarão ao pensar em assombros à luz da lua.

Honório era o único homem daquela parte da família, apesar de haver mais outras famílias Dumaresq todas vindas da Europa nos anos de 1800. Quando Honório tomou o seu destino, a mocinha Damiana subiu ao andar de cima, onde aguardava o rapaz Domingos, cujo apelido era tão somente “Peru Falante”, caso que o irritava por demais. Filho de descendente de escravos, contudo “Peru Falante” tinha a pele clara, pois seu pai era um europeu de pele igualmente clara. Como pai era um europeu, o homem considerava o tal chamado “Peru Falante” como um filho bastardo. Domingos também não dizia ser seu pai um europeu. A quem perguntava sempre ele respondia que o homem morreu na durante a Guerra de Cuba. Embora tal fato não fosse verdadeiro, morrer em Cuba já era de certo uma façanha. Por conta do caso da morte do pai de Domingos, ele passou a ser chamado de “Peru Falante”, por falar demais e ser alvo como os europeus do passado.

No primeiro andar da Mansão os dois tiveram uma sessão de amor. Domingos, vinte anos mal vividos, pois vivia de bicos de serviços, atracou a moça pela cintura e fez o sexo do prazer. Logo após aquele momento o rapaz lhe disse com voz severa somente amar e queria casar ou viver juntos com Damiana. Esse caso assustou a mocinha, pois estava na Mansão dos Dumaresq há pouco tempo e sair da casa era uma afronta ao seu grande amor Honório. A mocinha não disse sim e nem disse não. Fez de conta que estava tudo certo. Deixaria tudo para resolver depois. Talvez aquilo fosse apenas um ímpeto de “Peru Falante” e nada mais. Eles passaram um longo período na sala de hospedes do primeiro andar e “Peru” a acariciava os cabelos da menina sem falar mais no assunto pelo período que no quarto esteve.

Quando a noite veio, Do Carmo já estava acordada da cesta que fizera. A mulher perguntou a Catarina pela garota a quem tanto bem queria. Catarina disse que não a vira desde à hora do almoço. Com certeza a garota deveria estar em seu quarto. Foi tudo quanto respondeu. Nesse instante, Damiana vinha descendo do sobrado e simplesmente falou:

--- Estou aqui, madrinha. Estava vendo os retratos armados no andar de cima. – comentou Damiana bem tranqüila.

--- Ah bom. Na galeria. São os retratos da família. Alguns muito antigos. – respondeu Do Carmo

Catarina nem quis ouvir o relato de Damiana, uma vez sabia qual mentira era a mocinha capaz de levantar. Talvez até dissesse que já estava gostando de ler os livros da biblioteca. Por isso mesmo, Catarina fez um bico e se ausentou de cabeça erguida de corredor adentro.

-- Run! Retratos! Eu sei o que ela estava vendo! – relatou Catarina em cima da bucha.

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