terça-feira, 21 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 27 -

- Vivien Leith -
- 27 -
Na noite da segunda-feira, logo que o expediente se encerrou no escritório de Jorge D. o seu sobrinho Honório rumou com a sua noiva direto para a mansão dos Dumaresq com o objetivo de apresentar Ângela a sua mãe, Do Carmo. O casal chegou à mansão por volta das sete horas, isto porque Honório tinha ainda uma reunião nessa noite na sede do Clube Lagunas atendendo convocação do seu novo presidente. Honório era o diretor de esporte da sociedade. Ao chegar a mansão com sua noiva, ele de imediato tomou conhecimento da saída de Damiana. Para ele estava tudo bem. Quem falou da saída da moça foi Catarina, a filha da doméstica da mansão. Todavia, ele não fez gesto algum. A sua mãe estava em seu quarto a rezar, com certeza. Honório pediu para Catarina avisar que havia uma moça querendo conhecê-la na sala de visitas. A senhora de sessenta e poucos anos se impressionou com tal notícia. E perguntou a Catarina quem estaria na mansão para conhecer uma mulher tão velha com se dizia ser Do Carmo. A empregada nada respondeu e saiu do quarto apenas dizendo.

--- Não sei. Ela está na sala grande. – respondeu Catarina e foi para a cozinha ter com sua mãe.

Com pouco tempo, a mulher saiu do quarto e foi para a sala grande onde estavam a moça e o seu filho. Do Carmo notou a presença de Ângela sentada em uma poltrona de veludo encimada por um grandioso quadro com uma pintura de Rembrandt, pintor europeu natural de Amsterdã, Holanda, considerado um dos maiores nomes em toda a história da arte. No quadro via-se a pintura “O Sacrifício de Isaac” (por Abraão, seu pai), feito em 1635, em óleo sobre tela. Essa tela mostrava Abraão prestes a cumprir uma ordem de Deus que, para provar sua obediência, exigiu que ele sacrificasse seu único filho, Isaac. Este episódio está descrito da Bíblia em Gênesis. Outras valiosas artes estavam espalhadas ao longo da sala, cada uma de um pintor diferente. Era uma preciosidade aquele local de devaneios onde o visitante parecia está penetrando em um santuário da imortalidade.

Do Carmo cumprimentou a jovem moça, muito imatura por sinal, ao tempo em que o seu filho, Honório, levantou-se de outra poltrona, em confronto com a de Ângela, pediu a bênção a sua mãe e em seguida apresentando a linda moça como sendo sua verdadeira noiva. A mulher ficou de boca aberta ao ser mostrada a pretendente jovem desconhecida da fortuna tida com toda a amplitude à mansão dos Dumaresq. Ângela era uma jovem puramente encantadora, apesar de estar a usar um vestido simples, caso que não cabia a dona Do Carmo a comentar. É de se ver que a família de Do Carmo chegou ao país bem antes da imigração tcheca em início de 1930. A mulher com certeza tinha o nome real de Maria do Carmo Palach Dumaresq. O sobrenome Dumaresq herdou do seu esposo enquanto Palach era o de sua família Palach. No momento da conversar, ela ficou sabendo que a moça era de uma família tradicional da Itália, cujo nome era Emerenciano. Mesmo assim, tais famílias tinham já acostumado com o natural do país onde viviam.

A visita foi breve, pois Honório ainda tinha o que fazer na reunia do Clube Lagunas e a conversa seria de augusto proveito para a ocasião do almoço singelo feito na própria Mansão dos Dumaresq em data a ser anunciada posteriormente. Seria um almoço em família com todos os nobres presentes a festa. De modo que Ângela se despediu da senhora Do Carmo almejando os melhores dias para a sua vida e saúde. A mulher agradeceu e antes lhe falou de sua simpática beleza não menos formosa que outras moças oriundas de sua pátria-mãe.

Nesse mesmo dia, ao chegar a casa, no veículo de Honório, a moça Ângela foi tomada de surpresa com a presença de sua irmã Adélia. De tal forma, Honório também ficou surpreso, pois a sua presença era notadamente imprevisível. No entanto, Honório não teceu nenhum comentário a não ser dar uma boa noite a adorável moça, tão bela quanto à irmã mais nova. O conhecimento de Honório era ainda formado de pouco tempo. Do jeito que a tal altura não devia falar mais coisa alguma de estar noivo da irmã Ângela. Do igual modo Adélia se apresentou apesar de ter visto Honório no fim de semana quando o homem lhe fez o convite para participar com ele e a sua irmã de uma festa no Clube Lagunas. Com a recusa da moça, então Honório seguiu o seu caminhar. E na segunda feira os dois – Honório e Ângela – estavam noivos. Na verdade, Adélia perdeu uma chance impar de ser noiva de Honório. Embora a moça não tivesse ciência do fato até àquela hora, Ângela, sorrisos francos, disse à irmã que estava chegando da Mansão de Honório onde fora conhecer a sua futura sogra. A moça foi tomada pela surpresa tão maior de que Adélia estar de volta à sua casa.

--- E foi? – indagou Adélia aturdida pela graciosa surpresa.

--- A casa é um luxo. Na verdade, é uma Mansão. Que beleza de templo. Nossa! – comentou Ângela a suspirar.

--- E você foi a casa dele? – perguntou pela segunda vez a jovem Adélia de queixo caído.

--- Local imenso. Salão enorme. Quadros de pintores famosos por todo o lado. Candelabros vindos como se fosse do céu. Uma maravilha. Eu sou chique, minha irmã! – sorriu amplo a mais nova irmã de Adélia como quem estava querendo resolver uma questão eterna sempre havida com a irmã de mais idade.

--- Não ligue para o que Ângela fala. Apenas é uma casa. Herdada do meu avô. – falou Honório.

--- Pois é. Que herança! – sorriu desconsolada a jovem Adélia do modo de eterno desprazer.

--- Bem. Eu vou para a reunião do Clube e amanhã eu passarei para te apanhar. Um beijo. – disse Honório ao tempo em que olhava para Adélia.

Ele deu meia volta no carro e saiu às presas enquanto as duas irmãs ficaram a conversar, entrando para a sua simples residência de uma casa bucólica.

A reunião do clube foi apenas para efetivar seus novos dirigentes. Era uma demora não muito longa. Cada qual tomou o seu assento à mesa e coube ao Presidente Ernani Salgado enfatizar que estava em um período “tampão”, pois haveria nova eleição dentro de um ano. E se todos se comprometessem em trabalhar com afinco, ele prometia fazer em um ano o que merecia se executar em mais tempo. O certo é que no fim do encontro Maneco comentarista declarou em tom esperançoso do modo como devia se trabalhar com afinco. E aludiu até mesmo um certame triangular afora a competição normal do time. Por sua vez, Honório falou em uma organização mais capaz. Ele disse ainda de filiados e torcidas organizadas do Clube. O time representando a região e até mesmo se proclamando como um símbolo. As partidas como os eventos turísticos em uma demonstração de nacionalidade. Do modo como quem falou, Dumaresq recebeu aplausos incontidos e a alegria de todos que assumiram a nova diretoria.

E não faltaram aqueles que dissessem:

--- Para mim, ele era para ter sido o novo presidente. – argumentou um torcedor.

--- Tem tempo! Tem tempo! Tem tempo! – declarou outro.

No dia seguinte, Honório e Ângela já estavam no escritório. O velho Jorge D. era uma alegria só. Após a visita formal que fizera Honório a sua mãe, Jorge D. com poucos instantes pela Mansão chegou para ouvir as confidencias de sua irmã. A velha senhora disse ao irmão tudo o que esperava ver do seu filho amado. A moça era encantadora por demais e Do Carmo assim esperava que tal casamento se desse em curto espaço de tempo, pois a Mansão já precisava de gente nova e nobre para governar. Jorge D também confirmou o que a sua irmã dissera e no dia seguinte abriria um novo departamento para ter Ângela Emerenciano nos seu lugar. A velha irmã confabulou com Jorge D ser isso o mais acertado. Com isso, Jorge D no dia seguinte chamou os dois – rapaz e moça – para uma conversa muito franca. A partir daquela data ele estaria abrindo um no departamento que seria entregue à senhorita Ângela. E, talvez, quem sabe, a jovem assumiria a direção de uma prestimosa empresa.

--- O que vocês têm a dizer? – indagou Jorge D ao sobrinho e à futura herdeira do clã.

--- Agora é com ela! Eu fico calado! – sorriu Honório com a decisão do seu tio.

--- Comigo? – falou alarmada a moça que nem sequer sabia escrever perfeitamente à máquina

--- Pois é. Você será a empresária de um novo negócio! – aludiu alegre Jorge D a sorrir.

--- Mas os senhores estão brincando comigo! – relutou Ângela como se tudo aquilo fosse um brinquedo.

--- Olhe bem, minha filha! Eu estava pensando nisso há longos tempos. Teve uma moça, aqui, que eu comecei a trabalhar com ela. Mas, um problema pessoal – dela – naufragou a idéia. Nesse momento veio você. Jovem, esperta, capaz de tudo. Então é à hora de agir. Eu já sou um homem cansado. Tenho em meu sobrinho o esteio para continuar o empreendimento. Porém me faltava um alguém que pudesse dar o sustento disso tudo. Então estamos a conversar sobre um fato. Você é a noiva do negócio. O que me diz? – perguntou Jorge D levantando os óculos para o alto da cabeça.

--- Tenho que pensar. Agora é tudo ou nada! – sorriu Ângela com as suas pernas a tremer de susto e emoção.

--- Pense garota! Pense! O que o meu tio te oferece, não se faz a ninguém. Pense com firmeza, pois a vida é curta! – sorriu Honório para Ângela.

O rapaz pensou como estaria trazendo uma jovem de vinte anos para governar um império como o do seu tio. Algo por deveras importante e nem ao menos ele havia sido notificado de antemão. Não haveria ciúmes nem desfeita para Honório. A vez era a de se aproveitar a tal oportunidade. Ou tudo ou nada. Era o ponto de vista do rapaz.

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