quarta-feira, 22 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 28 -

- Lauren Bacall -
- 28 -
Por alguns minutos, Ângela ficou a sonhar com aquele império posto em suas mãos, o qual não entendia nem um tanto e sem sombra de duvidas era para ela uma magnífica fantasia onde não poderia haver retrocesso. Quando menina ou mais como uma garota dos seus quinze anos, Ângela sonhou com algo imprescindível, como uma quimera. Talvez algo irrealizável para uma jovem igual a que era na ocasião. Tão igual era saber o que fazer com tamanha fortuna. Saber o que seria com aquilo onde brotava o futuro do seu próprio ser. Uma casa de penhor ou outra coisa que mais significasse o pendor de um ser imaginário tal qual o local tivesse a imaginação fértil de todos. Por certo, o nome já diria tudo o que fizesse crer, como “A BOTIJA”, pois seria bem para se imaginar. Ou “O VASO DE OURO” se não algo parecido. Algo como uma figura da antiga Grécia a qual poderia dar certo: “O VELOCIMO”. Assim, Ângela teria enormes verificações para anotar ao seu mimoso caderninho de cabeceira.

--- É certo que todos os nomes são bons. Mesmo assim eu prefiro o primeiro. Sinto nele algo de surpresa. As pessoas pensão logo no primeiro nome. Por isso, eu aprovo “A BOTIJA”. Nome singular. Vale a pena por um nome desse estilo. – comentou Jorge D.

--- Eu também endosso as palavras do meu tio. – ressaltou Honório a sorrir.

--- É. Até que é bom. Botija. Nome alheio e as pessoas ricas ou não logo aprendem. Vá à Botija! – emendou Ângela a sorrir franco.

--- Assim ficamos certos. Agora é ao serviço. Você pretende contratar quantas pessoas? – indagou Jorge D

--- Três. No muito: três. Pode ser duas pessoas. Com o passar do tempo nós sentimos o que precisa ser feito. – falou Ângela então alegre.

--- Muito bem empresaria. Hoje mesmo eu faço uma chamada pelo jornal. Agora, ao serviço! – falou bem alto e alegre Jorge D.

O local onde havia o escritório ficava no primeiro andar. Era ali que Jorge D durante o dia mantinha atendimento aos clientes. Na parte de baixo tinham dois compartimentos fechados. Então, a moça teve a idéia de montar o seu escritório logo em baixo. A medida do que fosse feito progresso, podia-se alargar para outras partes. De inicio, chamar-se-ia o contador. Ele tomaria conta dos papeis e documentação da loja. Far-se-ia um reclame de uma loja cujo funcionamento dar-se-ia dentro de um mês. Ou mesmo em quarenta e cinco dias. A jovem Ângela aproveitaria o momento de trabalho para manter serviço de aproximação com os próprios produtores artesanais. Era assim que a jovem moça começaria o trabalho.

O telefone chamou e Ângela atendeu. Era a sua irmã Adélia para conversas triviais. Na ocasião, Ângela lhe disse o que havia feito. A moça, Adélia, foi tomada de surpresa. Em contrapartida, Ângela lhe disse que aquilo era só o começo e a nova firma precisaria de uns três empregados. No inicio, apenas dois. Porém a visão era ampliar o atendimento. Por isso ela falaria em três. O serviço seria feito, em certos modos, por encomenda. Era uma loja de atendimento ao cliente para fazer presentes aos seus parentes e amigos. Isso de forma preferencial. Teria um projeto de artes visuais, artes e desenhos, produtos de artesãos, oficinas, artes contemporâneas, teorias e entre tudo, o meio estudantil. Era um mundo de o que fazer. A irmã de Ângela ficou admirada com a intenção de sua querida mana. E em instantes chegou a falar não ter noção do que Ângela pensaria tanto.

--- Isso é o começo, mana. O começo! – sorriu Ângela como quem diz – “Pra você ver a irmã que tinha em casa.” Porém não disse nada a esse respeito.

E a conversa se prolongou por mais algum tempo com Adélia a desejar imensas felicidades para Honório – que havia saído para o Porto – e conversaria mais tarde com a irmã, Ângela. Então Adélia desligou o telefone da repartição. Na sua mesa de trabalho Ângela teceu um leve comentário para consigo mesma: “Adélia perdeu a partida” – pensou Ângela. E depois sorriu.

Quando a hora passou, Honório se postou em frente da repartição de Adélia, para fazer a vez de mecânico consertando qualquer coisa no seu automóvel. Na verdade, ele não estava fazendo coisa alguma e depois de algum tempo se dirigiu ao portão da Procuradoria pedido do vigilante o favor para que permitisse ao homem lavar as mãos em uma torneira ali existente. O vigilante permitiu e ele entrou com as mãos sujas de graxa a qual melara de propósito em algo qualquer. Depois de entrar, ele rumou para a sala de Adélia a fim somente de cumprimentar. Assim o fez. Adélia se alegrou com a presença de Honório e levou conversa feliz e descontraída para Honório do jeito que ele queria. Conversas simples, noivado, coisa rápida, empresa e tudo o que se dava de uma só vez. Honório chamou a moça para um canto remoto no jardim da Procuradoria e então pode explicar com toda a franqueza o noivado.

--- Eu fui à casa de sua tia para pedir para você ir comigo a posse do novo presidente do Clube e você não aceitou. Dias depois, já desencantado com a vida, eu pedi Ângela em casamento. Foi isso o que houve. – comentou Honório com um soluço na voz.

--- Entendo. Entendo. Porém foi tudo muito rápido. Hoje, a mana telefonou dizendo que agora ela assumiu um novo cargo. Tudo isso é rápido demais. Eu mesma não suportaria. Apesar de ter um emprego fixo. – falou baixo Adélia.

--- É. O caso do emprego até a mim surpreendeu. Eu não esperava aquilo. Nós estamos – eu e o meu tio – numa fase próspera. Não havia de tal necessidade. Mesmo assim, eu apoiei na organização de nova empresa. Uma não tem nada a ver com a outra. São duas empresas. – argumentou Honório também falando baixo.

--- Mas a mana é uma menina. Não sabe lavar nem as calcinhas dela. Para você vê. – sorriu Adélia ao dizer tal proeza.

--- Não duvido. Não duvido. Mesmo assim, agora ela assume o posto de uma empresária. Isso vai custar muito a ela. Não é brincadeira, não. – ressaltou Honório com certa cisma.

--- E você assume mesmo o papel de noivo? – indagou Adélia embora triste de ter perdido a parada de certa forma.

--- De certa forma, assumo. Eu sei que vai ser duro para mim. O meu caso era com você. Porém ao ver perdida a peleja, eu decidi de outra forma. Agora, se você topar. ...! – argumentou o rapaz um tanto coloquial.

--- Topar o que? Você trair a sua noiva? – indagou Adélia de forma surpresa.

--- Era sim. – sorriu Honório para a moça.

--- Não. Isso eu não faço. Ela é a minha irmã. E mesmo que não fosse. Você deve entender. – falou devagar Adélia.

--- Eu não entendo. Um coito, um sexo não tem nada a ver. – sorriu Honório.

---Veja bem. Eu sou uma moça. E então? – perguntou Adélia assustada.

--- E então deixa de ser. – sorriu o rapaz.

Adélia sorriu francamente como se tudo estivesse em um paradigma deveras muito simples. A contemplar o semblante da virgem dama notava-se aquilo que ela podia não trazer ou não fazer de fato. Com isso, Honório voltou a perguntar.

--- Escute. Eu não ligo para as convenções desse sentido. Você, talvez acredite. Mesmo assim, eu vou te perguntar: você ainda é virgem? – indagou Honório de olho para olho.

--- Claro que sou! Não acreditas? – respondeu Adélia de uma forma cautelosa.

--- Não. Não. Não é isso. É porque a gente faz algo que não quer e acaba rompendo o elo que prende a virgindade. Não que acredite nisso. Para mim, é insignificante. Mesmo assim, para a mulher é um fator deveras valioso. – retrucou o rapaz querendo apenas ter a oportunidade de haver algo que ele pudesse sentir na verdade.

A moça sorriu francamente para a alegoria que se formalizou no contexto delirante do que Honório falou. Ela virou bem o rosto do rapaz para se igualar ao seu. E indagou com firmeza.

--- Não crês em mim? – indagou com suavidade a jovem requintada.

--- Eu não duvido. – respondeu o rapaz sisudo.

--- Quando queres ter a certeza? – indagou Adélia ardente de ciúmes e de paixão.

--- Não seria demais te pedir “agora”? – inquiriu Honório a Adélia.

--- Agora? Já? No meio do mato? – perguntou a moça um meio assombrado pelo aspecto que fez naquele instante.

O lugar era amplo, cheio da brisa do oceano, tarde calma, bentivis correndo a beira mar. De longe, o farol não funcionando. Cajueiros faziam sombras em pleno arrebol do entardecer, aves faziam festa em todo o percurso. A noite não tardaria a chegar. Talvez lenta e efêmera, de singela e curta duração. Pescadores seguiam para a cidade, com os seus pescados à mão. Cestos suspensos, presos pela vara de pesca. Eram os saburás que eles levavam nos sofridos caminhos de casa. Do alto do monte se podia ver de tudo. Os barcos de pesca chegando de alto mar, casais de namorados se banhando na praia de água morna, siris a correr apressados procurando suas tocas. À margem o mar revolto e as ondas não deixando para trás o que podiam levar em seu arremesso. Era o fim de um novo dia.

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