quinta-feira, 9 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 15 -

- Mary Anderson -
- 15 -
No sábado, Honório não voltou para a sua casa. Fazia parte do seu plano. Dormira mesmo em um Hotel de segunda categoria. No balcão deixou um recado para lhe acordar à uma hora da manhã, pois teria de viajar logo cedo. O Catamarã tinha uma rota prevista: saída às cinco horas da manhã; viajar até a Ilha de São Simão; seguir depois para o arquipélago das Três Irmãs; logo após, viajar para a Ilha do Cachimbo Torto e, por fim, chegar ao arquipélago de Odessa. Esse seria o ponto final da turnê. Depois a viagem de volta. Por certo, o Catamarã chegaria ao Porto na manhã da segunda feira. Da viagem que o barco faria, o ponto de maior destaque seria do Porto do Cachimbo Torto, pois o local era cheio de lagos, rios e cachoeiras. Podia-se tomar banho de mar em diversos pontos onde o barco parava. A ilha de São Simão e o arquipélago das Três Irmãs eram portos bem menores e sem grande atrativo. A não ser as lagoas existentes do arquipélago das Três Irmãs onde os passageiros poderiam gozar das delícias paradisíacas da viagem ao sabor natural.

Às duas horas da manhã, Honório já estava em frente à casa de Adélia a espera. As duas irmãs terminavam de se aprontar para poder seguir viagem. A noite era calma, sem frio ou calor. Um andarilho passou ao largo. Parecia ébrio, foi o que Honório pensou. O Bêbado deu boa noite ao carro. Enigma. Cambaleando, saiu a caminhar, mais para lá e mais para cá. As calças rotas não permitiam o bêbado puxar para que elas ficassem em seu ponto. O rapaz sorriu calado como quem dizia;

--- “Ora já se viu!” – comentava em seu pensar Honório completo e calado.

Com pouco tempo as duas irmãs saíram de casa, prontas para a viagem. Ângela a sorrir como criança era a alegria sem fim. E veio correndo, com sua bagagem, para abraçar Honório em um imenso abraço. Beijo também deu como não poderia deixar de fazer com seus olhos brilhantes em plena luz da madrugada. Em seguida surge Adélia, puxando sua enorme bolsa com tudo o que precisava. Com certeza ali estavam calcinhas, toalhas, roupa de banho, vestidos e toda a sorte de bronzeadores, xampus, sabonetes, eventos para passar na pele e não ficar muito ardente e bronzeada, batons. Enfim: de tudo tinha um pouco. Era, afinal, uma viagem onde outras pessoas e até meninos também haveria de estar. O matulão da moça pesava mais do que o carro:

--- Olá. Como vai. Chegou cedo? Coisa pesada! – e ela fazia força para soerguer do chão.

--- Olá. Cheguei quando vocês estavam se arrumando. Eu vi pela luz da sala. Deixe para que eu ponha a sacola. – respondeu o rapaz com sorrisos módicos.

--- Pesada não é? – perguntou Adélia.

--- Viagem é assim. E você menina? Tem mais coisas? – perguntou Honório a moça.

--- Menina, não! Eu sou mulher. Ora. – falou abusada Ângela torcendo os lábios.

--- É o modo de falar, MENINA! – respondeu o rapaz a sorrir.

--- Não quero ouvir esse nome nunca mais dito por você. E fique sabendo: eu vou ao banco da frente. Quem quiser que vá atrás. – voltou-se Ângela para pedir a bênção a mãe.

O Porto já estava com bastante gente para seguir no barco Catamarã cuja previsão era largar às cinco horas da manhã. Honório e suas duas amigas chegaram bem cedo e se prepararam para embarcar, escolhendo os melhores locais de hospedagem para por o que trouxeram para a longa viagem. O comandante do barco um senhor alegre, gordo e alto, era todo feliz ao ver tanta gente correndo para embarque. Na verdade, aquela cena o comandante já presenciara por inúmeras vezes. Porém, sempre uma largada era como se fosse a primeira. Por tal motivo o comandante se mostrava feliz da vida apresentando os seus cumprimentos a todos que embarcavam. Pensava ele o sucesso da viagem era o esmero de seu desempenho. Em meio a tanta presa dos embarcado, cada um procurando o seu lugar, pois a chave era numerada, Honório estava com sorte vez que a sua chave era a do primeiro andar, como pedira ao homem que transacionou esse local.

Com o fim de colocar seus petrechos nos gabinetes de guardar, os três ficaram, por fim, sorridentes com a alegria de poder viajar no barco cujo nome Adélia não atinava dizer:

--- Catamarã, sinhá burra. Aprenda! – disse-lhe Ângela com arrogância.

O barco tinha cabines com cama para casal, sala, cozinha, banheiro, cozinha, água doce, banho frio e quente, local para se armar redes de repouso, vários compartimentos para guardar material de mergulho e serviço de bar e quarto para garantir a melhor hospedagem. Quando as duas moças foram visitar o restante do barco, era tamanho o movimento de passageiro que não para fazer coisa alguma e elas tiveram que voltar aos seus aposentos. Nessa ocasião, Ângela errou a porta e entrou numa cabine onde estava um homem completamente nu. A moça tomou um susto e deu um gritinho saindo em seguida sorrido como besta.

--- Vamos repousar. – falou Honório dentando-se na rede armada e dessa vez as moças perguntaram a uma só voz.

--- E onde a gente troca a roupa? – perguntaram as moças entre sorrisos e gritinhos.

--- É para eu cair fora? – quis saber Honório com aquele repente das moças.

Essa foi uma hora de intensa gargalhada. As moças nem podiam mais parar de sorrir. Na hora que a embarcação se preparava para zarpar, foi outro temor das moças. Quando a buzina ecoou, foi um desespero total e cada uma não sabia onde se meter.

--- Socorro. O barco vai afundar!! – gritou alarmada a irmã menor e se acudindo na rede onde Honório estava. Nesse instante, o rapaz caiu ao chão pelo desespero de Ângela e também ficou apavorado com o ímpeto da mocinha.

Ao se soerguer do chão, com moça e tudo, o rapaz teve que explicar que era hora de largar e aquelas buzinas era só de advertência para os que não tinham bilhetes de passagem. Era a hora de descer os que não podiam ir. Passado aquele susto inicial e se acostumando com a barulheira que fazia a criançada correndo pelos corredores, atropelando uns aos outros, as duas moças se acomodaram com o que fazer.

--- Agora é esperar a xepa! – falou Honório amplo de alegria. Aquele era um verdadeiro momento de jubilo e entusiasmo para o decente rapaz.

Eram cinco horas em ponto quando o barco começou a navegar rio a fora procurando a saída da barra até atingir o alto mar. A dança das ondas fazia Adélia querer vomitar enquanto Ângela sorria abertamente a galhofar da irmã. A cada balanço do Catamarã, Adélia fazia a vez de vomitar. E a cada gesto da irmã, Ângela caia na gargalhada. Quem estava serio era Honório procurando dar algo para a moça cheirar. Uma laranja fazia bem para a jovem. Agoniado, Honório procurou o moço de bordo e pediu um remédio ou qualquer outra coisa para dar a Adélia cuja paciência já esgotara a cada balanço do barco. Enfim, o moço de bordo apareceu com menos de cinco minutos trazendo uma substância para dar a Adélia e pediu para ela repousar um pouco até passar a agonia que a moça sentia. O certo é que, com o passar do tempo, por volta das sete horas, a tranqüilidade voltou a reinar no céu de Adélia dessa feita, uma moça de forma estonteante e meiga. Com o tempo já quente, apesar da brisa soprando em mar aberto, o café foi servido para os que não tomaram nada até àquela hora. Frutas em quantidade eram servidas. Além disso, leite, café e sucos. As frutas pareciam frescas pelo seu sabor e aroma. Sem querer comer muito, Adélia tomou um poço de chá. Quando se animou, tomou suco de frutas. Logo em seguida, ingeriu pedacinhos de bolo.

O Cataramã divisava o primeiro ponto da viagem turística: o Forte de São Simão com o seu farol. Os passageiros vieram todos para a proa para a alegria geral. O Comandante avisou que faria uma ligeira parada no porto antes de seguir viagem aos demais locais. Quem mais estava entusiasmada, na viagem, era Ângela. A todo instante a moça queria saltar do barco para o mar tranqüilo daquele remanso. No entanto, Honório advertiu que Ângela devia ter cuidado com ostras no fundo do lado.

--- Ostras? – estranhou Ângela a ouvir Honório prevenir.

--- Sim. Ostras. As conchas cortam a pele da pessoa. É preciso ter cuidado! – advertiu Honório.

--- Mas ostras a gente não come? – perguntou a mocinha encostando-se em Honório.

--- Sim. A gente como sim. Até mesmo as ostras cruas. Mas você pode reparar no casco que elas estão como são afiados e perigosos. Cortam como navalha! – advertiu o rapaz.

--- Nossa! Que “monstras!!!” – respondeu em contrapartida a moça.

--- Vai pular, vai! – gozou a irmã mais velha de Ângela, sorrindo a valer.

--- Eu pulo, se quiser! Não tem ostra que me empate, ora! – respondeu Ângela aborrecida.

Nesse ponto quem gargalhou demais foi Honório por não poder suportar tamanho desatino da mocinha querendo desafiar as ostras. Ele sorria como uma besta tola. E até demais. Adélia acompanhou o rapaz no sorriso, pois era a vez em suma, de descontar o mau que passara ao barco começar a navegar por mar aberto e a moça fazer a vez de vomitar. Ângela voltou-se para a irmã e fez um gesto delinqüente e saltou na água fria do mar. Outros componentes da viagem de turismo também haviam saltado e mergulhado como se fossem peixinhos do mar sem temer qualquer coisa e nem casquinhos de ostras. A turma que ficara à bordo apenas passavam o tempo a observar, pois estavam se guardando para aventuras bem mais além, talvez nos rios da Ilha do Cachimbo Torto.

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