segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 26 -

- Carice van Houten -
- 26 -
Durante o almoço tudo era festa. As esposas dos novos dirigentes estavam lado a lado, parecia até uma confraria. Os homens eram com os homens. A esposa do novo presidente era gorda até demais. Vestia um robe de seda vermelha, longo por sinal. Era a mulher melhor vestida no cerimonial da posse. As demais damas tinham vestidos variados, todos eles estampados. Os que não eram estampados ficavam pelos menos bordados. Cada qual com o seu majestoso robe de forma balonê ou de crepe. Havia damas alegres e descontraídas, apanhando o seu prato, ou mesmo aquelas abusadas esperando o garçom à sua mesa. De longe, estava a bela noiva do recém empossado diretor de esportes, Ângela Emerenciano Soares a vislumbrar do local onde estava, ao lado de Honório Dumaresq, as damas dos velhos e novos amigos. Algumas já eram conhecidas, talvez da época do Colégio. Outras estavam se conhecendo naquele momento. De qualquer forma, tudo era uma festa, até porque era tudo o começo de uma grande luta de tenaz proporção.

--- Comam todos! Encham o bucho para não dizeres que passaram fome da festa! – gritava o presidente Ernani para os seus amigos e confrades na maior alegria do mundo.

E os amigos cantavam para o presidente músicas formulados para a oportunidade. De um modo ou de outro, apesar de só haver conversa de esporte, tudo saiu magnificamente perfeito com a cozinha servida pela “Adega Social”, a mais requisitada para eventos singulares como o da festa do novo presidente do Clube Lagunas. Presente também ao evento da organização do evento os diretores do clube convidado: “Esmeralda Esporte Clube”.

Quando o almoço terminou, por volta das duas horas da tarde, todos os convidados ou quase todos, deixaram o recinto e buscaram suas moradias para trocar de roupa e alguns deixarem as esposas e as filhas e filhos, pois no segmento haveria o jogo de futebol com entrada franca entre os dois times, o Clube Lagunas e o time Esmeralda todos os dois conhecidos por Azulão e Verdão. É certo que filhos, esposas e afins teriam o gosto de ver o embate futebolístico. A mulher do Presidente Ernani também estaria presente com outro robe, por certo. Igualmente estariam os filhos de Ernani no Estádio de Futebol da Federação de Esporte da cidade. O surpreendente resultado da partida não foi tão grade surpresa. Após noventa minutos de embate a partida em empate por um gol para cada lado.

No dia seguinte, Honório se encontrou logo cedo com sua noiva, a bela Ângela, para seguirem ao trabalho. A moça não queria saber de nada, pois sua emoção era ter a aliança de noivado, com uma jóia de luxo. O automóvel seguiu célere para o escritório com Honório a relembrar os acontecimentos do dia passado e a sorrir pelo ocorrido com as várias situações acontecidas desde a hora de posse ao almoço de confraternização. Nada, porém ele notou da conversa entre Ângela e o rapaz Sandoval Marinho chamado apenas de Maneco. E Ângela se reservou ao silencio aguardado uma melhor oportunidade para lhe falar, como o caso em suspense das bananas. A moça, ao relembrar esse episódio, sorriu que até surpreendeu ao seu noivo.

--- Por que estas a sorrir? – indagou Honório.

--- Por nada. Pelo que você disse. – sorriu Ângela a disfarça a verdade dos fatos.

--- Não é verdade? – disse Honório ao relembrar o caso do presidente.

--- Sim. O modo como ele falou. – sorriu Ângela a combinar com o caso das bananas.

O que Honório falou foi do engasgue que Ernani teve ao falar na posse. E Honório se lembrou das competições nacionais onde os times não tinham o melhor estilo de atingir o primeiro lugar no campeonato. Desse modo, o Clube Lagunas chegaria ao final do certame na primeira posição apesar da “guerra” formada pelos comentaristas esportivos, cada um torcendo por sua agremiação favorita. Na verdade, tinha o caso das receitas dos clubes. A verdade é que se deviam criar novas modalidades para os torcedores apostando nos ocorridos nas partidas. Apesar de tudo, Honório não pensaria nos resultados das partidas. Na situação em viviam os times não podiam o tanto de recursos. A questão é que faltavam recursos para cada clube assumir um papel mais ativo. Tal pensar, Honório levaria a expor na próxima reunião do clube.

No decorrer do dia, apareceu em seu escritório o amigo Maneco, a procura de Honório, pois havia reunião logo mais à noite com o presidente Ernani. Porém, Honório havia saído e então Maneco deixou recado com a sua noiva, Ângela, de que ele não podia faltar. A moça confirmou o recebimento do aviso. Aquele entrave era mais uma oportunidade desfeita para os dois pombinhos se amarem outra vez. Contudo, tinha um, porém: Honório a levaria à sua mansão para a moça conhecer a senhora Do Carmo, sua futura sogra. E mais ou menos foi assim que aconteceu. Porém, no decorrer do dia um telefonema Ângela atendeu. Era a sua irmã Adélia. A moça desejou os melhores votos de felicitações para o casal de pombinhos. Ângela agradeceu a presteza da irmã e disse até que não esperava aquele momento de forma alguma.

--- Mas, é o jeito. Você gostou de Honório à primeira vista. Não alarmaria em ele te pedir em casamento. Eu, de minha parte, desejo toda a felicidade que haverás de ter. – comentou Adélia ao telefone.

--- Obrigada! (sorriu Ângela). Parece que ele me quer mesmo. – sorriu outra vez a noiva.

--- É. Vá firme. O rapaz é um bom moço! – declarou Adélia.

--- Eu vou mesmo. – sorriu Ângela imersa em contentamento.

Com o passar das horas, Ângela somente pensava em Honório, se esquecendo até de bater máquina de datilografia. Quando o senhor Jorge Dumaresq surgiu na porta do escritório, ficou até surpreso com o anel de noivado no qual a moça punha a sua maior ambição. O homem olhou com surpresa e indagou da jovem moça se ela estaria mesmo a noivar. Ela respondeu que sim.

--- E quem é o pretendente? – indagou Jorge D.

--- É o seu sobrinho. Honório. – sorriu a moça toda desajeitada.

--- Sacana! Todo aquele homem sério e cego e agora é noivo! – sorriu Jorge D.

--- Eu mesma até que me foi surpresa! – respondeu a moça.

--- Eu sei. Eu sei. E que surpresa! – rebateu sorrindo Jorge D.

A moça, profundamente acanhada, procurou cobrir com os dedos o anel de noivado.

Às onze horas da manhã da segunda-feira Honório convidou o seu tio para, com ele e Ângela os três irem almoçar em um restaurante de luxo do Bairro Alto. Era a primeira ocasião de Honório em custear a despesa de um almoço com o seu tio. Apesar da recusa de momento e de falar ser melhor convidar a todos, sua mulher e dona Do Carmo, o rapaz não se conteve, pois em família seria apenas para depois que Ângela conhecesse a sua futura sogra. Enfim, Jorge D. concordou em ir, telefonando para a sua mulher não esperá-lo para o almoço, pois tinha outros compromissos. Apesar a arenga ao telefone, os três seguiram para o Restaurante Magestic, um luxo de restaurante freqüentado apenas pela fina flor da sociedade da cidade. Os dias de segunda-feira eram o de menos movimento no Restaurante, por sinal chamado apenas de Magestic. Os três convivas sentaram-se em uma mesa onde todos os transeuntes pudessem vê-los para a alegria de Ângela e o entusiasmo de Honório. Com relação a Jorge D. esse era sempre bastante sóbrio dando as suas risadas em tempo certo. E na oportunidade, Jorge D. perguntou qual o nome da jovem noiva, por sinal ele o esquecera.

--- Ora tio! Como o senhor se esquece do nome de sua auxiliar?! – indagou Honório surpreso.

--- A velhice, meu sobrinho. A velhice! – sorriu Jorge D. se desculpando pela gafe.

--- Ângela, senhor! Ângela Emerenciano Soares. – respondeu a moça ao inquieto velho tio.

--- Ótimo nome. Emerenciano: uma pessoa que merece; que tem muito mérito; Indica uma pessoa aberta para a revisão dos seus próprios valores, quando isso parece importante. A origem do seu nome é do Latim. – respondeu o velho Jorge D..

--- Está vendo? Esse meu tiú é formado em nomes esquecidos. Isso eu nem sabia. – contestou Honório a proeza do seu velho tio.

A moça ficou encabulada apesar de saber ela de origem italiana, pois seus parentes distantes provinham da Itália. Com certeza, ela estaria no meio de tais parentes. A moça calou a pensar no seu pai. Mesmo assim, sua mãe é quem puxava o nome de Emerenciano. De momento, Honório indagou da noiva:

--- Ficou triste? – falou Honório ao olhar bem o rosto da noiva caído para o chão.

--- Não. Eu fiquei sem saber o que dizer. Itália é terra de meus antepassados. Disso eu sei. Porém, há quanto tempo eles migraram para esse território? – perguntou a moça.

--- Ora. Faz tempo. Muito tempo. – respondeu Honório procurando reanimar a noiva.

--- Foi por volta de 1860. Os primeiros imigrantes italianos. Não faz tanto tempo assim. Seus avôs chegaram por volta desse ano. Não se incomode com isso. É tempo de se alegrar. O dia é de festa. Eu já posso dizer que você é funcionária dos Dumaresq, pois vejo que você é uma Dumaresq. Vamos juntar as taças para celebrar esta emérita oportunidade. Então: Viva os Emerencianos! E Viva os Dumaresq! – e assim o velho ergueu a sua taça em companhia dos recentes noivos.

--- Viva!!! – respondeu sorrindo o jovem Honório.



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