quinta-feira, 16 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 22 -

- FAYE MARLOWE -
- 22 -
Eram cinco horas da manhã de um novo dia. O céu estava calmo. Catarina já havia levantado da cama no seu quarto para cuidar da refeição de Honório, dona Do Carmo e o restante de pessoas que estava na Mansão, incluindo Damiana. Como Honório disse “bem cedo”, ela então teve a intenção de chamá-lo as primeiras horas do dia. Quando Catarina foi até ao quarto de Honório para acordá-lo ele ainda estava dormindo a ferro solto. Ela entrou bem devagar, sem ao menos fazer o mínimo barulho, fechando a porta pelo lado de dentro e chamou o rapaz com todo o cuidado para não acordar a casa inteira, Ao tocar de leve no ombro de Honório este acordou com o abrir de um olho, pois estava deitado de bruços em sua cama. Mesmo assim, fez de conta de que estava a dormir. Catarina insistiu. Pela terceira vez, ele agarrou a moça pela cintura e chamou-a para cima da cama e pulou para deitá-la enquanto a moça tremia de assombro. Querendo se desvencilhar da força brutal do homem este a conteve com um longo abraço a dizer:

--- Você agora vai ficar aqui! – rosnando por cima da fêmea agoniada de tanto abraço.

--- Saia, homem. Me larga. Deixa eu ir! Ave..! Deixa..- dizia Catarina apavorada e medrosa.

--- Deixa nada! Onde está a calcinha? Me mostra! Rannnnn! – fazia o rapaz cheio de ânsia.

--- Me sooolta! Eu grito! – falava mal a mulher.

--- Grita nada! Você vai ter o que quer! Logo! Venha! – clamava Honório com terror.

De tanto esforço que fez a mulher então cedeu abraçando-se com Honório e rompendo a solidão de seus cuidados eróticos. O coito durou até as seis horas da manhã. Quando reparou no relógio de parede, Catarina pulou fora da cama e disso ao homem:

--- Você me paga! – e saiu do quarto enquanto Honório sorria e procurava mais repousar.

Logo após seis horas Honório saiu do quarto e foi para o banheiro fazer as suas necessidades habituais. Ao terminar e ao sair do banheiro ainda todo molhado, correndo para o seu quarto, ele se deparou com Damiana que estirou a língua como quem faz por brincadeira. Honório, enxugando os cabelos, sorriu para a mulher ainda bem novinha e entrou, fechando a porta por dentro, deixando a chave no lugar para evitar alguma outra “invasão” àquela hora da manhã, por parte de Damiana. Mesmo, com a porta fechada, ele escorou no lugar uma cadeira para dar maior segurança ao ambiente. E não foi por pouco. Logo após, Damiana tentava abrir a porta, porém e estava bem fechada. A mocinha de quinze anos disse qualquer coisa atrevida e saiu de repente do lugar. Honório observou a façanha e pôs a sorrir. Cansado que estava ele não mais queria outra aventura logo cedo da manhã.

Havia um cisma de Honório a respeito de Damiana. Ela estaria namorando e até mais o rapaz Domingos, o chamado “Peru Falante”, filho de um europeu, porém para não dizer a verdade ele sempre contava ser o seu pai um morto da Guerra de Cuba. Nem todo o pessoal acreditava na história. Por tal motivo costumava-se chamá-lo de “Peru” e em conseqüência, também “Falante”. Peru, por causa do dizer constante do seu pai morto da guerra. Era tão próprio para ele mentir a esse respeito que alguém o chamou de “Peru”, pois gorgolejava a fio.

À noite desse dia Honório esteve na residência de Adélia para saber de algo de novo. Ela não estaria em sua casa. Isso já então era bastante normal. Honório procurou saber onde morava a tia da moça. A sua mãe lhe disse ser muito longe. Honório não acreditou nesse “muito longe”, pois a mulher costumava ir à residência de sua irmã. Por isso, nem pagando, essa distancia era imensa. Ele forçou a dona Almira a lhe ensinar o percurso e a mulher disse não saber dizer ao certo. Nesse ponto, Ângela surgiu à porta e logo foi dizendo.

--- Eu ensino! Quer ir lá? – perguntou a jovem moça.

--- Gostaria de ir. Afinal a sua tia está enferma. Isso me leva a intenção de visitá-la e, aproveito para dialogar com Adélia. – respondeu o rapaz.

--- Pois vamos! Estou arrumada! – respondeu Ângela com um sorriso maroto.

Assim os dois pegaram a pista – pelo modo de falar, pois o caminho era uma estrada de barro batido onde em alguns cantos só existia areia. No caminho os dois foram a conversar. A moça logo perguntou sem manhas:

--- Vai? – indagou de forma faceira a jovem.

O rapaz respondeu de forma repentina.

--- Coisa nenhuma! Estou morto de cansado. Eu estou aqui para convidar vocês para a posse do presidente do “Lagunas”. Vai ser domingo. Começa às dez horas da manhã. Tem partida de futebol com um time de fora, o “Esmeralda”, conhecido como “Verdão”. – reportou Honório.

--- AH. Já sei que ela não vai. Inventa mil historias. Ela detesta jogo, mesmo que seja de botão. Nem pensar. Você vai perder a viagem. Era mais fácil a gente ir. – gracejou Ângela.

--- Hoje não. Eu pergunto: você vai comigo?. Mesmo se ela for? – indagou Honório.

--- Se ela “não” for eu aceito. Mas. ... – sorriu a moça.

--- Não estou brincando. É verdade. Ernani “Ganso Frito” é o novo presidente. Toma posse no domingo este. Eu sou convidado para Diretor de Esporte. Aliás, eu já fui eleito. Falta tomar posse. Você quer ir? – quis saber Honório.

--- Claro que sim, meu verdadeiro e insubstituível amor. Eu sereia a “outra” na festa. – brincou Ângela com o rapaz.

--- Que outra que nada! Vai ou não? – exigiu o rapaz a resposta decisiva.

--- O que uma “puta” não faz por seu amante. É claro que sim, macho besta! – sorriu Ângela.

--- Você! Quem te compre! Deixa desse negócio de falar mal de você mesma! – falou meio forte o rapaz Honório.

--- Mas o que eu sou? Você vive cozinhando seu sentimento a procura de Adélia. E eu sempre estou “quebrando o galho” do homem. Para mim você apenas é “amante”. E nada mais. Amante a moda antiga. Amante que me faz do côncavo ao convexo. – gargalhou Ângela até lacrimejar.

--- Não sei por que fui me meter com você. Aliás. Não fui eu, e sim você me fazendo de belo Antônio naquela madrugada a bordo de um Catamarã. – falou o homem desorientado.

--- Gostou? – indagou a moça com malícia no seu olhar.

Honório olhou para Ângela e de um momento para outro encostou o carro quase em uma esquina de rua e a beijou febril. E Ângela contrapôs da mesma forma enlaçando o seu amante pelo pescoço e puxando o homem para cima nem se importando com uma menina de seus oito anos que olhava abismada toda a cena conjugal. Da janela, uma mulher parecendo mãe da menina convidou a entrar, pois a noite estava muito quente até demais. A menina nem fez ouvidos como se aquela aquarela fosse o sinônimo de uma representação de algo como se fosse o desabrochar de eterna maturidade infantil.

Após o ímpeto cruel de amor selvagem, Honório acionou o seu novo/velho carro e partiu com pressa para o local onde Adélia estaria com certeza a dormitar e afagar a mulher enferma. Ele teria a firmeza de encontrá-la sempre dessa mesma forma. Em determinado instante, Ângela lhe deu a posição certa.

--- Naquela casa! – comentou Ângela sem o mínimo de anseio.

--- Aqui? – indagou Honório.

--- É. – respondeu Ângela sem o menor orgulho possível.

--- Mas está fechada! – reclamou Honório.

--- Bata palmas. Ela ouve. Não buzine! – reclamou Ângela com o rosto de quem sabia algo.

O rapaz desceu e deixou Ângela no seu assento. Ele olhou para Ângela e sorriu. Foi mais a frente e bateu na porta. A voz de um homem fez Honório estremecer de temor.

--- Quem está aí fora? – perguntou a voz do homem. Deveria ser alguém de casa.

--- Um amigo de Adélia. – respondeu Honório muito cismado.

--- Amigo? Que amigo? – respondeu a voz de dentro.

--- Honório. Ela me conhece! – falou Honório.

A porta abriu e um homem corpulento de meia idade se pôs entre o homem e a visão de dentro da casa. Honório ficou sem saber se corria ou se ficava diante de tanta massa humana, pelos nos braços, queixo grosso, olhos abertos, porem usaria óculos, pois suas marcas estavam no nariz, barba feita, pescoço grosso. Tudo mais que faltava num monstro.

--- O que é que o senhor quer? – falou o homem com voz firme e resoluta.

--- Adélia, por favor! – disse Honório.

--- Adélia? Aqui não mora ninguém com esse nome! – falou forte o homem.

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