quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 29 -

- Lolita Emo -
- 29 -
No domingo era festa para todos os participantes. Quem eram noivos: Honório e Ângela. Porém, a festa começou às dez horas da manhã sem fim para terminar. Presentes apenas os convidados mais próximos, como a família dos Emerencianos e parte da família dos Dumaresq certamente. O local foi na Mansão dos Dumaresq, residência ampla e muito bem conservada, vinda da época dos avôs Dumaresq e passando para o herdeiro Dumaresq, único filho do casal, seus avôs. Quando Dumaresq morreu, ficou como herança a esposa Do Carmo. Essa também tinha apenas um filho. Seria ele o herdeiro. Os demais Dumaresq tinham o seu solar amplo em cada canto da cidade. Porém isso não se falava na festa. O homem Jorge D era um dos mais influentes da família por seu poder de organizar o seu patrimônio. Os demais irmãos tinham alguns bem abastados e outros com certeza pobríssima. Era uma família rigorosamente importante. Contudo, desde sua origem na Europa, os Dumaresq tinham por tradição pouco falar ou contar, sabendo-se que era uma gente de modo pobre e que se punha apenas de fazer objetos para presentes e vender aos nobres. Era uma reminiscência, com certeza. No caso mais presente, apesar da noiva ser de origem italiana, era por certo um casamento singular, não importava de qual família era Ângela. O importante era ter um Emerenciano.

O almoço tradicional foi servido ao meio-dia com vinhos, champanhes, vermutes e outros requintes da boa mesa. Havia peru, leitão assado e outros gêneros alimentícios com certeza para a satisfação de todos. Não havia prato principal, porém todos comeram de tudo. A noiva era deslumbrante e bela ao lado do seu noivo. A certa altura o noivo, já um tanto ébrio, gritou para todos os presentes em volta da mesa:

--- Isso é apenas o noivado. Preparem-se para o casamento! – e entornou um botijão de vinho garganta abaixo.

A festa checa geralmente se dá em um campo ou em uma montanha. Isso no casamento. Porém no noivado é a tradição mais comum. Nesse ponto, se faz a noticia de que o casal se propõe se casar com a celebração de bodas. O noivado é uma relação que supõe um maior comprometimento que o namoro, pois estabelece a promessa de futuro casamento. A festa de noivado é a celebração que anuncia à sociedade que duas pessoas resolveram prometer-se em matrimonio. Nesse ponto é que se dedica as alianças do pré-casamento. Conforme a tradição checa, o noivo pediu a mão da noiva e pôs o anel pré-nupcial como símbolo do seu amor maior para o festejo – se possível em campo aberto – a ser oficiado o casamento entre os casais. Até a data das bodas, o casal se comprometia em fidelidade ampla.

Após a festa de noivado, que durou a tarde inteira, a noiva foi direto para a sua casa, sendo conduzida no carro de Honório, com sua mãe e irmã. Abraços e beijo para logo em seguida o rapaz voltar a sua Mansão, residência oficial dos Dumaresq. Tudo transcorreu na mais perfeita harmonia entre as famílias presentes. Quando a noite era tranqüila para um sono reparador, Honório foi despertado com um chamado tranqüilo e calmo de alguém a sussurrar. Era a meiga Catarina que o acordou por volta de uma hora da manhã. Naquela hora, todos na casa dormiam. Apenas Catarina estava acordada. Quando Honório despertou de seu sono, a moça sorriu e disse:

--- Agora é minha vez! – sorriu alegre para Honório.

--- Minha vez o que? – indagou o rapaz aturdido.

--- Eu disse que você havia de me pagar? Agora é a vez! – falou baixinho Catarina ao se deitar o leito de Honório sem maiores reclamações.

O rapaz um pouco aturdido, sem ao menos recobrar seus verdadeiros sentidos, olhou para a sensualidade da jovem Catarina e passou a se lembrar da tampa da tigela caída e o modo como a moça limpava o chão, mostrando de muito leve suas roupas intimas. Naquele ponto ele sentiu uma forte emoção para tocar naquele traje feminino. O tempo passou até o dia em que Catarina teve a oportunidade de ir acordá-lo numa manhã de puro azul. Daquela vez, Honório cobrou o seu desassossego. E nesse ponto, era Catarina quem vinha com ímpeto lhe fazer serventia. E o caso se deu sem maiores atropelos. A moça fez o amor contido nas suas entranhas de mulher de alcova.

A manhã seguinte foi exaustiva. Honório saiu de casa de Ângela direto para o escritório do seu tio, Jorge D onde a sua noiva já estava no desatino do dia a dia em levar a frente o seu oficio e começar a lidar com A BOTIJA, casa de amostras de artes e artesanatos, presentes de alguém para outra pessoa e muito mais. No início, Ângela estava escutando os futuros recepcionistas para ver o que oferecia melhores aptidões. Dentre muitos ouvidos se destacou uma mulher, moça de vinte e dois anos. Tal jovem moça se destacou entre as demais. Com sua inteligência de perspicácia, a mulher sentiu levar avante tudo o que havia para se fazer. Uma semana para ser aprovada e foi o necessário. O seu primeiro encargo foi o de consultar artesãos e pintores de obras de arte a se instalar na loja A BOTIJA. Tendo um campo certo para a venda dos artigos, era mais proveitoso se expor em tal loja. E foi assim que se deu.

Toda semana era uma técnica nova e especial para o artista. Ângela montou uma loja de venda a preço módico de artigos usados pelos pintores e artesãos. Na A BOTIJA tinha de tudo: tintas acrílicas, álbuns de amostras, pirógrafo, molduras, estilete, bandeja, aerógrafo, grampeador e muito mais. Era uma loja que nascia pela primeira vez no mercado. Uma casa de arte. Grupo arrojado, em um país onde o artesanato e a arte eram tímidos. Podia-se vender de atacado e a varejo e bem suprir a carência de informações técnicas. Exposições e vernissages, feiras e eventos aliados a cursos especiais em cartum desde a arte francesa a curso de cartonagem. Mosaicos e porcelana fria a modelagem com cerâmica plástica era o toque a moda. De tudo A BOTIJA oferecia aos seus alunos e clientes de dentro do país e até mesmo do exterior. Por fim, quando estivesse pronta, A BOTIJA estava completa para oferecer os melhores modelos de artigos da moda, desde caixa de madeira a bolsa de praia, de chinelos customizados em tecido a bonecas de pano.

Enquanto isso, Honório estava seguro no seu proveitoso trabalho. Foi então que um rapaz do Porto avisou para ele ter havido um telefonema de sua noiva, lhe avisando que entrasse em contacto urgente com a firma. Honório agradeceu e ligou do Porto direto para o escritório de representações e despachos do seu tio. Quem atendeu foi uma moça cuja identidade ele desconhecia. E pediu para falar com Ângela de imediato. A moça que o atendeu passou a ligação para a noiva do rapaz. De imediato, Ângela foi logo lhe dizendo:

--- Caso grave. Seu tio está no hospital. Volte urgente! – reclamou gritando Ângela assustada.

Honório se dirigiu ao carro estacionado em frente ao Porto e seguiu direto para o escritório dado o vexame de Ângela, pois seria algo muito grave até. No caminhar, o rapaz pensou em uma trombose ou um surto do coração, pois estes seriam os casos mais graves para um homem com a idade do seu tio. Carros à frente do seu dificultavam a passagem e ele não parava de buzinar insistente. Por fim, estava o rapaz em frente do prédio do escritório. El desceu do carro e foi pego pelo rapaz que tomava conta de tudo o que havia lhe dizendo que não temesse, pois o homem havia sido socorrido com a devida pressa ao hospital. Honório pouco ouviu da conversa de Miguel e entrou com mais pressa seguido de Miguel até o escritório do velho Jorge D. Ao chegar, perguntou a Ângela o que havia ocorrido. A moça não parava de chorar em companhia de sua secretaria.

--- Vamos amor! O que houve? Ligeiro! Ligue para a casa dele! – recomendou com pressa Honório bastante aturdido.

--- Mas vou dizer o que? – indagou a moça chorando.

--- Qualquer coisa! O que houve mesmo? – perguntou Honório atormentado.

--- Ele passou mal e eu mandei Abel levá-lo ao hospital. - respondeu a moça se molhando de lágrimas.

--- E ele? Onde está? – indagou nervoso o rapaz.

--- Não sei! Deve estar no Hospital. Penso eu. – declarou Ângela chorando bastante.

--- Deixa que ligo! Passe o telefone! – lastimou o rapaz agoniado.

--- Vai dizer o que? – indagou a moça ao tempo que assuava o nariz e limpava as lágrimas da face.

--- É! Não sei! É melhor irmos primeiro ao hospital. – reclamou Honório estremecido.

Os dois saíram com pressa para o Hospital e recomendou que Miguel fechasse tudo. A moça que estava com Ângela foi dispensada até o dia seguinte. O carro correu a toda pressa com o rapaz sem ouvir mais nada do que Ângela dizia. A vontade era a de chegar ao hospital e saber a verdade dos fatos. Com toda a pressa, ele avistou tão logo pode o prédio do Hospital e em seguida, o carro de Abel onde encostou o seu veículo bem ao lado. Abel estava próximo ao seu carro e logo que Honório chegou, ele foi dizendo ter entrado e pedido uma maca para um paciente. Tudo foi imediatamente ajeitado e o motorista declarou não saber de mais nada.

--- Eu vou perguntar a atendente! – informou nervoso o rapaz.

Ao seu lado estava Ângela, encolhida em seu passar de um caso que ela jamais vira atender igual ao seu. O homem se torcia de dor, a cara arroxeada, boca aberta de onde somente se ouvia o som abafado de um “ai”. Jorge D estava sentado na cadeira do seu birô quando foi acometido do surto e lá mesmo ele se levantou esse sentou agonizando. Foi terrível a situação pela qual passara a moça naquele brutal instante. Às pressas ela socorreu o homem com o auxilio da sua secretaria e a ajuda de Miguel.



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