quinta-feira, 2 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 8 -

Ida Lupino
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Após o ato conjugal o rapaz Honório perguntou qual era a idade da bela moça Damiana. Ela respondeu ter quinze anos. Faria dezesseis muito em breve. O rapaz olhou profundamente para a moça e não teve perguntas a fazer. Com efeito, ele estaria encrencado por causa a moça até parecendo virgem. A casa onde Damiana vivia era uma espécie de estábulo. A frente da casa, com um bar funcionando, era perfeitamente norma. À noite, quando o movimento era maior, o bar funcionava e as mulheres eram um numero bem maior. Para trás do bar existiam uns cubículos onde as mulheres levavam seus homens e por lá ficavam por uma hora. Se pretendessem ficar mais tempo, o pagamento era então por hora. Damiana disse ter ficado com um homem pela noite inteira. Mas, depois de certo ponto, esse homem adormecera. Ela havia consumido boa quantidade de álcool – uísque e gim – então o sono era imprescindível. E o homem adormeceu por conta de toda a bebida servida. Casos e mais casos a menina podia contar sem mágoa. A sua vida de meretriz começou aos treze anos de idade. Seus pais a puseram para fora de casa mandando que ela fosse “ganhar a vida como mulher” em outro canto. A jovem mocinha disse ter chorado muito e correu o mundo para viver como quisera. Depois de dois anos passados e ela era então uma mulher calejada pela inquietação da vida.

--- Terrível! O que faz hoje em dia? – pergunta o rapaz.

--- Vivo de programa. Se bem que a dona do bar fica com todo o dinheiro depositado para mim no caixa. Ela não me dá um níquel. Diz que é para a minha refeição. E eu fico só na merda. – chorou de forma incontrolável a moça.

--- Essa não? E você pensa em deixar essa vida? – indagou Honório um tanto cismado.

--- Eu já fiz uma vez. Mas o sujeito com quem eu vivi tomava todo o dinheiro de cachaça. Então eu voltei para a vida que conheço. – respondeu a menina com os olhos cheios de lágrimas.

--- Assim é fogo. Eu vou te dar um dinheiro para você. Bico calado! Não é pra dizer a ninguém. Depois eu vejo o que faço. Você não quer trabalhar em uma casa de família? – perguntou Honório como não quer e querendo levar a moça daquele antro de prostituição.

--- E quem vai me querer? – indagou a moça ao rapaz.

--- Não sei. Mas tenho uma idéia. Amanhã, depois das onze eu vou me encontrar com você no cruzamento da Rua do Guerreiro. Logo ali à frente. Sabe onde fica? – perguntou Honório.

--- Sei. Eu espero. Não falhe se não vai dar bomba! – sorriu a mocinha com cautela.

--- Não falho. Pode ser que até eu faça refeição em outro restaurante. ...Com você! – sorriu Honório ao beijar a face da menina.

Desse ponto em diante, Honório saiu do cubículo onde o bar deixava para as mulheres de programa, passou no caixa, pagou a conta e deu adeus a jovem Damiana dizendo para que ela se cuidasse. A mocinha sorriu e beijou de volta o seu futuro amante, pois assim ela pensava.

Quando chegou a sua moradia falou com a sua mãe de que uma menina estava ao relento e procurou ajuda pelo Santo Amor de Deus – a mulher era católica demais e isso já a convenceu do que poderia vir - . Ele se compadeceu e deixou abrigada no quarto da casa onde mantinha o escritório. Ele disse ter dado dinheiro à moça e queria então ela vivendo uma existência mais tranqüila, mesmo sendo uma empregada doméstica como já havia dito a menina de quinze anos. A sua mãe fitou o rapaz com lágrimas nos olhos e logo após disse que ele podia trazer. Nem precisava ser doméstica. Ela – a mulher – acolheria de bom grado.

--- Muito bem. Eu vou dizer a meu tio que a senhora irá receber a pequena órfã. – respondeu despreocupado enfim o rapaz Honório.

--- E é órfã? Por que não me disse logo? – comentou espantada a mãe de Honório.

--- É. De pai. A mãe é deficiente. Então ela não tem com quem ficar. – respondeu o rapaz com a sua grosa mentira.

--- Mas Jorge podia ter mandado a menina com você! Que abusado! – destratou a mulher.

--- É. Mas ele não sabe disso. Só eu. Perguntei a moça, delicadamente. – respondeu o rapaz.

--- Ah, bom. Ainda bem. Assim é melhor. E ela tem roupa? – perguntou a mãe de Honório.

--- Não sei. Acho que não. Isso eu não perguntei. A senhora sabe, não é? Uma menina de apenas quinze anos. – falou Honório com o rosto sombrio para agradar mais a mulher.

--- Você é inteligente, filho. Fez bem. Fez bem. – afirmou a mãe de Honório.

A noite e madrugada passaram rápidos. Na manhã seguinte, Honório já estava no escritório passando à vista nos jornais do dia. Uma nota o deixou impressionado. A morte de um rapaz por enforcamento. Seu corpo foi encontrado no seu quarto, pendurado por uma corda. O nome do rapaz ou da vítima era Luciano Couto. Honório ficou surpreso com a nota e ficou a imaginar:

--- Luciano! Luciano! O rapaz de Luiza era com certeza Luciano. E agora? – indagou para si o rapaz Honório.

Ele também leu em outro jornal e trazia uma foto do morto. Foto de estudante. Honório olhou bem para a imagem para ver se descrevia o rapaz que esteve no escritório na manhã passada. Com leves modificações, era o mesmo rapaz.

--- Puta Merda! – É ele mesmo. Não disse! Deixa Luiza chegar. Vamos ver se já sabe da desgraça do rapaz. Puta que pariu! – disse com muita raiva o rapaz Honório.

Não tardou o tempo e Luiza chegou ao escritório, alegre, brincando com um e com outro, dando adeus para a moça da casa ao lado e nem se deu conta dos jornais abertos no seu birô, principalmente o que trazia a foto do rapaz estudante. Então Honório a cumprimentou.

--- Bom dia Senhorita. Como vai você? Algo de novo? – perguntou Honório de forma irônica na frente da mesa de Luiza.

--- Tudo. Nada de novo. Que estás fazendo aqui de mãos cruzadas para trás? – perguntou Luiza de forma surpresa ao seu gerente.

--- Nada não. Só o tempo. Já viu os jornais? – perguntou Honório de forma sutil coisa que não costumava fazer ao longo de tempo.

--- Não. Chegue agora. O que tem de novidade? – perguntou Luiza olhando então os jornais.

--- Olhe e veja se reconhece! - falou Honório para orientar a moça apontando a foto.

Com o passar dos minutos a moça deu um grito estarrecedor como nunca se tinha ouvido.

--- É ele. Minha Nossa Senhora. Ele está morto!!! – e então desfaleceu a moça escorando o seu corpo no encosto da cadeira.

De imediato Honório sentiu que a sua pilheria serviu como advertência e a moça veio em conseqüência ao desmaio. O rapaz correu rápido para socorrer a moça enquanto chamava alto pelo porteiro para lhe prestar ajuda de forma incontinente.

--- Miguel! Ajuda aqui! – gritou Honório pelo porteiro.

O porteiro Miguel veio mais que depressa atendendo o apelo o qual fizera o filho do patrão Jorge Dumaresq para lhe prestar algo. Ao chegar à sala de Honório viu mais que depressa o rapaz abanando o rosto da moça com uma caixa de papelão e dizendo para Miguel.

--- Socorra aqui! Socorra aqui! Ela desmaiou! Ave de puta merda. - dizia Honório apreçado.

Miguel socorreu a vítima com um lenço molhado com água retirada de um filtro, e levemente a moça retomou a consciência um tanto desequilibrada a perguntar o que havia acontecido com ela. Todo o presente se havia apagado. Manoel lhe trouxe um copo de água. Ela ingeriu e retomou a sua vida normal mergulhando nos acontecimentos cuja lembrança ela sentira. Vida e morte de Luciano, caso de não suporta para uma moça. E ela se lembrou de tudo e começou a chorar. Perguntava por que ele teria posto fim a sua própria existência. Choro e mais choro como ninguém podia imaginar. Nesse momento, chegara ao escritório o seu proprietário, Jorge Dumaresq e se assombrou com a moça de tanto chorar. Então, Dumaresq perguntou ao seu sobrinho o que estava a acontecer. O rapaz respondeu:

--- Suicídio. O rapaz noivo de Luiza, se enforcou no quarto da casa em que morava. – falou Honório com certo temor pela moça.

--- Como é que pode uma coisa dessas? – perguntou abismado e cheio de dor o Dumaresq.

--- Ninguém sabe a razão. – respondeu o rapaz não querendo pronunciar que era por questão de ciúmes ou de não aceitar o rompimento do laço com a namorada.

--- E ela não vai para a casa do rapaz? – perguntou Dumaresq assustado.

--- Não sei. Não perguntei. Talvez tenha de ir para o enterro. – respondeu o rapaz tristonho.

--- Libere a moça. Deus tenha piedade da alma do rapaz. – fomentou Dumaresq se afastando.

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