quarta-feira, 8 de setembro de 2010

DANÇA DAS ONDAS - 14 -

Deborah Kerr
-- 14 -
Na tarde daquele dia, após passar pelo Departamento de Transito, Honório foi cumprir suas obrigações, chegando ao porto onde soube, entre outros assuntos de um barco de passageiro vindo de outros portos para o da cidade. Era um Catamarã, barco soberbo, feito nesse caso exclusivo para cem passageiros permitindo flutuar até mesmo em maré baixa. Esse barco estaria para fazer viagens pelos rios e mar. Na cidade, o Catamarã estaria à disposição dos passageiros. Era um dos capazes de transportar trinta passageiros ou mais. O destino do cataramã era o de visitar ilhas, praias desertas, cachoeiras onde os passageiros poderiam tomar banho de mar, fazer caminhadas interagindo direto com a natureza. Falava-se do conforto e bem estar a bordo de um seguro, forte e atraente Catamarã. Tal conversa foi ao ponto de impressionar sobremaneira Honório. Aquela era uma novidade e surpresa para Adélia saber logo à noite quando ele ficou de aparecer em sua casa. E agora tinha mais uma novidade a qual não queria falar: o carro.

Com novidade ou não, ele nem passou em sua casa. Para a janta fez mesmo num restaurante de finíssima classe do Bairro Alto. Naquele dia Honório estava contente por tudo o que havia feito. O carro, principalmente. E depois a notícia do Catamarã, algo de qualidade e maravilha para alguém que poderia ser a sua noiva, pois o pedido já fora feito. Faltava apenas a palavra de Adélia: dizer o “sim”. Com relação à Damiana, ele pouco se importava. Se Damiana quisesse era assim, se não quisesse era assim da mesma forma. Por cautela, ele não fora para a sua casa naquela noite. Pelo menos, não fora para jantar.

Quando eram oito horas (da noite), Honório chegou à casa de Adélia com carro e tudo. Nem ao menos buzinou. Ele fez de conta que o carro não tinha importância. O negócio era o Catamarã, cujo passeio era no domingo bem cedinho da manha, algo em torno de cinco horas, pois o barco aproveitaria a maré alta, apesar disso no muita importância, pois o batel navegava em maré baixa. Ao bater palmas quem veio atender foi Ângela, irmã de Adélia. E veio em uma gritaria terrível que Honório mesmo se assustou. A moça atracou o rapaz com força e bem apertadinho, dando-lhe um beijo intenso, se não fora a rapidez do rapaz teria sido nos lábios. A moça não se conteve e deitou sua cabeça no peito de Honório. E ficou assim até dar por conta haver um carro em frente a sua casa. E então a moça perguntou:

--- Esse carro é o teu? – perguntou a moça com alegria e surpresa. Olhos bem abertos.

--- Sim. Eu comprei hoje! – sorriu Honório para a moça.

--- Ah. Vou ver o carro. – e saiu à moça direto em direção ao automóvel enquanto Adélia se aproximava lenta, sorrido e olhando o carro por sua vez.

--- Eu prometi e vim. – respondeu Honório à Adélia.

--- É teu esse automóvel? – perguntou Adélia ao rapaz.

--- Sim. Comprei na hora em que você telefonou. – respondeu o homem.

--- Espero não ter atrapalhado o seu negócio. – sorriu Adélia com muito cuidado.

--- Não atrapalhou. Eu estava concluindo o negócio. – respondeu o garbo.

Então, os dois caminharam para fora onde Adélia se aproximou do auto, olhando com todo o temor como se fosse estragar alguma coisa que não estava às suas posses. O veículo era um Ford/Lincoln, um lançamento pouco antigo modelo Coupê. A moça ficou abismada com aquela invenção. A cada olhada era mais um suspiro que emitia. Apesar de ser, assim, não tão antigo para o seu ano de lançamento, o veículo era para a moça, cuja idéia não seria a de entender muita coisa, olhou bem o carro repreendendo a irmã de não por as mãos na pintura, pois assim pedia estragar. O rapaz somente fazia sorrir pela maneira como agia Adélia. Para ela, aquele era um carro muito chique e apenas somente os ricos podiam comprar. Com certeza Adélia pensaria no poder de riqueza do rapaz.

Os três ficaram junto ao carro por vários minutos com Honório tentando explicar o custo do veículo não ser imenso, pois muita gente já naquele tempo tinha o seu carro, com fabricação nacional. A Ford começou a fabricar automóveis no País em 1959 e desde então se fabricava os modelos diferentes, como Lincoln, Mercury ou Galaxie entre muitos outros modelos bem conceituados. Por isso não era de se preocupar com custos, pois todo ele tinha seu preço. A moça ouviu a explanação do rapaz e mesmo assim ficou ainda mais surpreendida. Ela então voltaria a pedir novo prazo para dizer o sim, com certeza. Porém, o rapaz teria outra novidade para Adélia e, conseqüentemente, para Ângela que parou mesmo em frente ao rapaz, com as mãos para trás o olhando fixo.

--- Você tem algo a fazer domingo? - indagou Honório.

--- Lá vem bomba! – repreendeu Ângela sorrindo.

--- De interessante, não! – respondeu Adélia preocupada com a pergunta. E nem teve tempo de indagar o por quê.

--- Bem. Domingo, de manhã, coisa de cinco horas, vai sair do Porto um Catamarã. Um barco. Ele está aqui no Porto. Depois de amanhã, domingo, ele sai a passeio pelas redondezas. – explicou o rapaz.

--- Cata o que? – estranhou Adélia para o sorriso de Ângela que estava atenta ao assunto. E de barco ela não entendia patavinas.

--- Catamarã. É um barco. Leva cem pessoas fora a tripulação. – respondeu o rapaz.

--- Você está querendo dizer que nós vamos? – perguntou Adélia com espanto.

--- É. Se vocês quiserem. – respondeu o rapaz.

--- Diga que sim, sinhá besta. Porque eu já digo sim. – falou Ângela com vaidade intrometendo-se no assunto.

--- E esse negócio de nome feio não afunda? – perguntou Adélia cismada.

--- Ah. Afunda. Afunda. Garanto que afunda! Quer ir? – perguntou o homem a sorrir.

--- Nossa! A gente morrer afogada. Nunca! – respondeu a moça sorrindo.

--- As senhas estão comigo. Vocês levem roupa de banho, se quiserem tomar banho. No

Catamarã tem banho quente e frio. E se pode tomar banho de mar, rio, ilha, cachoeira e o que mais tiver por onde ele for. Vamos? – perguntou solene o rapaz.

--- Eu vou. Se ela quiser ir, que vá. Eu vou. – respondeu a moça Ângela abraçando mais uma vez o rapaz.

--- Está bem. Eu. ... Nós iremos! – concluiu a moça Adélia.

Os três amigos como se fossem namorados, conversaram por longo período de tempo. De quando em vez a mãe das duas moças aproxima-se até o portão para cumprimentar Honório, servir-lhe um café, chamá-lo a entrar entre outras mesmices. De uma vez a moça mais nova que Adélia chamou a sua mãe e lhe contou a novidade.

--- Ele convidou a gente para passear de barco, mãe. –falou Ângela.

--- Foi? Quando? – perguntou a mulher, dona Almira.

--- Domingo, senhora. Elas devem estar acordadas logo às duas horas da manhã porque eu venho buscá-las no máximo nesse horário. O barco saia às cinco horas. E quem for deve estar no barco às quatro horas. Daqui para o Porto é uma boa distância. Eu já venho de carro para evitar contratempo. – explicou Honório.

--- Faz bem. Nós estamos sempre dando trabalho ao senhor. – comentou a mulher meio sem graça.

--- Não seja por isso. Eu as convidei. O dever é meu. – sorriu o rapaz.

E a conversa não demorou muito, porque já chegavam às dez horas da noite e Honório tinha que sair para não levantar suspeitas de sua mãe e da menina, Damiana que, com certeza já estava inquieta procurando saber a que horas o rapaz costumava chegar. Pelo menos era isso que Honório pensava. E podia nem estar pensando em tal coisa. De um modo ou de outro, ele teria de arranjar um jeito para explicar a sua mãe de que fora aquele carro e, por certo, que também faria uma viagem no final de semana com o propósito de aquietar a mocinha, pois não dizer coisa alguma era bem pior. Ele sempre saía de casa no final de semana para algum local e continuamente tinha uma desculpa a dar a sua mãe. Desta vez, o que Honório estaria a dizer era de ir a alguma capital o local mais distante para consultar alguns clientes cujas mercadorias chegariam à semana seguinte ou outra do mesmo aspecto.

--- Vou a trabalho, minha mãe. Estou com um carro para poder me locomover mais depressa, pois são inúmeros consumidores a que tenho de visitar. Pelo menos lhe dar satisfação porque a encomenda atrasa demais. – comentou Honório tão logo chegou com o novo carro.

--- Está bem meu filho. Deus te acompanhe. – profetizou a sua mãe.

--- E a garota? Você vai passando bem? – perguntou o rapaz a Damiana, sorrindo.

--- Sim. O senhor vai embora? – indagou a mocinha disfarçando sua curiosidade.

--- Viagem de trabalho. Só isso. – respondeu o rapaz a sorrir.

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