sábado, 11 de abril de 2009

RIBEIRA - 284

AMANTES


Naquela manhã, por volta das 9h30, Carlos voltava para o seu escritório, onde trabalhava, quando passou em frente do bar do “Giba” e, sem querer, notou a presença de uma garçonete inda jovem, coisa dos seus 20 anos, mais ou menos, e resolveu ficar, um pouco, para ver quem era a garota tão bela e fascinante que se mostrava a seus olhos. Subiu um degrau feito de tronco de coqueiro e tão logo debruçou no parapeito do balcão. Quem estava ali era a dona do bar, conhecida por Bebé, mulher baixa, alva, cabelos curtos, corpo roliço como quase gorda. Ela - Bebé - estava fazendo as unhas dos pés e levemente notou a presença de Carlos no balcão e disse logo, sem levantar a cabeça:
--- Diga o que quer. Fresco? - falou Bebé.
---- Olhar você cortando as unhas dos pés - respondeu Carlos com um leve sorriso.
Então, aproveitou para olhar mais a miúdo para a nova garçonete e em seguida teceu conversa com a jovem de cabelos loiros, um par de brincos nas orelhas, vestido composto e um corpo suave e meigo, de uma altura mais baixa que a dele. Então, Carlos perguntou à garçonete.
--- Você é nova, aqui? - perguntou Carlos
--- (leves sorrisos) Segunda-feira. Por quê? - respondeu a moça
--- Não tinha te visto, ainda. - disse Carlos.
A moça sorriu e Bebé completou o que a moça não disse.
--- Chegou segunda. Você não perguntou o seu nome! - falou Bebé
--- Verdade! Como te chamas? - falou Carlos
--- Carol. - disse a moça sorrindo.
---- Carol! Belo nome. Onde moras? - perguntou Carlos.
--- Na minha casa. - disse isso e sorriu.
--- Ah! É verdade. Como eu sou burro. Por que não pensei nisso? - reclamou Carlos do forma recriminatória. Disse isso e sorriu também.
--- Pois eu vejo você, sempre. Sei onde trabalhas....(sorrisos) - falou Carol.
--- Sabes mais do que eu. - respondeu Calos, sorrindo.
Nesse meio tempo, Carol escorou o queixo no batente do balcão que ficava um pouco distante - não muito. Coisa de um metro ou menos - onde Carlos estava, e olhou para o rapaz como se tivesse óculos, percorrendo aquele homem de cima a baixo, até a cintura, como se estivesse olhando por baixo dos olhos. E era assim mesmo. Carlos sorriu e disse que depois voltava para conversar. Carol sorriu disfarçadamente e nada comentou. O rapaz desceu o batente e dobrou a esquina, entrando para o escritório onde trabalhava. Ao entrar na porta, sentiu uma leve pancada nas costas e viu um cajá caído no franco que dava acesso ao escritório. Olhou em direção ao muro, e viu apenas os cabelos loiros da moça já de retirando para o interior do botequim. O rapaz sorriu e nada comentou.
À tarde, no final do dia, quando não tinha nada a fazer no escritório, Carlos fechou as janelas e portas, deixando encostada apenas a porta principal, por onde ele costumava entrar todos os dias. Não tendo mais ninguém a atender ou mesmo serviço a fazer, Carlos foi fazer um programa que ele costumava bater à máquina, pois, logo mais, à noite, coisa de 10hs ele estaria apresentando tudo àquilo que datilografara horas antes. Não se lembrava nem mais da encantadora moça do bar, a garçonete. Não era por que quisesse esquecê-la, mas, apenas por estar compenetrado no seu laborioso trabalho que ele fazia com tamanho esmero. Dentro de momentos, como sempre aconteciam todos os dias, a luz do sol já havia se ido e começava a escuridão da noite. Nem os pássaros cantavam mais. De fora, só se ouvia o gargalhar de um bêbado vindo do bar da esquina. O choqualhar de talheres no bar, não raro de ouvia. E Carlos estava compenetrado no seu afazer que nem prestava a atenção. A porta de entrada estava apenas escorada, por onde uma brisa suave perseguia a entrar sem causar desatenção alguma. E foi por esse tempo que um perfume delicado lhe abordou o sentido e ele ouviu um chiado de sandálias como que se aproximava de forma mansa e ele voltou o olhar para traz e viu o contorno da moça a se acercar. Um leve tremor soprou o corpo de Carlos, enquanto dizia:
--- Surpresa! Não estava te esperando! - falou Carlos
E a moça sorriu muito leve. De modo quieto se aproximou do rapaz e sentou em uma cadeira que estava ao lado, olhando-o com extrema ternura. Então, o moço parou o que estava fazendo e passou, também, a olhar aquela silhueta de uma jovem esmerada e encantadora. Sorriu para Carol e olhou todo o seu corpo franzino e cheio de curvas, mas parecendo uma boneca de veludo cor grená como o que ele tinha visto certa vez na exposição de uma loja de armarinho de eventos de luxo. Desfeito do pasmar, Carlos declarou:
---- Você é verdadeiramente encantadora. Tens uma pele suave como uma pluma e um cheiro sublime e angelical, como as cantoras sacras. - falou Carlos
--- A quantas já dissestes esse negocio? - perguntou Carol.
--- A ninguém, como estou a ti falar. Juro por Deus! - retornou a falar o rapaz.
--- Nem a tua mulher? - perguntou Carol.
--- Eu nem sou casado, ainda! - respondeu o jovem
--- Não? E aquela que estava com você? - voltou a inquirir a moça.
--- Qual? Quando? Onde? - perguntou novamente o rapaz.
--- Sei lá. Na rua. - e voltou a sorrir a mulher.
--- Você é de todo sensual. Tu és capaz de me fazer com lagrimas e preces e sem sentir encher-te de delicados e sublimes ósculos embriagadores. - falou Carlos.
A jovem mulher não entendeu nada com esse palavreado do rapaz querendo apenas dizer que sentia um imenso desejo de fornicar com aquela divinal donzela, se ainda fosse donzela. Os termos que Carlos empregava bem davam para perceber que a jovem era apenas uma mulher, ocorrência tão cabível naquele tempo. Apesar da pouca idade que aparentava ter, ela já não era mais virgem, pois alguém se aproveitara do estonteante encanto que aparentava ter a tal imaculada jovem. Em um passo, Carol cruzou as suas pernas, permitindo ao rapaz antever suas coxas e nesse ponto ele não teve mais nenhuma duvida. Ali, bem ao seu lado, permanecia uma alegre e encantadora mulher, talvez de programa, de muito domínio juvenil e de doçura real, com os seus distraídos vinte anos. Por isso, Carlos não contou conversa. Olhou para uma sala ao lado, viu um grande sofá que parecia até deixado ali de propósito. Ele pediu licença à jovem e se apartou um pouco, por onde nem a moça sabia, abriu outra porta e em seguida depois de rodear por um beco alpendrado que havia na casa, trancou a cadeado, como era de costume, porta de entrada, e depois, voltou pelo mesmo lugar, fechou a passagem por onde ele saíra da vez primeira. E em seguida, quando voltou, a moça perguntou o que ele esteve a fazer.
Carlos respondeu que foi somente fechar a porta por onde ela entrara.
--- E agora? Que é que eu vou fazer? - disse Carol, assustada.
--- Nada! - respondeu Carlos, a sorrir.
Era um sorriso malando de quem já via o que iria ocorrer daquele instante para frente. Já não tinha nada a dizer o cavalheiro voraz, cheio de sede em poder degustar tão bela feminidade e que somente a aquela boneca de porcelana e seda podia possuir. Foi aí que ele a chamou para viver talvez um longo e fortuito aceno de amor.

Quando tudo terminou a moça reclamou está redondamente “molhada”, carecendo de um bom e salutar banho de chuveiro. E sorria com alegria por ter alcançado aquele sonho que tanto suspirou por ele, horas antes. Sonho de amor e de paixão era o que pensava a sutil fêmea, pois não havia no mundo alguém mais feliz que ela após tanta ânsia desesperada. Enfim, foram os dois ao banho salutar e revigorador. Ela asseando o rapaz que, ao seu modo, também estava “molhado” de todo aquele momento crucial de amor casual. Só então Carol olhou para o seu relógio e, quase gritando, clamou:
--- Sete horas, amor. Ave. Se Bebé me chama!!!!...-- falou Carol.
--- Pra que ter medo? Agora é tarde e Inês é morta. - respondeu o rapaz.
A mulher olhou para o rapaz, e começou a sorrir. Sorria bem muito que se desligara do tempo. E ouviu de uma radiola, com certeza, do bar, uma música tocar que, pela distancia, chegava como um murmurar. A tal melodia que então tocava reproduzia: “Sempre no meu coração o teu nome há de ficar...”. Ela prosseguiu a cantar a melodia, com uma sua voz terna e embriagadora como uma cantora de tempos remotos. A sua vozear eram verdadeira e afetuosa como as ninfas do paraíso do nirvana que tanto buscam a superação do apego aos sentidos e a existência. Ao entoar tal melodia a fêmea cantora apresentava sempre um vocal capaz de assimilar qualquer composição com tamanha ternura. Em instantes, Carol ouviu um pigarrear como de uma mulher, vindo do lado de fora da casa. Ela logo percebeu ser a sua senhora, Bebé, a dona do bar, que certamente achou a sua demora demais até, pois havia fregueses para atender naquele horário.
--- Bebé! - proferiu Carol para o rapaz de um modo baixo.
E Carlos sorriu por tudo que acontecera. Não tendo mais o que fazer, ele abriu a porta de trás para que os pudessem sair sorrateiros. Ele, além do mais sabia que a dona do botequim nada iria dizer, a não ser perguntar a estonteante mulher se tudo o que se passou havia sido de boa lembrança.

Nenhum comentário: