quinta-feira, 21 de maio de 2009

RIBEIRA - 285

ASSIS CHATEAUBRIAND
A Televisão Tupy de São Paulo, canal 3, foi a primeira emissora de televisão do Brasil e da América do Sul. Fundada em 18 de setembro de 1950 por Assis Chateaubriand, fazia parte do Grupo Diários Associados. Em 18 de julho de 1980, devido aos vários problemas administrativos e financeiros, a concessão foi declarada perempta (não-renovável) pelo governo brasileiro, e além dela, mais 6 emissoras pertencentes aos Associados também saíram do ar.
Depois de poucos meses de treinamento, alguns radialistas escolhidos por Assis Chateaubriand, o Chatô, lançaram-se à aventura de fazer TV. Os estúdios eram pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TY Tupy foi solene. Chateaubriand presidio a cerimônia que contou com a participação de um frade cantor mexicano, Frei José Mojica, que entoou "A Canção da TV", hino composto pelo poeta Guilherme de Almeida, que contou também com a atriz Lolita Rodriguez, especialmente para a ocasião. Um balé de Lia Marques e a declamação da poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha de "moderno equipamento" fizeram parte do show. A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora - PRF-3 - e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.
O então radialista Cassiano Gabus Mendes que, aos 23 anos, foi o mais jovem diretor a assumir uma emissora de televisão.
Quando a TV Cultura, canal 2, foi lançada pelos Diários Associado, suas imagens interferiam no canal 3, onde a TV Tupy era sintonizada e vice-versa. Por essa razão, em 1960, a PRF-3 Tupy de São Paulo passou a ocupar o canal de número 4, onde ficariaaté o fechamento.
Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV Tupy dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Dois dias depois da primeira emissão, em 20 de setembro de 1950, estreou o primeiro programa humoristico, chamado Rancho Alegre com Mazzaropi. Aos poucos, outros programas ganharam fama: o primeiro telejornal, a primeira telenovela. O programa TV de Vanguarda revelou a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças como Hamlet, de Shakespeare, e Crime e Castigo, de Dostoiévski. Alguns programas dos primeiros tempos da TV Tupy tornaram-se campeões de audiencia e permanência no ar. Alô Doçura, Sítio do Picapau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas e o famoso telejornal Reporter Esso, que ficou 18 anos no ar. No jornalismo a emissora repetiu na tela o sucesso do Reporter Esso que marcou época no rádio a partir de 1941. Os locutores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entravam no ar com as últimas notícias nacionais e internacionais ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e da televisão brasileiros. Se durante a primeira década de sua existência a Tupy foi líder absoluta, nos anos 60 as emissoras concorrentes aprimoraram sua programação para lutar pela audiencia.
A longa crise dos Diários Associados já havia começado bem antes da morte de Assis Chateaubriand, em 4 de abril de 1968. Abalada por problemas financeiros, mal administrada, sem investimentos, a Tupy perde a qualidade e audiencia. Além da audiencia, a publicidade também escapolia para as concorrentes, o caixa se esvaziava, os salários deixavam de ser pagos e a greve era questão de tempo. Em outubro de 1977, com três meses de salários atrasados, os funcionários iniciaram a primeira greve, mas ela é interrompida com o pagamento parcelado dos débitos.
Os constantes atrasos dos salários mantinham um clima tenso na emissora pioneira, em 1978. As perspectivas de pagamento dos atrasados eram cada vez mais remotas e as explicações dadas aos funcionários, cada vez mais inconsistentes. Para piorar ainda mais a situação, em outubro de 1978 um incendio no prédio da emissora, em São Paulo, tirou a Tupy do ar por alguns minutos e destruiu os novos equipamentos adquiridos pela emissora no mesmo ano, e que nem chegaram a entrar em funcionamento. Ainda em 1978, iniciou a construção de uma nova antena transmissora, que seria a maior torre de TV da América do Sul. Essa torre seria concluida pelo SBT alguns anos depois. Em 1979 e 1980, nova greve. A crise chegou a Brasilia. O então presidente da República, João Baptista de Figueiredo se dispôs a receber uma comissão de dirigentes dos sindicatos envolvidos. Muito se discutia e pouco se fazia. A greve persistiu até inicio de fevereiro de 1980, quando a emissora fechou seu departamento de dramaturgia e dispensou os 250 funcionários que trabalhavam nesse setor.
Em 16 de julho de 1980, antes de completar 30 no ar, a Rede Tupy tem 7 de suas 10 concessões declaradas peremptas (não-renovável) pelo Governo Federal. Minutos antes do meio-dia de 17 de julho de 1980, três engenheiros do DENTEL subiram ao décido andar do edificio sede da TV Tupy de São Paulo, no Sumaré, e lacraram o transmissor da emissora. Saiam também do ar a TV Tupy do Rio, a TV Itacolomí, de Belo Horizonte, a TV Marajoara de Belém, a TV Piratiní de Porto Alegre, a TV Ceará de Fortaleza e a TV Radio Clube do Recife. Era o fim da TV Tupy. A emissora saía do ar exatamente 29 anos e dez dias depois de sua inaguração. Permanece, entretanto, um acervo de duzentos mil rolos de filmes, 6,100 fitas de vídeotape e textos de telejornais que contam 30 anos de muitas histórias do Brasil e do mundo.

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