sexta-feira, 3 de abril de 2009

RIBEIRA - 281

O MENINO DE CABUL
O Menino de Cabul é uma historia sobre a amizade, mas também um filme fortemente politizado, ao ponto de se tornar largamente panfletario, e perde imenso com isso. Transporta-nos até ao Afeganistão pré-invasão sovietica, fazendo a passagem de 1978 para 1979, refugiando-se depois numa América comodamente tolerante e segura, para dez anos depois retornar à geografia de onde partira, para encontrar um país devassado pela guerra e com um regime de medo instaurado pelos talibãs.
O Menino de Cabul é um filme que quer ser coisas a mais e por isso erra o passo inúmeras vezes. Começa com uma tocante relação de amizade muito sui generis, entre o filho de um senhor abastado e o filho do seu criado. Enquanto que o segundo demonstra ser capaz dos atos abnegados e corajosos em nome de sua amizade, o primeiro evidencia todos os traços de uma sociopatia cobarde. A diferente forma de pensar de ambos está bem patente quando o menino rico conta ao outro uma história que escrevera, em que um homem pobre descobre que suas lágrimas são diamantes e por isso mata a esposa, para que possa chorá-la e assim enriquecer, ao que o filho do criado responde: "mas não podia ele ter simplesmente cortado a cabeça?".
Marc Foster - diretor do filme - é daqueles realizadores com uma carreira cheia de altos e baixos , mas neste caso conseguiu um prodigio: concentrou-se no mesmo filme. O Menino de Cabul tem, literalmente, duas partes, e notá-se. É tão patente que parece haver ao leme dois realizadores diferentes. A primeira parte do filme centra-se na relação entre os dois meninos e é sensivel e comovente, contendo diálogos cheios de sabedoria. A segunda parte do filme tem o menino rico como protagonista, em adulto, e afinal não se tornou num sociopata; vai até cometer um ato de altruismo muito perigoso, deixando os EUA, onde se refugiou com o seu pai após a invasão russa e regressando ao seu país natal, onde será um alvo a abater pelo seu aspecto e origem.
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