sábado, 5 de junho de 2010

LUZ DO SOL - 20 -

- ANA LUNA -
- 20 -
Seis meses se passaram e Sebastião Sabugo já era o Intendente da Vila Riacho das Pedras. O Coronel Ezequiel era o que de chama Chefe da Guarda Civil da Vila e de certo modo mandava em tudo o que Sabugo tinha que fazer. O coronel não dispôs a ser o intendente. Porém, como chefe da guarda ele mandava em tudo e em todos. O Major Pontes não quis ser nada e apenas designou o seu filho para ser secretario. O mesmo aconteceu com o capitão Zenóbio que tinha no poder dois novos secretários, sendo um, uma de suas filhas. Esses senhores acompanhavam tudo apenas de fora. Mesmo sem ter função no poder, tanto o Major Pontes como o Capitão Zenóbio estava dentro da administração organizando a emancipação da vila para se tornar um município. Esses assuntos eram discutidos na roda formada por Ezequiel, Pontes, Zenóbio além do Intendente Sabugo e de sua mulher, Guacira que exercia uma função de Secretaria sem Pastas. E Guacira, com o passar dos meses estava atenta a tudo aprendendo mais depressa do que o que se pensava, apesar de ser mulher e ter pouco mando no poder no entender do Coronel Ezequiel Luna Torres. Por isso mesmo, Guacira se portava como apenas ouvinte, sem nada dizer.
Em outro ponto estava Ana Luna que continuava a treinar os exercícios de tiro. Com seis meses ela já sabia manejar muito bem as armas, inclusive o rifle. Tudo que o seu recomendava ela fazia. Até como montar a cavalo, cavalgar, frear, pôr a fera para um lado ou para outro, fazer deitar o cavalo e tudo mais complexo que se treina em uma montaria, como cavalgar de costas. É tanto que Zenon se sentia bastante orgulhoso com a desenvoltura da garota e em certas vezes dizia:
--- Que garota sapeca! – sorria Zenon.
Com tais comentários Luna nem se dava por conta. Ela era toda a atenção em aprender cada vez mais e melhor o novo oficio de atirar, manejar uma arma, montar a cavalo, atirar nas garrafas enquanto cavalgava fazer mira por cima e por baixo do pescoço de sua montaria, correr até que o animal se fizesse cansar ou ela mesma já não suportasse mais aquela aventura. Aquele temor do início desaparecera por completo. Eram seis meses de bravura indômita. Luna então somente queria mostrar ao seu velho pai que era capaz de aprender atirar. E se possível melhor do que Zenon e do que seu próprio pai. Não raro se observava Luna a gritar para o alto de mão erguida algo parecido com “heia!” como um exclamar de êxito nas suas façanhas diárias. Se não tinha companhia de Zenon, por um caso e por outro, questões da própria senzala onde ele era o senhor dos escravos, Luna não se importava em ir sozinha ao local de treino. Certa vez, seu pai lhe dissera que uma garrafa representava um inimigo. Que ela mirasse na garrafa como se estivesse mirando no seu algoz inimigo. E disse ela não esqueceu jamais, pois em cada garrafa via a cara do seu agressor Manoel Jacó.
--- Tome safado! Pegue! Aqui vai para você! – dizia ela ao sacar a arma, mirar e atirar tal como estivesse maltratando o seu agressor.
E em cada instante, dessa forma ela soltava o grito de guerra com sua mão levantada, a arma brandindo ao alto detonando às vezes como seguindo a ordem do destino e o rosto crispado de ódio pelo que Jacó fizera-lhe um certo dia onde a sua pureza sagrada apenas ele arrancara brutalmente como os malfeitores faziam com suas pobres vítimas indefesa.
--- Bruto! Bruto! Safado! Covarde! – Luna gritava a cada alvo apenas de vidro que a mesma destruía a cada uma se sua passagem.
Era um ódio destruidor que a jovem carregava consigo para sempre. Desta forma, Luna constantemente repetia aquela aversão ao demoníaco Jacó, pobre coitado enterrado próximo ao pé de Juá. Disso, Luna nem queria saber. Ela apenas estava a destruir de sua memória o estrago que sofrera certo dia pela manhã pelo agressivo baixo homem. Dessa odiosidade eterna Luna fez todo o seu exercício com as armas, cada qual com sua precisão impecável.
Em um dia de domingo se festejava a padroeira da vila quando todas as autoridades da aldeia estavam presentes em uma solene confraternização feita em praça publica, em baixo de um coreto. Uma banda de música improvisava alegres momentos com seu soar de melodias de marchas militares. A praça pequena estava repleta de gente, vinda do interior e do próprio arraial. Todos os presentes procuravam cantar as arranjadas marchas militares. Todos menos o pessoal do Barão de Itabira e dos Pereira, inimigos figadais do Coronel Ezequiel Luna Torres e seu pessoal, homens que chamavam o Coronel e seus aliados de.
--- Gente pobre sem eira nem beira! – diziam os seus opositores.
A manhã de sol deixava alegre o povo, crianças comendo coisas feitas de açúcar, moços cortejando as garotas jovens presentes, pais e mais dando mochicões nas filhas que se deixavam seduzir e os ébrios ainda estavam a delirar com toda a fuzarca que se fazia. No coreto estavam o Coronel Ezequiel Torres e sua família, o Intendente Sabugo e sua mulher Guacira, o Major Pontes e família, o capitão Zenóbio e família, o Monsenhor Bento e seu sacristão, o Delegado e família, entre outras personalidades. O Coronel falava que era uma graça se festejar o dia da santa em praça pública de uma vila que não tardaria a ser convertida em município da Província. Foi nesse instante de esmerada alegria que um jagunço armado com um rifle disparou um tiro contra o próprio coronel Torres que falava ao público. Nesse dado instante, Luna pode observar o jagunço em uma casa próxima a fazer mira contra seu pai e gritou.
--- Cuidado!!! – gritou Luna de forma louca, empurrando o coronel para um lado.
A bala zuniu ao disparar e os jagunços do coronel, major, capitão e o próprio delegado correram atrás do jagunço que tentava a todo custo se safar. O Major Pontes gritava como um louco.
--- Não matem o homem! Não matem o homem! Quero ele vivo! – gritava o Major.
Depois de louca correria, os jagunços pegaram o homem atirador, esmurrando sem trégua, lutando como verdadeiros jagunços, deixando o atirador quase que sem vida.
Ao chegar onde estava o bugre o Major Pontes perguntou sem entremeios a que ele estava representando naquela festa popular. O jagunço não soube responder dizendo apenas que foi peitado por um homem na estrada. O Major Pontes perguntou que homem era esse e também ele não soube dizer. Apenas que ele era um caçador e vinha pelo caminho quando o homem perguntou se ele queria ficar rico e o homem disse que sim. Antão o estranho lhe deu dinheiro e um rifle para ele matar naquele dia m coronel que estava a falar no comício da praça. E isso foi o que o caçador fez.
--- Não sei quem era ele, seu doutor. Juro por Deus. – disse o homem chorando.
--- Pois bem. Ele não falou algum nome? – perguntou o major Pontes.
--- Não. Ele disse que um tal barão ficaria muito contente,se me lembro bem. Foi o que ele falou. – relatou o homem caçador.
--- Ah um tal “Barão”! Pois o senhor está preso. Leve ele para a cadeia. – falou o Major Pontes para o delegado na frente do Coronel Ezequiel, do Intendente Sabugo e demais autoridades presentes ao interrogatório, inclusive o Monsenhor Bento.
Na Delegacia o senhor titular daquela pasta, Euclides Castanheira, iniciou o interrogatório mesmo sem a presença de um advogado de defesa do criminoso. Perguntou-lhe o nome e profissão e depois as características do acusado entre outras coisas. Por fim perguntou o que ele fez e a mando de quem. O caçador confessou a mesma coisa que tinha dito anteriormente. Esse interrogatório demorou cerca de cinco horas e logo depois por volta das cinco horas da tarde o Delegado Euclides Castanheira mandou o trancafiar por determinado momento o acusado da tentativa de morte do Coronel Ezequiel Torres. No dia seguinte foi a vez de ouvir a moça Ana Luna e o próprio Coronel Ezequiel. Desses dois, a mais importante depoente foi Ana Luna que viu quando o homem mirou contra seu pai, o Coronel Torres. Desse modo que somente faltava ouvir um dos acusados no inquérito que era o Barão de Itabira a quem foi mandado um oficio intimando a depois. Na tarde daquele dia, o Barão esteve na delegacia e disse desconhecer o acusado e a questão de ter seu nome envolvido em tal assunto. O Barão de Itabira esteve acompanhado de um advogado para maior segurança. Por fim, o caso deu em nada e o criminoso não teve advogado e passou um bom tempo na cadeia.

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