quinta-feira, 10 de junho de 2010

LUZ DO SOL - 25 -

- ANA LUNA -
- 25 -
Quando Temístocles e Luna chegaram a Casa Grade da Fazenda toparam com um punhado de gente guarnecendo ampla extensão de terras. Gente armada de toda sorte de fuzis, pistolas, punhais e o que permitisse se defender ou matar. Era um verdadeiro campo de guerra a Fazenda Maxixe, coisa que nunca tinha visto em sua vida apesar de saber que todos os donos de terra teriam meios para fazer igual ou mais resistente. O sertão bravio do Nordeste brasileiro, naqueles tempos, tinha igual capacidade de enfrentar a morte quer na seca quer no inverno. Era o destemor do homem pela vida amarga que ele vivia. Dura era essa vida na área pobre do sertão. A cultura existente era distinta e única. O vaqueiro enfrentava a vegetação rasteira e espinhosa. Roupa de couro para andar no mato era a característica do vaqueiro. Calças, gibão de couro, jaquetas com mangas alongadas era o feitio do vaqueiro ou do jagunço e mesmo do capitão-do-mato o caçador de escravos fugidos. E na Casa Grande de Luna a característica era pior. Quando os dois atiradores se aproximaram ouviram apenas um grito:
--- ALTO!!! QUEM VEM LÁ? – perguntou a voz de quem não se podia ver.
Sabendo que ficar calada era sinal de morte, Luna respondeu descobrindo o chapéu que lhe cobria o rosto moreno tangido pelo sol.
Então um jagunço se aproximou por trás e conferiu o que a moça dissera. Ela falou a verdade. Mas o jagunço desconfiou do homem que estava com a moça, pois não o conhecia. Então Luna falou que o rapaz era amigo da moça. Eles estavam chegando da Fazenda Arroio do Boi. Mesmo desconfiado o bugre perguntou a alguém que estava por perto:
--- É verdade. Deixe passar. – disse uma voz de mulher.
Então Luna obteve permissão de passar adiante com o seu companheiro Temístocles que ela acostumou chamar apenas de Téo, pois o nome completo era muito complicado para se chamar. Foi isso que Luna falou a mulher que atendera ao seu chamado. A mulher vira então que na verdade era Luna e perguntou quem era o rapaz. Foi assim que Luna falou em Téo. A mulher que Luna falou era Guacira. Toda encapuzada, não havia quem dissesse ser na verdade Guacira. Tudo reparado ao entrar pela cancela da fazenda, Luna disse a Guacira, ao andar para a casa, que o combate se deu satisfatório e ela chegara um pouco mais cedo. Pelo tempo que se aventava, eram para mais das 9 horas da noite. Luna não sabia a que horas estaria vindo para sua casa o seu pai, conforme disse a Guacira.
--- Talvez deixe para vir amanhã. Hoje é muito difícil. Pode ter capitão-do-mato no meio do caminho e ele é muito precavido com isso. – falou Luna temerosa.
--- Também acho. Me conta como foi a encrenca por lá. – falou Guacira risonha da vida.
--- Normal. Eles ficaram bebendo na Casa Grande após a luta. Eu penso que matamos todos os bugres. Não foi Téo? – perguntou Luna ao seu companheiro.
--- Todos menos um. Eles eram todos do Barão. Tenho a impressão que o rapaz da mensagem não deu tempo a chegar da Fazenda dos Pereira. – respondeu Téo.
--- Deve ter sido isso. – respondeu Luna inquieta.
--- E Téo de onde você conhece? – perguntou Guacira, temerosa.
--- Ele é o capataz da fazenda do capitão Zenóbio. Foi ele quem me ajudou no tiroteio. Ele é bom de verdade. Muito bom mesmo. – respondeu Luna, orgulhosa do rapaz.
--- Que nada. É conversa dela. –sorrio o rapaz Téo querendo não se expor.
--- Ora não foi! Quer me desmentir? Ele acerta sem olhar, Guacira. – comentou Luna satisfeita.
E a conversa prosseguiu até que os três chegaram a Casa Grande e Luna chamou por Rosa, sua mãe procurando saber se tinha café feito, pois teria que dar como presente e recompensa ao jovem Téo. E conversaram eles três até altas horas da noite relembrando quando então foram dormir. Guacira teve que ir às trincheiras a recomendar ao seu sucessor que não dormisse no ponto. Queria todo que estivessem em ordem até o amanhecer. O Delegado Euclides Castanheira ficou acordado por toda a noite. Antes, porém ele foi notificado por Guacira que a guerra havia terminado a favor do coronel Ezequiel. Com isso O Delegado ficou tranqüilo. Porém sabia que se havia de redobrar a vigilância por toda a madrugada, pois o Barão de Itabira não deixaria a derrota sem marca.
Quando chegou as 7 horas da manhã, o grupo do coronel Ezequiel retornou à Fazenda tendo a frente o coronel seguido do Intendente Sebastião Sabugo e do feitor Rafael Zenon. Ao entrar no terreno da fazenda ele gritou com entusiasmo;
--- Viva os vaqueiros que lutaram nessa guerra! – gritou o coronel Ezequiel cheio de empáfia.
---- Viva!!! – gritaram os vaqueiros cheios de orgulho.
Daí em diante os vaqueiros tomaram o seu destino, cada qual procurando sua família ou mesmo um canto para repousar do cansaço da luta renhida. Na varanda da Casa Grande, estavam os dois garotos da luta: Luna e Temístocles. Logo depois podia se notar Guacira, o Delegado Euclides e a esposa do coronel, Maria Rosa e o seu filho menor, Euclides Luna e as três filhas do coronel Vera, Olga e Eunice Luna cheias de contentamento pela vitória do coronel Torres. Todos eles entraram na Casa Grande, uns abraçados aos outros e todos sorrindo a grande monta. Eles cantaram e dançaram ao som da concertina do velho Felix que não saia de perto da fuzarca.
No domingo seguinte, quando ainda era prudente se conservar os capangas em torno do cercado feito para proteger o ambiente da Casa Grande, a festa continuou na praça da matriz onde o Monsenhor Bento celebrou a missa para todos os presentes. Na rua, as liteiras que conduziam as senhoras damas e suas filhas se apinhavam em frente à matriz e ao coreto. A rua principal era toda calçada com lajes de pedras e arborizada com os pés de acácia. Os lampiões só eram acesos por dois lampioneiros quando era à noite. Após a Missa, foi feita a emancipação política da Vila que tornava Município. O seu Intendente continuava a ser o Doutor Sebastião Sabugo tendo como homem forte o Coronel Ezequiel Luna Pontes. Vários discursos foram feitos pelo Major Pontes de Mesquita, o capitão Zenóbio Manso, e o coronel Ezequiel Luna Torres. Quando estava discursando o coronel no coreto da praça publica perante toda a gente da vila, então Município Riacho das Pedras, gente vinda do interior mais distante para a nova cidade e ver suas bandeiras ornamentadas, inclusive a bandeira municipal eis que surge no meio da multidão a figura do Barão de Itabira. Ele era um homem agigantado, corpulento, vestindo roupas finas feitas para uma ocasião nobre. Ao seu lado, apenas dois vaqueiros. Ele, armado com trabuco. De cima de seu cavalo o Barão então falou:
--- A conversa é apenas com nós, coronel. Apenas com nós. – falou o Barão de forma arrogante.
A filha Luna olhou para o seu pai Ezequiel e notou que ele não trazia revolver. Estava desarmado. Porém, deu espaço ao tempo.
--- Que é que o senhor quer Barão? – indagou com altivez o coronel.
--- Arme-se e vamos duelar. Apenas nós dois. – respondeu o Barão de forma rude.
Nesse momento Luna pulou a frente do coronel Ezequiel e entre o Barão de Itabira e o convidou para duelar com ela, pois a moça queria duelar com o Barão.
--- Saia da frente moleca! Não sei quem você é! E não duelo como moleca! – respondeu o Barão.
--- Eu não sou moleca como o senhor pensa. Sou Luna! Ana Luna! – respondeu a garota de forma atrevida.
--- Saia da frente menina. Deixe que eu me ajuste com o Barão! – reclamou Ezequiel zangado.
--- Não, pai. Quero ver se ele tem coragem de duelar comigo! – disse Luna sem se virar com olhos tesos no Barão.
--- Caia fora garota. Aqui é luta do homem grande! – vociferou o Barão com raiva.
--- Saia do meio menina! - gritou o seu pai desaforado.
--- Não saiu. Quero ver se ele é homem agora. Se não tem capanga para lutar! Se não é frouxo! Covarde! Canalha! Puxe a arma Covarde! Puxe a arma! Ninguém se meta! – bradou Luna.
O Barão já estava impaciente por conta da desaforada garota. Espécie atrevida e com certeza, molenga como qualquer uma que aparecesse por ali. O povo que estava na Praça da Matriz saiu em debandada procurando um lugar para se esconder. Até mesmo um grupo formado por gente de outro Município próximo, que organizava uma banda de musica, caiu fora apavorado temendo o acontecimento vital.
--- Puxe a arma. Corno! Puxe! Covarde! Ladrão! – pronunciou Luna de olhos firmes chispantes e mão na cintura coçando o cabo de seu revolver 45 todo prateado, cabo de madrepérola, presente que o pai lhe dera.

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