sexta-feira, 11 de junho de 2010

LUZ DO SOL - 26 -

- ANA LUNA -
- 26 -
Via-se na expressão de Luna, desobedecendo a seu próprio pai, a atitude de provocar o Barão de Itabira a tomar uma enérgica decisão para mostrar sua coragem de experimentar a troca de tiros entre ambos. Luna não sabia da destreza do Barão, pois poderia ser bem rápido em comparação a moça. Casso viesse a ser, ela estaria em terrível desvantagem. O seu pai era bastante rápido do sacar, mirar e atirar. Porém, ela não vira de fato o Barão em que condições ele estava. Ouvindo-o desacatar o coronel Ezequiel, o Barão poderia até ser mais rápido. Portanto Luna nem pensou nesse fato. Ela queria desafiá-lo para um duelo, pois assim estaria protegendo o seu próprio pai, episódio que Luna unicamente temia. Ao chamar o Barão por nomes tão desafiantes, a moça deixava o seu algoz em situação envergonhada. Tais palavras, ele jamais ouvira alguém dizer para com ele. Por isso, o Barão tinha que tomar uma decisão.
--- Cabras! Arrastem essa menina do caminho! – vociferou o Barão bastante irritado.
Nesse momento, uma voz a mais foi ouvida. A de Temístocles:
--- Barão! Não creio que o senhor faça uma coisa dessas, pois alguém morre primeiro. – falou Téo.
Temístocles pulou ao lado de Luna e o Barão, de imediato, retrocedeu fazendo com a mão abaixada que os dois capangas podiam parar um pouco.
--- Quem é você fedelho? – perguntou o Barão com mais raiva então.
--- Amigo de Luna, se quer saber! – falou alto Téo.
--- Esperem vocês. Deixa comigo. Enfrento o Barão! – falou o coronel com pavor de ver dois garotos em sua defesa.
--- Assim é que gosto de ver! – comentou o Barão entusiasmado.
--- Espere meu pai. Ainda tenho o que falar. Foi o Barão quem matou sua mulher. Esganou a coitada, cuspiu na cara dela e enterrou no próprio quarto em que dormia. Agora é a vez dele se defender. - falou Luna procurando uma brecha para fazer o Barão se enervar.
--- Desgraçada! Quem lhe falou tal coisa? – gritou enervado o Barão e empinou seu cavalo, com as patas dianteiras, puxou o revolver para atirar no momento em que Luna puxou seu 45 e atirou primeiro no homem atingindo mortalmente no peito.
Então se ouviu um segundo tiro. Téo disparou seu revolver contra um dos capangas que ameaçava atirar. E um terceiro. Guacira alvejou o terceiro capanga mortalmente. Foi tudo tão rápido que nem sequer se percebeu quem teria atirado primeiro. O coronel desceu do palanque e quis tomara arma da mão de Luna. A moça, de repente, olhou o Barão e gritou:
--- Cuidado meu pai! – e lhe deu um empurrão ao mesmo instante em que atirava em seu rival.
Foi então que o Barão sucumbiu. Não deu tempo a coisa alguma. O Monsenhor Bento que estava no coreto rezava para o Céu pedindo clemência a Deus. Pedia ao Senhor clemência por aquelas mortes. Homens que bem podiam viver em paz. O rezava o Monsenhor contrito. E pedia a Nosso Senhor clemência por aquelas almas. O pessoal que estava no coreto ficou de boca aberta com a precisão de Luna ao certar bem no peito o Barão de Itabira. Todos falavam a um só momento. O major Pontes de Mesquita era o mais vibrante com a atitude da moça:
--- Nunca vi uma coisa dessas! – dizia o major com euforia.
--- Imagine lá na fazenda! – replicava o capitão Zenóbio.
--- Ela é terrível! – dizia o Delegado Euclides.
--- Tem a quem puxar! – dizia Zenon.
A moça estava cercada nesse instante pelo pai, por Guacira e o seu marido Intendente Sebastião Sabugo, o rapaz Temístocles que ajudava a trazer para o Coreto enquanto que outras pessoas presentes vibravam com a morte do Barão de Itabira. O coronel Ezequiel perguntou a Luna que história era aquela da morte da esposa do Barão. Luna respondeu que ouvira de sua mãe há muito tempo.
--- Mas é verdade mesmo? – perguntou Guacira.
--- Você viu como ele reagiu? – indagou Luna ainda tremendo de medo por que passara.
--- É verdade, sim. – respondeu o coronel muito angustiado por causa da filha Luna.
A mulher do coronel, Maria Rosa, veio depressa para junto de Luna para lhe confortar. O mesmo ocorreu com as suas três irmãs, Vera, Olga e Eunice. Cada qual queria fazer o de melhor para Luna que se sentia sufocada por tantos abraços e carinhos. O Delegado Euclides ordenou que se levassem os cadáveres para o necrotério da Delegacia enquanto que o Intendente Sebastião Sabugo, já perto de sua mulher Guacira advertia que era preciso conversar sobre o necrotério com urgência. A Praça do Coreto ainda estava vazia de gente temerosa com o que viu ocorrer em poucos instantes. Lentamente o pessoal foi se acercado do local do crime para verde perto o Barão de Itabira, homem que era uma verdadeira lenda para os munícipes, pois não se via o Barão há muitos anos a passear pela Vila. Ele era uma verdadeira lenda. Todos falavam no Barão de Itabira. Porém ninguém costumava vê-lo nem por um instante. Alguém falou no caso da Baronesa que morreu misteriosamente. Mesmo assim, só se ouvia falar que o Barão tinha trucidado a esposa. Coisa que não se provava com consistência. Então, o delegado do novo município já estava com um mistério para desvendar, falou alguém do meio do pessoal assustado. Foi então que naquela hora o coronel Ezequiel Torres se assentou da poeira e disse sem mais conversa.
--- O Município Riacho das Pedras está inaugurado. Acabou a sessão. – falou com destemor o coronel aos presentes.
O povo ficou na praça vendo a remoção dos cadáveres dos mortos, a ação do Monsenhor Bento em encomendar os corpos e o delegado Euclides Castanheira seguir para a delegacia policial onde faria o documento da ocorrência. O Intendente Sebastião Sabugo foi até a sede de a Municipalidade fazer o relatório do ocorrido em companhia o Coronel Ezequiel que não deixava a sua filha Luna, a sua mulher Rosa que não se apartava da filha, as outras filhas do coronel, o Major Pontes, o capitão Zenóbio e todos os componentes do secretariado para que pudessem tomar posse nas suas pastas. O Monsenhor Bento, depois de algum tempo, também chegou à sede do Município. O até terminou por volta de 1 hora da tarde quando as damas pegaram as suas Liteiras para evitar sujar seus vestidos e por outras razões. Apenas Luna pegou o seu cavalo Branco, pois era assim que ela chamava o corcel e acompanhada do rapaz Temístocles a quem chamava de Téo rumou direto para a sua fazenda. Guacira vinha logo atrás com ordens de suspender o cerco em torno à fazenda, pois com a morte do Barão de Itabira não restava mais míngüem que mandasse ou desmandasse para fazer um novo atentado. A casa do Barão ficara sem proteção alguma. Os vaqueiros deviam debandar o feitor, desse nem se sabia ao certo e os negros escravos deveriam ter a sua liberdade prematura.
Na sala de visitas, encontraram-se os que estavam chegando, inclusive o feitor Rafael Zenon. Todos estavam ligeiramente compadecidos por tudo o que houvera. A moça Luna, num instante, sentada em uma poltrona, encostou sua cabeça no ombro de Temístocles e começou a chorar. Um choro triste e sem consolo. Lágrimas puras caíram dos seus mimosos olhos e ela não se conteve em abraçar o rapaz que lhe fazia carinhoso afeto sem dizer palavras. Rosa, a mãe de Luna também se ajoelhou aos pés da filha para poder lhe consolar. As irmãs ficaram ali como se pudesse fazem algo para consolar a irmã. Porém, Luna somente fazia chorar copiosa ao ombro de Temístocles como quem estivesse algo de proteção.
--- Por que Téo? Por quê? – foi o que se ouviu de Luna querendo ter um amargo carinho de quem pudesse dar.
--- Sossegue Luna. Sossegue. O que está feito, está feito! – disse o rapaz.
Ouviu-se um ruído que tomou forma maior. Um ruído ensurdecedor de homens eufóricos a cavalo que chegavam a Casa Grande vindos da cidade. Eram o coronel Ezequiel e os seus companheiros que chegavam para fazer a festa de emancipação do Município no cercado da residência. As três moças correram para fora e receber os novos mandatários do Município de Riacho das Pedras. Em canto, Luna ficou calada sempre ao ombro do seu amigo ao pedir um pouco de carinho. A sua mãe deitou a cabeça em suas pernas, pois era tudo que podia fazer.
No pátio interno da Fazenda Maxixe o sanfoneiro Felix com a sua concertina animava a festa para toda a freguesia que, animada, dançava, pulava, gritava e de todo modo festejava a inauguração do novo município. Eram as pessoas da Fazenda e de outras fazendas próximas ou afastadas, como a Fazenda “Lavrador”, do Major Pontes de Mesquita e a Fazenda “Arroio do Boi”, do capitão Zenóbio Manso e de outras fazendas mais distantes. Foi festança que durou não menos de três dias com o pessoal regozijado com a glória de emancipação ditada pelo Coronel Ezequiel Torres. Nesse instante de bravura o rapaz Temístocles teve a ação de pedir em casamento a moça Ana Luna, pois eles já estavam de namoro. O coronel Ezequiel, logo assumiu o desejo do rapaz tendo em vista que ele salvou da morte a sua filha e esta foi quem salvou o coronel Ezequiel no ato da extremada confusão imperante em praça pública.
Então, passados os meses, houve o proclama do feliz casamento entre os dois pombinhos: Ana Luna e Temístocles Mangabeira, pois esse era o seu nome completo. Eles foram morar na nova cidade e, com o tempo, Temístocles se tornou Intendente e Sebastião Sabugo foi ser Deputado. Sua esposa era assessora de deputado do seu marido. O Coronel Ezequiel continuou zelando pelo município de Riacho das Pedras até tempos infindos. Os de Nicácio Pereira fizeram as pazes com o coronel e não mais abriram confusão na cidade. Na administração de Temístocles Mangabeira aumentou-se o calçamento da cidade e se fez ampliação das luminárias a óleo e o esgotamento das partes mais sacrificadas pela chuva. Deu-se educação, saúde, cultura entre outros benefícios para a população carente. O Município tornou em um polo exportador de carne bovina, ovina e caprina para locais menos providos de tais alimentos.
--- Parece que estamos acertando, Luna! – disse certa vez Temístocles.
--- Parece, não! Estamos acertando! – respondeu Luna entusiasmada na sede da Prefeitura.

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