quarta-feira, 9 de junho de 2010

LUZ DO SOL - 24 -

- ANA LUNA -
- 24 -
O Coronel Ezequiel ficou então mais brabo que uma fera pela primeira vez enjaulada e quase não podia responder às perguntas de Zenon. Enfiou-se no gabinete e disse manso como uma ovelha como se nada tivesse acontecido. Falou o mais tranqüilo que podia ser. Apenas, isso na pura aparência, pois em seguida bradou igual uma onça. Vibrou sobre o birô e exigiu rapidez no que dizia, pois enfim a causa era de tamanha importância e o coronel queria rapidez no que havia dito.
--- Atiradores e dos bons. Quero juntos 150 homens. Entendeu? – falou bem alto e com muita raiva o coronel Ezequiel.
--- Sim senhor. Num instante. – respondeu Zenon como quem faz com medo.
Enquanto os atiradores – jagunços na sua maior parte – se reuniam para obedecer a extrema ordem do coronel esse ficou a conversar com Sabugo e o Delegado de forma atenta as respostas que ouvia de ambas as partes. Uma coisa era certa: a festa do próximo domingo estava cancelada. Disso o coronel nem queria mais saber. Era a vez de saber como se faria então na completa proteção do capitão Zenóbio Manso. O caso foi o seguinte. O capitão Zenóbio enviou carta para o delegado Euclides pedindo que ele fosse até a fazenda do coronel Ezequiel. Em lá chegando dissesse ao coronel que ele - o capitão – havia interceptado uma mensagem do Barão de Itabira para o fazendeiro Nicácio Pereira onde dizia que estava pronto para invadir a fazenda do capitão Zenóbio Manso do dia seguinte que era então aquele dia. A carta de aviso caiu do bolso do jagunço que a levava e, por tanto, era a vez de se arranjar defesa para enfrentar os jagunços do Barão e dos Pereira, pois na certa eles invadiriam logo depois a fazenda Maxixe, do coronel Ezequiel por conta da festa que estava programada para ocorrer no domingo, véspera de São João, padroeiro da vila que tornaria município de vez. Se o jagunço não entregasse a carta, não restavam duvidas que parte do pessoal se encontrava pronto para seguir de qualquer jeito. Dessa forma, o pessoal do Barão. O caso era proteger a terra do capitão Zenóbio que ficava próximo da fazenda do coronel e mais distante da fazenda Lavrador do Major Pontes de Mesquita. Por outro lado, o coronel teria que proteger a sua propriedade pondo homens armados e adestrados em torno de ampla margem do cercado.
Quando os jagunços do coronel estavam prontos para matar ou morrer, outro mensageiro do capitão chegou à fazenda do coronel pedindo socorro, pois toda a tropa do capitão estava sob fogo cerrado por um grupo armado de vários jagunços. Ele não sabia dizer de quem eram os atiradores. O grupo armado do Coronel Ezequiel Torres partiu em debandada sob ordens do coronel que seguia em frente e do Intendente Sebastião Sabugo com apoio do feitor Rafael Zenon. Ficaram para trás a mulher de Sabugo, dona Guacira, acostumada em se envolver em confusão armada, aguardando novas ordens e o Delegado Euclides Castanheira protegendo o cercado da fazenda Maxixe. Em contrapartida, Ana Luna seguiu por fora acompanhando de longe a tropa do coronel Ezequiel sem que ele suspeitasse. Esse era o primeiro combate de verdade em que se metia Ana Luna e ela não queria perder em nada nem por um instante sequer. Por isso, a moça preferiu distanciar para não ser repreendia pelo Coronel seu pai. Quando a tropa de 150 homens, sob o comando do feitor Rafael Zenon divisou a fazenda somente se ouvia o tiroteio travado entre os dois grupos. Nesse momento. O coronel Ezequiel ordenou que se seguisse pela parte de traz dos jagunços atacantes, pois dali se fazia melhor ângulo de tiro. E foi feito assim. Entrincheirados entre montes e troncos de pau, os jagunços do coronel abriram fogo contra a turma de atacantes. Foi fogo cerrado e a turma teve que se virar para outro lado e fazer fogo contra os rivais que acabavam de chegar. O pior era que não podiam os jagunços sair do local, pois seriam atacados pelas costas ou pela frente. A guerra era continua entre os grupos rivais. Foi nesse instante que apareceu uma amazona fazendo fogo contra os jagunços que tomaram o sitio do capitão. A moça corria desesperada, virando-se para trás, atirando mortalmente nos jagunços que estavam entrincheirados em um barranco onde nem mesmo o coronel Ezequiel podia alcançá-los. Foi uma refrega terrível aquela. Tiros e mais tiros desfechava Ana Luna contra os sequazes que foram tomados de surpresa com a ação da amazona. Em seguida, surgiu um outro rapaz bem moço, atirando sem parar fazendo com que os invasores se surpreendessem de monta. O coronel Ezequiel, cruelmente surpreso e desapontado, perguntou no meio do tiroteio:
--- Quem diabo é essa moça? – perguntou Ezequiel amedrontado em atingi-la com um tiro.
--- É sua filha, coronel. – respondeu Sebastião Sabugo, sorrindo.
--- Eu sei! Ora! Quer dizer a mim? – falou desesperado o coronel.
E Sabugo começou a sorrir em meio de aquele intenso tiroteio. O coronel não respondeu mais fazendo apenas:
--- Porras! – fez o coronel com raiva e precaução.
Quando atingiu o alto de um lajedo, Ana Luna viu logo de perto sob a luz do entardecer todos os jagunços. Ela então abriu fogo contra eles disparado doze tiros de rifle acertando em cada um mortalmente. Abaixou-se então para recarregara arma enquanto no outro extremo um rapaz fazia fogo de uma pequena distancia, contra os invasores. O coronel ordenou toque de avançar e pegou de surpresa o restante do bando que logo se entregou, pois não havia como revidar ao ataque. O coronel Ezequiel, sufocado pelo terror da morte perguntou aos jagunços:
--- De onde vocês são? – perguntou o coronel extenuado.
--- Da terra do Barão de Itabira, senhor. – confessou um dos jagunços.
--- E o resto dos que estão mortos? – indagou o coronel.
--- Também. Todos de lá. – respondeu o jagunço.
Nesse ponto já estavam juntos a moça Ana Luna, o rapaz Temístocles que ela não o reconhecera, o Intendente Sabugo, o feitor Zenon e o capitão Zenóbio. Foi então que o coronel ordenou com extremada violência.
--- Matem todos e deixe um para ir contar ao Barão de Itabira o que resultou do morticínio. – disse o coronel se afastando então em companhia de Zenóbio, Sabugo e vindo atrás a sua filha Luna.
No morticínio participaram os feitores Zenon, que escolheu o que tinha de escapar com vida, o feitor Temístocles e um bando de jagunços sanguinários do coronel Ezequiel e do capitão Zenóbio, homens destemidos para matar.
Ao chegar na Casa Grande do capitão Zenóbio, todos os presentes contavam eufóricos a valentia dos seus homens. No entanto, se esqueceu de falar em Luna, a jovem moça que decidiu a peleja com seu rifle de doze tiros. Também não se falou no destemor de Temístocles, que igualmente com Luna resolveu o impasse que estava correndo. Foi então que Luna se apresentou ao pai pedindo permissão para ir embora. Em tal momento, todos da casa olharam confusos para a moça, pois até aquele momento não se ouvira falar em Ana Luna. Então foi quando o coronel teve um estalo de memória e disse:
--- Essa é minha filha. E se não fosse a sua ação de destemor nós ainda estaríamos brigando ou talvez mortos. Ela é Ana Luma! – bradou o coronel Ezequiel Luna Torres.
E os presentes na sala contemplaram pela primeira vez a face de Ana Luna, a moça que em meio ao tiroteio enfrentou aos jagunços invasores. Foi ela e Temístocles quem decidiram à questão pondo fim a escaramuça que estava se prolongando há muitas horas. Então todos os presentes gritaram:
--- Viva Luna! Viva Luna! Viva Luna! – gritavam os presentes na euforia da vitoria.
Ela agradeceu a todo e quando já estava a partir, eis que chegou o feitor Temístocles, dando conta do que se fez e perguntou ao capitão Zenóbio onde enterraria os mortos. O capitão, eufórico, apenas disse ao rapaz:
--- Manda a cambada enterrar no riacho. Sacode lá. É gente que não serve pra nada. – comentou o capitão já entupido de cachaça que acabara de beber.
Luna olhou para o jovem Temístocles e voltou a pedir desculpas pelo que aconteceu naqueles dias. O rapaz disse o que já havia dito e tudo estava resolvido. Apenas ele disse que Luna cavalgava muito bem e que sabia atirar com precisão. E perguntou:
--- Quem te ensinou a atirar? – perguntou Temístocles.
--- O mundo. – respondeu a moça meio entristecia por conta das mortes que fizera.
--- O mundo? – indagou assustado o rapaz.
--- É. O mundo. Quer me acompanhar até o meu sitio? – perguntou Luna.
O rapaz olhou para o capitão e obteve permissão. Do mesmo jeito obteve do coronel, pai de Luna. Então, os dois saíram a cavalgar pela estrada a fora.

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