domingo, 6 de junho de 2010

LUZ DO SOL - 21 -

- ANA LUNA -
- 21 -
Foram passando os meses e os dias e Ana Luna continuava a treinar a sua arma, quer fosse revólver quer fosse rifle, no local de tiro existente no cercado da Fazenda Maxixe do coronel Ezequiel Luna Torres, um recanto afastado cercado de montanhas. Naquele dia ela seguia a trotear ao lado de sua amiga Guacira, esposa do novo Intendente da Vila Riacho das Pedras. Nesse dia Luna saíra calada de sua casa – a Casa Grande - como quem a refletir. Guacira nada falou ficando também calada. Ela fazia apenas companhia a Luna para um caso de existir alguma necessidade urgente ou mesmo somente para passear pelo campo. Foi aí que Luna resolveu falar. Falou Luna um pouco baixo como se ninguém pudesse ouvir. Estavam apenas as duas, vez que o coronel e seu homem de confiança, Rafael Zenon já haviam tomado a dianteira e chegaram bem cedo ao local de tiro onde os dois se exercitavam para melhor estarem em caso de necessidade. Ainda distante do local Luna perguntou a sua amiga se não haveria por aquelas matas um puro sangue que fosse todo branco. A moça ficou a pensar em cavalos puro sangue e chegou a conclusão de que podia haver com certeza. O negócio era procurar pelo matagal.
--- É isso que estas a pensar? – indagou Guacira sem muita preocupação.
--- É. Eu queria um cavalo bravio, desses que a gente amansa e que obedecessem as nossas ordens. Era um desses. – relatou Luna refletindo ainda.
--- Você pode pedir ao feitor Zenon para ele encarregar de se encontrar um cavalo desse tipo. – argumentou a jovem mulher.
--- Eu tinha pensado nisso. Vou falar com Zenon. Ele vai ter que dar um jeito em conseguir. – expôs a garota meio zangada.
--- Arranja. Ele arranja. Nem se preocupe. Ele conhece essas quebradas. – disse Guacira ficando um pouco mais calma.
No cercado de tiro o Coronel Ezequiel, quando avistou a sua filha acompanhada da sua amiga foi logo dizendo com alegria e cheio de contentamento.
--- Ora veja só! Parece que o sono foi longo! – falou Ezequiel com expansividade.
Guacira ficou alheia ao assunto e Luna desceu da cela e procurou de imediato, falar com Zenon a respeito do tal chamado cavalo branco, pois a moça estaria querendo um para a sua montaria. E foi logo encetando a conversa. Ela não pensava em outra coisa a não ser no cavalo branco. E assim foi dizendo ao feitor;
--- Olha! Arranje um cavalo branco para mim. Que seja puro sangue. Ouviu? – relatou Luna sem médias conversas.
--- Ora que menina o senhor me arranjou coronel! E ela é braba! – sorriu abertamente Zenon ao falar com o coronel.
--- Isso é com você, Zenon. É com você. – respondeu o coronel procurando mirar nas garrafas.
--- Pois está certo, menina. Eu vou procurar o seu cavalo branco. Por toda essa mata. Mas vou procurar. Pode ficar sossegada. – rebateu Zenon sempre alegre.
--- Acho bom! – disse Luna com a cara feia voltada para Zenon. E então ela pegou a sua arma para exercitar seus arrojados tiros.
Zenon olhou para Guacira e compreendeu o que a mulher estava a lhe dizer como: “Não te disse?”.
E nesse momento Zenon perguntou ao coronel se podia sair para arregimentar uns vaqueiros que procurassem o tal chamado cavalo branco.
--- Pode ir. A patroa falou, está falado. – respondeu o coronel achando graça.
--- E é para “ontem” – respondeu Luna ao ver Zenon se montar em seu cavalo para seguir viagem.
--- Virgem Maria! Ela está arisca! – reclamou Zenon açoitando o cavalo.
Uma semana depois e também de muito achincalho por parte de Luna sobre Zenon onde ela perguntava onde estava o cavalo branco foi a vez de aparecer na fazenda um vaqueiro trazendo um cavalo branco ao longo de muita luta para domar o animal e rebocá-lo para entregar de vez a sua dona, Ana Luna. Foi uma verdadeira festa que se fez, com Luna afoita em ter um cavalo branco.
--- Viva! Viva! Viva! – gritava Luna repleta de contentamento.
--- Cuidado moça. O bicho é arisco. – respondeu o vaqueiro.
--- Deu trabalho pegar ele? – perguntou ao vaqueiro meio desconfiado com a montaria.
--- Ora se deu! O brabo renegou do laço. E fez brabeza que só ele. Inda está brabo mesmo. – respondeu o vaqueiro suado que não tinha mais o que suasse.
E cavalou foi solto no curral onde Luna passou a olhá-lo com firmeza, queixo apoiado nos braços e deitado no cercado de madeira retorcida vendo o que o corcel fazia. De momento, nada. Depois, o corcel passou a correr por todo o cercado com a sua dona apenas a olhar. Olhos firmes entre a cabeça abaixada. No alpendre, o coronel, sua mulher, Guacira e Sabugo a olhar a rara espécie de animal valente. Passaram-se horas e mais horas apenas com a moça a namorar o cavalo como forma de amansar o animal. Relinchos estridentes ele soltava para o ar. Tinha vez que entrava no galpão como se estivesse cansado ou vencido. No seu canto, a moça Luna a aguardar a volta do corcel. Então, passadas algumas horas, a moça resolveu trancar o galpão para depois vir outra vez namorar o seu cavalo. Ela ficava no mesmo canto enquanto um vaqueiro abria a porteira para a saída do corcel. Demorava-se um instante e vez que aparecia o cavalo indomado. Roçava as patas no chão, corria em círculos e torno o curral e voltava para dentro do galpão. A moça ficava no mesmo lugar para ele a observar. Nada dizia ao cavalo. Os vaqueiros se queixavam do tempo que duraria aquele namoro. Uns renegavam. Outros ficavam olhando de longe a observar. Zenon nem se aproximava do curral. O coronel já se cansara de ver todo aquele chafurdo. Entrava na sala e por lá ficava dando ordens a Sabugo da festa que se faria em breves tempos. A mulher do coronel, Maria Rosa, mãe de Luna tomava conta dos afazeres domésticos. E tudo voltava ao normal dentro e fora da Casa Grande, Zenon dando ordens aos vaqueiros, Guacira esfregando sua arma, as filhas do coronel dando risadas de conversas sem sentido. Era tudo isso que ocorria no cercado da fazenda. Apenas a jovem moça é que ficava no mesmo lugar tendo companhia de um vaqueiro que se encarregava de abrir e fechar o galpão para a saída ou entrada do corcel. Quantos dias esse namoro durava não se podia prever. O certo é que demorava muitos dias. Longos dias. Extenuantes dias. A moça e o cavalo. Ela no mesmo canto, do mesmo jeito que em dias passados. O corcel fazendo as mesmas piruetas como se aquela corte não tivesse período para findar.

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