sábado, 29 de maio de 2010

LUZ DO SOL - 15 -

- ANA LUNA -
- 15 -
Quando o capitão Zenóbio Manso entrou na bodega com seu traje de vaqueiro para não dar má impressão foi saudado com entusiasmo pelo bodegueiro Genésio, homem rude o corpulento, barrigudo até onde a camisa não abotoava e as calças folgadas ficavam abaixo da cintura. Muito alegre Genésio fez ouvidos para o capitão Zenóbio que falou baixinho ao pé a orelha. Os seus homens, inclusive o rapaz Sabugo, ficaram do lado de fora do estabelecimento aproveitando a sombra que fazia o alpendre apesar de ser baixo. Deli em diante os homens podiam ver um colossal panorama que eles mesmos tiveram que atravessar a cavalo. Um lugar remoto de quase ninguém bem parecido com a região do Saco, um lugarejo como aquele cuja morada por várias vezes foi tempo de Sabugo se homiziar para se defender de um bando de inimigos que então fizera.
Dentro da bodega o capitão perguntou a Genésio se lá estava o senhor Ferro Martinez com quem gostaria de dialogar. O homem Martinez era forte e robusto, um metro e noventa de altura, musculoso e de certa forma rápido no gatilho. O bodegueiro pediu um instante para ver se Martinez podia atendê-lo por em certas ocasiões naquela hora o gigante sempre estava a dormir para sossegar do que fizera nos dias passados. A bodega de Genésio era o esconderijo de Martinez quando ele estava em um serviço por perto daquele local. Havia um quarto separado naquele local para ele e seus capangas cuja denominação apenas os chamava de companheiros. E assim, Martinez ou mesmo Ferro se mantinha em plena forma ao ser chamado para algum serviço. Apenas os homens de ótima informação sabiam que Martinez estava em tal bodega e quando precisava dos seus préstimos sabiam como chegar até ele. E o capitão era um deles.
Sem pressa e com cuidado Martinez chegou até um balcão meio tosco mostrando sua má conservação e o cumprimentou o capitão Zenóbio Manso quem o conhecia de velhas datas por serviços prestados, assassinatos com certeza, e ouviu do mesmo que então os dois precisavam conversar. Sem meios termos, o executor o chamou para entrar no cubículo para ele feito, com seu cão de guarda a farejar o estranho, pois sempre Martinez o levava nas empreitadas rápidas ou difíceis. Aquele era o seu cão de guarda para todas as defesas de que Martinez precisasse. A todos os estranhos o cão sempre estava a farejar para ver se era amigo ou não, se prestava ou não como todo o bom cão costumava fazer. O gorducho bodegueiro se encheu de sorriso ao ver os dois companheiros se encontrarem de novo. Com certeza aquilo deveria ser mais dinheiro para a sua bodega. Afinal um só encontro não resolveria a sua situação de dono de uma bodega. Os homens, sob cortesia de Martinez ao tirar o chapéu e fazer a vez do bom anfitrião, entraram para os aposentos do verdugo cuja atenção fez vez com se fazia ao se procurar um bandoleiro. Para entrar no aposenta, o homem fez dois toques e mais um terceiro avisando que estava tudo severamente organizado e que pretendia entrar. Dentro dos aposentos do quartinho havia uma espécie de beliche de um lado e do outro do quarto, umas quatro o cinco cadeiras, uma mesa onde três jagunços com cara perversa jogavam pôquer sem desviar o olhar da partida, uma bacia de água e um caneco que àquela hora estava seco.
--- Bem. Todos nós somos amigos. Esse é Satanás e os outros dois amigos o senhor vai conhecer com o tempo. Mas, há quanto tempo não vemos! De que se trata agora? – perguntou Martinez de vez interessado.
--- Bem! Bom dia a todos! É o seguinte. Tenho um serviçinho para o mestre. Em uma bodega da Vila está um sujeito loiro, todo de preto, vindo a mando de não sei quem matar o coronel Torres. Foi ele quem pediu o vosso serviço. Você vai e dá cabo dele e dos outros por ventura que estejam com ele. Mas faça isso devagar. Entende? – falou o capitão pouco assustado.
--- Pode deixar que eu farei. – respondeu o amigo de Zenóbio Manso.
--- O combinado; a metade agora e a outra metade quando você me entregar o corpo do facínora. Certo? – falou o capitão.
--- Se for um tem um preço. Se for mais de um, aumenta mais um pouco. Aqui tudo é dividido. Os rapazes ganham iguais a mim. Certo? – perguntou Martínez.
--- Certo. Certo. A gente acerta isso quando o corpo me for entregue. Se for mais de um, eu pago. Não tem problema. Agora, eu vou sair com meus homens e você siga a trilha da Vila Riacho das Pedras. Está ótimo. Bom dia. – cumprimentou o capitão.
O Capitão Zenóbio e seus homens saíram da bodega caminhando para o seu sítio longe da bodega, longe também da fazenda Maxixe do coronel Ezequiel e bem longe ainda do Vilarejo Riacho das Pedras. Houve um tempo para Martinez seguir com os seus bandoleiros. Quando o tempo já marcava uma boa distancia, Martinez seguiu com sua turma e seu cão direto para a Vila orientando a todos, menos ao cão, como não era preciso, de que ao chegar da bodega da vila ele somente falava. E disse que Satanás ficasse do lado direito do loiro e os outros dois se espalhassem por outros locais.
Foi uma eterna viagem aquela a qual levou até a Vila Riacho das Pedras, com Martinez, seu cão e os seus companheiros fazendo voltas alongadas e difíceis para disfarçar de onde vinham na verdade. O sol caminhava para o seu poente, quase quatro horas da tarde. Martinez era todo suor. O cão seguia montado em uma espécie de cestas e que terminou quanto o pessoal entrou na vila. Daí em diante o cão foi posto no chão. Mesmo sendo um animal, esse cachorro também não podia caminhar longas distância sem ter que repousar. Daí porque Martinez tinha o cuidado de lavar sempre em um cesto aquele cão protetor, pois o animal já defendera o seu dono em várias ocasiões. Os quatro homens chegaram à Vila com muito vagar e logo Martinez procurou uma bodega onde estivesse um rapaz loiro. Depois de certo tempo encontrou o seu canto. O rapaz loiro estava em pé em uma bodega que havia no vilarejo. Era certo que o homem tinha visto Martinez ainda longe quando o bandoleiro hábil e contumaz e seus sequazes caminhavam para o seu derradeiro ponto. Ao chegar na bodega, Martinez procurou entrar por uma porta deixando que seus amigos entrassem por outra. Então, Martinez cumprimentou a todos de forma amigável.
--- Olá pessoal! Vamos beber todos por minha conta! Hoje estou fazendo aniversário! – proferiu Martinez feliz da vida.
Satanás procurou o seu ponto de referencia pela direita do homem loiro que estava ali há certo tempo, fazendo horas para agir, com certeza na morte do coronel. O homem vestia preto da cabeça aos pés. Apenas uns botões dourados lhe enfeitavam a camisa negra. Aquele traje dificultava se notar a sua presença à noite quando o quadrilheiro costumava atuar em suas campanhas da morte. Além do mais parecia a ele aquele ser um traje adequado para um bandoleiro. Ele usava dois revolveres colt 45, um de cada lado. Havia quem dissesse por longos caminhos que ele era exímio no gatilho. Quando Martinez entrou na bodega, ele notara bem antes do mesmo chegar. Por isso se postou de frente, escorado no balcão, com o pé direito suspenso escorado numa trave que protegia o balcão e sorria eternamente, mostrando os dentes trincados para o seu pretenso algoz.
Ao entrar na bodega, Martinez saldou a todos e em particular ao homem louro que acompanhava seus movimentos. De certa vez, quando Martinez já estava no balcão pedindo bebidas para todos os presentes, o homem louro se acercou dele e juntou o seu rosto quase chegado ao de Martinez, recolhendo o seu próprio copo e falando baixo perguntou:
--- O amigo vem de longe? – perguntou o loiro a sorrir.
--- Muito longe. Do sul para o norte. – respondeu Martinez fazendo com os braços um exemplo quem viajava pelo sertão. E Martinez também sorriu de forma amarga.
--- Não encontrou o seu amigo, amigo? – perguntou o loiro a Martinez sempre cordial.
--- Amigos? São todos os meus amigos, amigo! – apontando os que estavam sentados.
--- Por acaso sabe atirar? – perguntou o bandoleiro apontando para o revólver 38 que Martinez trazia em seu colt.
--- Quem? Eu? Essa arma só serve para matar cobra no mato. Ou caçar! – disse Martinez sorrindo para o seu algoz que também sorria.
Nesse ponto, o bandoleiro puxou de sua arma e apontou para Martinez.
--- Digo isso, amigo! – falou o loiro de forma sorridente.
--- Que é isso amigo? – perguntou Martinez sorrindo também.
E o bandoleiro desviou a arma e jogando uma moeda para cima acertou bem no centro fazendo ricochetear para um lado, perfurada no meio.

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