domingo, 23 de maio de 2010

LUZ DO SOL - 9 -

- ANA LUNA -
- 9 -
O homem estava escorado no tronco de madeira fornida e um pouco grosso onde o coronel mandava escravos desobedientes serem açoitado. Às vezes algum vaqueiro ou mesmo jagunço seria mandado para o tronco. Daquela vez, estava assinado para Manoel Jacó ser a próxima vitima, com certeza. O vaqueiro um pouco embriagado estava totalmente composto com as roupas de trabalho. Mas ao sair da Casa Grande os jagunços já que tiraram as armas de Manoel, inclusive o punhal de aço e outros armamentos que por ventura estavam com o vaqueiro condenado. Quando ele chegou ao tronco estava verdadeiramente sem as armas. Na hora do açoite, o moreno Sabugo ordenou que se tirasse a roupa do condenado:
--- Toda a roupa, senhor? – perguntou um jagunço de olhos para Zenon.
--- Tirem a roupa dele. Entenderam o que eu disse? – falou com voz arrogante Sabugo.
Os quatro jagunços obedeceram mais deixaram o homem vestido da cintura para baixo porque a surra seria dada apenas nas costas da vítima que estava para ser sacrificada. Quando os jagunços acabaram de tirar a roupa de Manoel Jacó disseram para Sabugo.
--- Pronto senhor. Tiramos. – relatou um dos jagunços.
--- Não estou vendo que vocês tiraram tudo. Eu disse TUDO. Traje completo. – berrou satanicamente Sabugo.
Os jagunços ficaram desconfiados e olharam para Zenon que, por seu lado fez um gesto apenas movendo a boca e as sobrancelhas puxando para cima os ombros. Os capangas entenderam o mandado e rasgaram toda a roupa do vaqueiro, do gibão de couro, guarda peito, perneira e até os sapatos deixando o homem completamente despido até mesmo sem ceroulas. Quando os capangas acabaram de tirar a roupa de Manoel Jacó disseram.
--- Está nu, senhor. - disse um capanga sob os olhares de Zenon que estava sisudo com a cara de mal, barba comprida, cabelos também compridos e um chapéu da cabeça.
--- Tá bom. Agora é a vez de perguntar ao distinto senhor. Como o senhor quer que eu dê a surra, mestre? – perguntou de mansinho Sabugo.
--- Bata devagar, senhor. Devagar. – disse Manoel Jacó já chorando pela dor que ia sentir.
--- Tá bom. Mestre Zenon. Ele pede que eu faça devagar. Posso? – perguntou de forma zombeteira o serviçal Sabugo.
O capataz Rafael Zenon calado estava e calado ficou erguendo só os ombros, subindo e descendo como quem diz: “Não tenho nada com isso”.
--- Tá bom. Foi o capataz quem mandou, viu Jacó? Faço o que ele manda! – falou o moreno Sabugo ao pé do ouvido de Jacó. De início deu logo dez lamboradas com toda a força de que dispunha o seu muque e a cada chicotada se ouvia lamentos fortes do vaqueiro Manoel como que dissesse: “Pára. Tá bom. Chega. Dói muito”. O serviçal parou, olhou para o feitor e disse:
--- Dez! - falou Sabugo.
E continuou a bater mais forte chegando a mais quinze rebenques de couro cru que o sangue escorria pelas costas do vaqueiro Jacó salpicando de todo as vestes de Sabugo. O vaqueiro, então, só fazia gemer de dor com os jagunços temendo cada chibatada e encolhendo a todos tamanha malvadeza que o homem fazia a Jacó. Por seu lado, Zenon olhava impassível. De repente, a cena continuou. Sabugo deu mais dezenove lamboradas nas costas de sua vítima que, não suportando a dor, desmaiou, ficando suspenso no tronco apenas. Vendo o desfalecimento de Jacó, o homem Sabugo desceu do tronco e caminhou até Zenon dizendo.
--- Tome seu chicote. Ele só agüentou quarenta e nove chibatadas. Vou tomar banho. Estou todo molhado de sangue do verme. – disse Sabugo olhando para as suas vestes.
Nesse momento, Zenon pegou o caminho da Casa Grande e foi até o escritório do coronel Ezequiel Torres e lá chegando encontrou Maria Rosa, a sua filha Luna, o filho Euclides e o coronel. Este era o único que estava sentado em sua poltrona. Os demais estavam de pé. Zenon olhou e não disse nada. Ele falou apenas com o coronel que estava olhando para Zenon, balançado as pernas separadas.
--- Pronto coronel. O homem desmaiou. Que faço com ele? – perguntou Zenon de cabeça um pouco abaixada e voz firme como de costume.
--- Mate-o!!! – respondeu o coronel sem contemplação.
O capataz ainda assim ficou esperando algo mais ameno e o coronel fez com a mão direita o sinal com o dedo polegar para baixo.
--- É pra já, coronel. É pra já. – disse Zenon e saindo após.
A moça Luna que estava em pé junto a sua mãe, estremeceu e ficou escorada no seu corpo como se temendo que aquilo fosse demais. O menino Euclides estava apoiado junto a sua mãe. E assim permaneceu quieto. Na seqüência, o coronel Ezequiel Torres remendou a mãe de Luna a passar da casa de dona Josefa, a mãe Zefa, para ir naquela tarde a sua casa, pois havia o que fazer. Era preciso só dizer o que foi dito. Mãe Zefa era parteira e sabia fazer além de partos, operações e abortos nas moças e mulheres daquela região. E Rosa entendeu muito bem as instruções que o coronel havia dado e apenas disse:
--- Sim senhor, coronel. – falou Rosa sem maiores emoções.
A mocinha parece ter sentido o que o seu pai dissera e voltou a chorar lento, pois sabia que ela era a única que era para sofrer alem do feto de dois meses. Agarrada a sua mãe, Luna saiu do escritório do seu pai enquanto ele dizia:
--- Não quero ver mais nenhuma cara de Manoel Jacó nessa terra. - falou com muita raiva o coronel Torres.
Então os três saíram da Casa Grande apesar do choro a moça. Enquanto isso, no quarto de banho, perto da cozinha da casa, Sabugo se tratava com esmero tirando todo o vestígio de sangue que podia estar encravado até mesmo nos dedos dos pés. Além disso, ele estava a tomar um bom banho coisa que não fazia há uma semana. E aproveitou o ensejo para se refrescar. No quarto de banho tinha cerca de vinte jarras bem robustas que comportava toda a água puxada pelo moinho, um cata-vento feito e posto nos arredores da Casa Grande. Logo depois do banho Sabugo pediu uma roupa completa a dona Bastinha e disse que o resto de ele deixou era para queimar até o fim. Em momentos, Sabugo deixou a casa de banho, um quarto imenso, e saiu cruzando na sala com uma moça bastante atraente e bela como estrela cintilante que ele não se importou em perguntar de quem se tratava. A moça olhou para ele com altivez e muito séria. Então passou à frente sem nenhum comentário a fazer. A moça era alva e loira tendo um vestido comprido até aos pés. O seu nome era Eunice Luna, a mais nova da casa filha do coronel Ezequiel.
Quando chegou ao escritório do coronel, Sabugo cumprimentou o patrão e disse que tudo tinha sido feito conforme as ordens dadas. O coronel disse apenas:
--- Muito bem. Agora tenho uma coisa para que você faça. Vá até a Vila e diga ao delegado e ao monsenhor que venham aqui, urgente mesmo, que tenho um negócio para conversar com ambos. Não se demore. Faça apenas o que eu mando fazer. Depressa! – falou o coronel Ezequiel com a cara ainda dura.
--- Sim senhor, coronel. É pra já. – disse Sabugo e voltou para a porta de onde partiu.
Do alpendre para o chão media cerca de dois metros. Sabugo pulou no seu cavalo, um também puro sangue, e marchou com tanta pressa, cujo porteiro não teve nem tempo de abrir a porteira do Rancho, tendo feito o jovem Sabugo saltar por cima da cerca e desembestar como louco varrido a procura do caminho da vila. O homem da porteira quando viu, assombrado, o jovem Sabugo saltar sobre a cerca, comentou:
--- Virgem! Pra que eu sirvo aqui? – comentou o homem da cancela.
Depois que Manoel Jacó foi tirado do tronco, Zenon disse aos quatro jagunços que o levassem para o juazeiro onde o coronel costuma enterrar suas vitimas. Os homens se entreolharam porque Jacó ainda respirava e gemia.

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