quinta-feira, 20 de maio de 2010

LUZ DO SOL - 6 -

- ANA LUNA -
- 6 -
Tão logo caiu morto, ou quase morto, Zenon foi lá até junto dele e lhe perguntou quem tinha encomendado o assassinato e de quem ele estava atrás. Mas o bandido não disse mais nada. Ele estava morto mesmo. Zenon disse um palavrão por não ter conseguido do bandido qualquer coisa que o identificasse. Sabugo foi quem levantou o coronel Ezequiel depois de despejá-lo no chão de forma abrupta para evitar ele ser atingido por bala deflagrada pelo o primeiro bandoleiro que caiu morto tão logo atirou. Foi Zenon quem desferiu o disparo. O Coronel, ainda surpreso, perguntou a Sabugo como ele vira que o bandoleiro estava ali para matar.
--- Simples coronel. Eu vi o bandoleiro quando o senhor entrava na casa do doutor. Eu vi que ele estava armado. Quando o senhor me voltou estava de olho nele. Quando ele puxou a arma foi o tempo de eu lhe dizer: “Cuidado”. Ele estava ali para atirar no senhor ou em outra pessoa que entrasse. – falou Sabugo sem emoção.
--- Mas eu tinha deixado Zenon tomando cuidado de mim e da casa! – falou o Coronel.
--- Sei disso. Mas é a questão de conhecer quem está fora. Aí veio a falha. – disse Sabugo sorrido.
--- Mas você é um homem esperto. Vi agora que é. – falou o coronel.
--- Sou nada coronel. Eu tenho melhor faro para certas questões. – respondeu Sabugo orgulhosamente.
--- Você é meu rapaz. É capaz de enganar qualquer um. Lembro-me agora da corrida e do calço. Aquela foi demais. – falou o coronel cheio de orgulho.
--- Veja coronel. Eu perdia para Zenon na corrida. Ou pelo menos eu pensava nisso. E foi prudente eu fazer a traquinagem do calço. – sorriu Sabugo.
--- E o dois bandidos, você conhece algum? – perguntou o coronel.
--- Conheço todos os dois. Eles estiveram presos na cadeia de Pilar. Um é Manoel Porcaria e o outro é José Sebastião, conhecido por Tião. Ambos são bons no gatilho. Eu sou uma merda. Não sei nem pegar em uma arma. – respondeu Sabugo.
--- Olha rapaz. Não me engane. – falou o coronel.
--- Juro por Deus. Não sei de nada no gatilho. -- respondeu Sabugo serio de modo.
--- Run. Não vá me enganar. – falou o coronel desconfiado.
--- Não vou mesmo coronel. – declarou Sabugo.
--- É bom você ensinar muita coisa a Zenon. Ele é bom de gatilho. Mas você sabe alguma coisa que ele não sabe. Por exemplo: ver um bandido de longe. . – argumentou o coronel um tanto desconfiado.
--- Pode deixar. Se ele quiser que eu ensine, tô pronto para o negocio. – respondeu Sabugo sem medo.
Nesse meio tempo Zenon chegou de onde estavam os dois defuntos. E disse apenas que eram dois defuntos. O coronel se impacientou com a conversa de Zenon e disse de uma só vez.
--- Eu sei Zenon. Nem precisa dizer isso. – respondeu o coronel irritado.
--- Desculpe coronel. Mas o delegado já está vindo para rever os corpos. Alias, são três defuntos. Um está mais adiante. Foi um dos vaqueiros quem o matou. – falou Zenon.
Nesse instante ele olhou para Sabugo com cara de bem mau e não disse nada. Ajeitou o chapéu na cabeça e saiu em busca do delegado. O coronel Ezequiel Torres também fez o mesmo e foi identificar os dois bandoleiros e depois o terceiro morto. Em lá chegando perguntou a Sabugo de modo particular.
--- Irmão de José. Seu nome é João do Coité. Ele esteve uns dias na prisão. Quem soltou foi o Coronel Abel Viana. – relatou Sabugo.
--- Puta Merda. Você sabe de tudo! – disse o coronel com ânsia de partir ao meio o moreno Sabugo.
--- É a vida, coronel. É a vida. E não mesa do juiz tem um papel com o nome de “Abel” e um revólver com duas balas deflagradas. – respondeu Sabugo.
--- Mas você é danado mesmo! – proferiu o coronel Ezequiel.
--- E ele me conhece. Sei disso. – respondeu Sabugo de forma calma.
--- Conhece você? – perguntou espantado o coronel.
--- Conhece. Eu fiz serviço pra ele. E ele é também um dos tais! – explicou Sabugo.
--- Um dos tais? Como assim? Bandido? – perguntou alarmado o coronel.
--- Pelo menos foi ele quem disse. E para ele, bandido só presta morto. É o que ele diz e pensa. O Joca que veio matá-lo, não o fez porque ele atirou primeiro. Se vendo ferido Joca escapou. – falou Sabugo baixinho.
--- Menino! Com quem andam minhas burras? – alarmou o coronel.
--- Pois é coronel. Quem procura, acha. E Joca achou a dele. Eu penso que quem matou Joca são os mesmo capangas que morreram hoje. Agora, tem mais um. Qualquer dia desse ele aparece. E o senhor se cuide. Agora está no meio do fogo. – relatou Sabugo.
--- Isso mesmo. Não confie em ninguém. Nem na sua própria sombra. – comentou o rapaz em confidencia.
--- Nem nos meus amigos? – perguntou assustado o coronel.
--- Quem são seus amigos, coronel? Não me responda. Deixe isso com o senhor. – comentou Sabugo.
--- Nem em você? – perguntou o coronel de forma alarmada.
--- Quem sou eu, coronel? Quem sou eu? Nos homens fortes. É nesses que o senhor não deve confiar. – relatou Sabugo.
Nesse momento chegaram o delegado Euclides e o Farmacêutico Levi para ver o cadáver que estava estirado do local vitimado por um tiro da nuca disparado por um dos três capangas do coronel Ezequiel Torres. O coronel e o seu ajudante Sabugo se pediam assim dizer, estavam no local. Também naquele local estavam os temidos três matadores do capanga João Coité e alguns circunstantes. Do mesmo modo veio ao local o ferreiro Manoel de Tal ajudar no transporte do morto, pois ele era o fazedor de enterros da Vila Riacho das Pedras. Após decidir que estava verdadeiramente morto por um tiro na nuca o homem estirado no chão, o Farmacêutico Levi se levantou de onde estava fazendo uma prece para o morto.
Manoel de Tal pegou a trena e mediu o tamanho da vítima para depois chamar o seu ajudante e carregá-lo para o necrotério da delegacia de policia onde a vitima deveria ficar até a hora do enterro. No caminho, o coronel falou para Zenon, o feitor, que ele precisava aprender lições com Sabugo, pois esse teria muito a ensinar. Zenon olhou o rival sem discutir. E Sabugo sorriu para Zenon com a cara mais sem vergonha do mundo de como quem dizia:
--- Olhe! Olhe! Olhe. Não te disse? – teria dito Sabugo, coisa que ele não falou nem um só instante. Nem disso nem de outras coisas.

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