sábado, 22 de maio de 2010

LUZ DO SOL - 8 -

- ANA LUNA -
- 8 -
Tão logo o vaqueiro Manoel Jacó chegou a Casa Grande encontrou o patrão, coronel Ezequiel Torres bufando pelas ventas com tal impertinente demora. Já passara mais de uma hora que Zenon saíra a procura a procura do vaqueiro e só então voltara com ele como se fosse escoltado. Até certo ponto, sim. O jovem Sabugo estava na sala a ouvir os reclamos do coronel pela demora que levara Zenon. Esse disse que buscar até nos arredores da mata onde havia touro brabo sem encontrar ninguém por lá ou alguém que disse que Manoel Jacó estava ali ou acolá. As informações que obtivera eram todas desencontradas e ninguém dava como certa a presença do vaqueiro Jacó àquela hora da manhã. Por fim, Zenon disse que já estava de volta para a Casa Grande quando encontrou Manoel Jacó dormindo atrás da senzala dos escravos. E foi por isso mesmo a demora de encontrá-lo. O homem tão perto e se procurando tão longe.
--- Quer dizer que o senhor estava dormindo, não é? – perguntou o coronel.
--- Só estava madornando. Tive noite acordado procurando vacas! – respondeu o vaqueiro.
--- Ah bom. Isso é que é trabalho. Merece madornar. Mas vamos a conversa que é mais interessante. Você conhece esta moça? – apontou o coronel para Luna.
Um suor frio desceu pela espinha do vaqueiro ao ver a moça que ele nem pensava mais devido ao tempo que fazia. Dois meses. E ele respondeu:
--- Não senhor, Coronel! – respondeu Manoel todo entalado com a resposta.
--- Tá bom. Não conhece. Ela é minha filha, sabia? – perguntou o coronel bem jeitoso.
--- Sabia sim, senhor. Quer dizer não sabia coronel. – respondeu suando o vaqueiro.
Na sala estava Zenon, Sabugo, a mãe de Luna que se chamava Maria Rosa, e um filho de coronel, o menino Euclides. Todos eles prestaram atenção à resposta do vaqueiro que disse não saber quem era Luna, filha do coronel Ezequiel Luna Torres.
--- Ótimo. Não sabia é porque não sabia. Luna, você conhece esse homem aqui? – perguntou o coronel falando Aldo para Luna.
--- Conheço meu pai. É ele quem me ofendeu. Tem até o punhal na cintura dele. Foi ele que me pegou a força, com uma historia de a minha mãe lavar roupa dele e enfiou o punhal na minha garganta dizendo que eu me calasse. Fez tudo o que quis. Eu estava assombrada. Senti dores horríveis. Vomitei sangue depois que ele saiu. Quis gritar e não pude. Chorei por muitos dias. Fiquei calada por temor de ele voltar. Por muitos dias eu sonhei com ele voltando. Acordei assombrada. Não dormia direito. E nem me alimentava que prestasse. Vivi um enorme pesadelo. Agora, tenho aqui na barriga a lembrança daquela manhã terrível. Um filho dele. Foi o que ele plantou em mim. – falou Ana Luna ainda com assombro.
--- E o que diz amigo? – perguntou o coronel de forma desprezível.
--- É mentira dela, coronel. É mentira dela. – retrucou Manoel Jacó, assombrado com os detalhes que a moça contou do que viveu.
--- Mentira, não, seu peste. Minha filha não mente. Ouviu? - gritou o coronel de forma embravecida e partindo para cima do vaqueiro com as mãos em riste.
--- Desculpe coronel. Desculpe. – intimidou-se o vaqueiro.
--- A prova, Luna!. A prova!. – pediu arrogante o coronel de modo intempestivo.
--- Está aqui meu pai. - falou Ana Luna entregando-lhe o botão que ela arrancou do gibão de couro do vaqueiro.
--- Deixa em conferir. Pronto! É este aqui! Seu peste. E agora, heim? – rosnou o coronel
--- Mas esse botão faz tempo que eu perdi. Talvez numa vereda. – quis argumentar Manoel Jacó.
--- Então minha filha está mentindo, peste? – gritou o coronel de cara a cara com Jacó.
--- Não senhor. Ela deve de ter achado. – tremeu Jacó.
--- Zenon, para o tronco com ele! – declarou o coronel ao seu feitor.
--- Espere coronel. Espere. Eu caso com ela. – gritou o vaqueiro desesperado.
--- Para o tronco! – disse outra vez o coronel Ezequiel Luna Torres.
--- Marcha canalha. – respondeu Zenon ao vaqueiro.
Quando Manoel Jacó chegou à porta dos fundos da Casa Grande, quatro jagunços estavam preparados com as correntes para lhe atar os pulsos e os mocotós dos pés. E ali mesmo fizeram o serviço de acorrentá-lo. O homem estrebuchava por todos os meios. E Zenon indagou ao coronel.
--- Faço eu mesmo coronel? Ou mando outro? Tem aqui Sabugo que está doido pela festa. – falou enrouquecido o primeiro bandoleiro da casa.
--- Faça como quiser. – bradou o coronel Ezequiel saindo da porta dos fundos onde tinha ido vê o acoitamento que levaria Manoel Jacó.
--- Tá vendo. É você compadre. - disse sorrindo o pistoleiro.
--- Pois sim. Mas temos que fazer uma aposta. - disse sorrindo Sabugo.
--- Aposta de que cabra? Aposta de que? – falou sisudo, com sua barba enorme de grande e cabelo não menos na sua cabeça coberto por um chapéu de abano.
--- Aposta, pois. Você escolhe. Vai nos dedos ou nos palitos? – sorriu Sabugo.
--- AH sim. Assim tá bom. Pensei na historia do calço. – falou Zenon ainda cismado.
--- Vai? – perguntou Sabugo.
--- Nos dedos. É mais rápido. – retrucou Zenon.
--- Tá bom. Então comece! - respondeu Sabugo.
--- Comece o que? É você quem começa. – respondeu Zenon.
--- Par ou impar? – perguntou Sabugo.
--- Que diabo é isso. – perguntou Zenon estranhando o jogo.
--- Você diz par ou impar. Os dedos que aparecerem indicam o vencedor. – explicou Sabugo cheio de sorrisos.
--- Tá bem. Entendi. Eu quero par. – respondeu Zenon meio atrapalhado.
--- Vamos aos dedos. Já! – disse Sabugo.
Quando os dois mostraram os dedos indicadores tinha um em cada mão. Vencia assim o competidor que escolheu o par. Vencia o jogo o jovem Sabugo. O outro, Zenon, ainda não entendera muito bem a jogada. Ele pensava que Sebastião Sabugo havia menosprezado no jogo. Por certo tempo ficou a imaginar fazendo aquele jogo sozinho. Depois de algum tempo soltou uma gargalhada e disse.
--- É. Você venceu mesmo. E a sua vez de estalar o chicote. – convenceu-se Zenon.
Por certo tempo Zenon ficou desajeitado a jogar consigo mesmo e cada vez que acertava quase morria de achar graça com as proezas de Sabugo. E disse mais.
--- Você ainda tem que me ensinar outros jogos. – sorriu Zenon.
--- Ensino sim. Agora é a vez do vaqueiro Manoel. Ele vai ensinar como se deflora uma moça filha de um patrão. – e deu uma larga risada.
Os demais capangas, já chegando ao tronco onde penduraram Manoel Jacó, também sorriram a valer. Tudo era festa para os seis jagunços. Menos pra um. Manoel Jacó. Zenon nem sorriu com a pilheria de Sabugo que continuava sorrir. E em contrapartida Sabugo perguntou a Manoel Jacó.
--- Pronto amigo? – com um largo sorriso no rosto.

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