sexta-feira, 21 de maio de 2010

LUZ DO SOL - 7 -

- ANA LUNA -
- 7 -
Eram passados dois meses quando Luna começou a vomitar sem motivo aparente. Ela estava na beira do Riacho das Pedras quando foi acometida de náuseas e vômitos. Sua mãe indagou o que a moça estava sentindo e ela disse não saber. Parecia ser da comida do dia anterior. A mãe de Luna duvidou de tal afirmação, pois todos comeram do feijão que a mulher preparou naquele dia. A moça então não sabia dizer mais nada. Talvez fosse do cuscuz que comera antes de ir para o riacho lavar roupa junto com sua mãe e o irmão Euclides, de oito anos de idade. A mãe de Luna não disse nada, mas ficou desconfiada de tal afirmação. O cuscuz não fez mal nem a Maria Rosa e nem tampouco ao menino Euclides, o que deixava só a moça a vomitar insistentemente. A mulher nem fazia idéia do que poderia ser. Podia ser uma enxaqueca passageira, uma vez que de enxaqueca a moça sempre sofria. Era então melhor esperar por mais algum tempo, pois o negocio de vômito deveria passar. Maria Rosa recomendou que a filha se cuidasse e não precisava ir mais ao riacho naquela manhã. Foi então que a mulher, dona Zefa, que lavava roupa da beira o riacho comentou:
--- Sei não. Não é para me meter. Mas você veja a barriga dela! – falou Zefa.
--- Que? Minha filha? Buchuda? Isso nunca! – disse Maria Rosa meio desaforada.
--- É o deixa ver. – respondeu a mulher Zefa.
Então a cisma parou no caso da barriga de Luna. Se ela estivesse de barriga saberia de quem era. E sua mãe não tolerava tal fato. Foi então que a mulher resolveu a perguntar de forma atrevida e descomposta que caso era de tal barrigada.
--- Sei não, mãe. Sei não! – respondeu a moça.
--- Você não anda as escondidas pelo mato, desgramada? – interpôs a mulher, sua mãe ao notar a barriga meio cheia da mocinha.
--- Nunca fiz isso, mãe. Juro por Nossa Senhora! – afirmou a moça.
--- Tu não fez mesmo com nenhum moço do cercado? Me conta, se não te arranco as transas! – retrucou Maria Rosa.
--- Juro por Deus que não! – respondeu Luna ficar com medo de Manoel Jacó que prometera vingança. E neste ponto começou a chorar.
Um choro baixinho que depois se foi tornando mais intenso à medida que a sua mãe arregalava-lhe os olhos querendo uma confissão sem meias conversas para tomar posição de mãe que ela era. A moça chorou por muito tempo sem poder ou querer falar o nome de quem fez tal gravidez prematura, pois afinal ela era quase menina e temia da sorte de ter a garganta cortada por Manoel Jacó, vaqueiro destemido e arrogante da fazenda Maxixe, do coronel Ezequiel Torres. Homem de confiança do coronel que não teria como acreditar na acusação de uma menina, apesar de ser a filha do mesmo coronel, a despeito de fora de um casamento protocolar. Por fim esse era o drama de Luna, catorze anos de idade, sem a mínima condição de acusar o vaqueiro Manoel Jacó, homem forte do lugar. Apesar de ter em Rafael Zenon o seu feitor, o coronel Ezequiel Torres acreditava sumamente no que dizia Manoel Jacó. A sua palavra só perdia para Zenon, apesar de ter naquele momento um novo ajudante da fazenda que se chamava Sebastião Sabugo que Ana Luna ainda não conhecia tão bem como o resto da capangada e dos próprios homens da senzala, os negros escravos que muito andavam pela fazenda. Eram cerca de duzentos negros escravos e Ana Luna conhecia todos ou quase todos muito bem.
Por fim, Ana Luna resolveu falar entre soluços de prantos como uma menina que temia ser para depois uma mulher qualquer.
--- Foi Manoel Vaqueiro, minha mãe. – disse a mocinha de modo choroso.
--- E que é esse Manoel Vaqueiro, sina sem condições? – perguntou Rosa com bastante raiva a ponto de esganar a sua filha.
--- O homem do coronel. Manoel Jacó. Parece. Chamam de Manoel Vaqueiro. Todos chamam por ele assim. Ele me botou o punhal na garganta e fez o que fez. Um dia que a senhora veio para o riacho. Lá pelas sete e meia da manha. Eu estava só quando ele chegou com uma historia de roupa suja. Eu apanhei a roupa. Ele me pediu água. Eu fui buscar. Então se deu o negócio. Passei muitos dias sem comer e quase não falava. A senhora se lembra disso. Quase não falava com a dor na garganta do punhal que o peste socou em mim. – confessou Ana Luna atemorizada.
--- Vamos falar com o seu pai – AGORA!. Ele vai saber disso. Doa a quem doer. Ora se vai. Vamos. Chegue! – reclamou a mulher.
E a moça temeu de ir por causa do arrogo de Manoel Jacó. Mas a mãe da mocinha foi mais ativa e pegou o menino Euclides e a filha Ana Luna e tomou o rumo apressado da Casa Grande onde por certo estaria o coronel Ezequiel Torres àquela hora da manhã. E não demorou tanto tempo para os três chegarem a casa do coronel onde Maria Rosa encontrou o feitor Zenon conversando animado com outro homem que mais tarde ela ficou sabendo se tratar de Sebastião Sabugo. Ela e os filhos foram entrado enquanto a mulher perguntou de imediato pelo coronel Ezequiel.
--- Ele está no escritório, dona Rosa. – respondeu Zenon com um sorriso leve.
--- Vá chamar! – disse a mulher de forma autoritária.
--- Pois não. Chamo já. De que se trata? – perguntou Zenon, curioso.
--- Não é de sua conta. Chame o coronel! – falou zangada Maria Rosa.
--- Pois não. É pra já. – retrucou Zenon de forma Cortez.
Zenon sabia do romance que havia entre o par. Por isso, ele mesmo decidiu chamar o coronel no escritório da frente enquanto a mulher Maria Rosa, encostou a filha na parede de forma que quem viesse do fora não veria Ana Luna quase escondida atrás do pilar de sustentação da casa. Zenon chegou ao escritório e pediu licença ao coronel. Em seguida foi dizendo ao seu patrão que lá dentro da sala de jantar estava Maria Rosa acompanhada dos seus dois filhos. Como era incomum tal visita, o coronel perguntou do que se tratava.
--- Ela não disse. Quer falar com o senhor. – falou Zenon baixando a cabeça.
--- Ora merda! O diabo Rosa quer uma hora dessas? – resmungou o coronel.
E saiu para a sala de jantar onde encontrou Rosa e seus dois filhos. Sorrindo, ele perguntou:
--- Do que se trata, Rosa? – perguntou sem cerimônias o coronel.
--- Sua filha está de barriga e quer que o senhor saiba quem fez. – respondeu a mulher de forma bem zangada.
--- De barriga? E o que tenho com isso? – respondeu o coronel.
--- Foi um vaqueiro do senhor quem fez a desgraceira. E é melhor que ela mesma conte pra não ouvir por outras bocas.
--- Foi o vaqueiro Manoel Jacó que me pegou a força. Enfiou um punhal na minha garganta e disse que eu não dissesse nada,. – chorou a moça entristecida.
--- Meu vaqueiro fez isso? – falou alarmado o coronel.
--- Fez sim. E eu tenho provas! – respondeu a moça.
--- Que prova tem? – perguntou o coronel abismado.
--- Essa aqui. Olhe. Um botão do casaco dele! – respondeu com timidez Ana Luna.
--- Zenon. Chame esse cabra aqui. Ora já se viu! – perguntou o coronel enraivecido.
Então o feitor saiu a procura do vaqueiro Manoel Jacó por todos os recantos da fazenda, de cima a baixo, da esquerda a direita sem encontrá-lo em canto algum. Zenon procurou até nos confins das terras sem nada achar. Ao voltar para a sede da Fazenda Maxixe topou com o inesperado: Manoel Jacó dormia a sono solto por trás da senzala dos escravos. Zenon ficou com uma bruta raiva. Barbudo como era e cabelos longos da sua cabeça, o feitor encostou o cavalo próximo a Manoel Jacó, açoitou o animal e disse.
--- Levanta porqueira! O patrão está chamando você, seu bosta. – disse Zenon com raiva até demais depois de uma procura que durou mais de uma hora.
--- Oxente! Eu estava aqui, seu Zenon. – respondeu o vaqueiro timidamente.
--- Levanta. Vai lá à sala da Casa Grande. O patrão está te chamando. – disse de novo Zenon ao vaqueiro Manoel com sua voz empostada.
O vaqueiro se levantou, sacudiu o mato da roupa e pegou seu cavalo caminhando para a Casa Grande onde o patrão já devia está uma fera pela demorada espera. Zenon seguiu de perto o vaqueiro sabendo que o patrão não havia de gostar daquela espera imensa.
--- O que ele quer? – perguntou Manoel Jacó.
--- Não sei não. Pergunte a ele. – respondeu Zenon embravecido.
--- Ora que porre que eu tomei! É por isso que o coronel me chama? – perguntou Manoel Jacó desconfiado com o carão que tinha que levar.
--- Pergunte a ele! – respondeu irado o feitor.
--- Ora. Você não ajuda em nada! – argumentou o vaqueiro.

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