domingo, 15 de fevereiro de 2009

RIBEIRA - 249

SANTO PADRE PIO XII
Era o mês de janeiro do ano de 1956. Princípio do mês. O dia era um sábado. Paulo Campelo havia me chamado uns dias antes para nós irmos a uma reunião da JOC, negócio que me entusiasmou bastante apesar do nome - JOC - me soar estranho. Mesmo assim, Paulo disse que eu iria gostar, pois, se eu já estava a trabalhar no comércio, então, valeria a pena ir para essa tal de JOC, um movimento novo, em Natal, de jovens entusiastas e, todos eles, cristãos. Católicos. Chegou o sábado e lá estava eu, com as mãos suando, porém alegre, a esperar Paulo, o seu irmão Pedro, o seu amigo Chico, e outros rapazes para irmos à tarde, à reunião desse movimento. Eu cheguei com Paulo e os seus amigos, por volta das três horas da tarde e lá entrei em um prédio que se dizia ser o inicio da nova Catedral de Natal. Uma sala ampla, repleta de cadeiras formando um círculo bem acentuado, com vários jovens já sentados, conversando sobre coisas que eu nem sequer entendia. Paulo comprimentou a todos e a um mais velho da turma que ele me apresentou como sendo JBOliveira. Eu, ainda, acanhado, o cumprimentei e, de imediato procurei uma cadeira para me sentar, de preferência junto a Paulo ou a Pedro. Em instantes, o jovem mais velho que nós, JBOliveira começou a falar para os novatos que eu fiquei sabendo ser "simpatizantes" sobre a história da tal JOC. De minha parte, eu só fazia ouvir. Uns dez minutos depois, entrou na sala um outro rapaz, um tanto carancudo, e que levou uma bronca por estar atrazado para o encontro dos sábados. O rapaz, um tanto gago ou mesmo por falar daquele jeito, se desculpou, dizendo que saíra tarde do emprego, fora almoçar e só então conseguira chegar para a reunião dos jocistas. Então, o caso tomou outro rumo, pois fiquei sabendo que o rapaz era o presidente do movimento e o tal de JBOliveira era o secretário. Fomos apresentado ao rapaz, cujo seu nome era Arlindo de Melo Freire. Eu o olhei, desconfiado. Mesmo assim, Arlindo começou a falar de um encontro que seria realizado durante o período do Carnaval, no Abrigo dos Velhos - Abrigo Juvino Barreto -. Ele falou esperar que todos os presentes pudessem comparecer a esse encontro, um tipo de 'recolhimento', que se passaria durante todo o período carnavalesco. Houve uma ovação. Todos os jovens presentes se comprometeram em ir ao retiro, mesmo aqueles que trabalhavam nos dias de carnaval, como era o caso de um rapaz, de nome Hugo. Outros disseram que só poderiam ir dormir no final do sábado quando começaria o retiro. Arlindo falou, então, do valor que nós teriamos que pagar. Eu já nem sei quanto era. Mas, no dia, fiz as contas e ajustei que daria para pagar. Tinha um caso: E que não trabalhasse naquele tempo?. Arlindo explicou que, para esses, haveria uma rserva especial. E eu me lembrei de chamar um meu amigo, Aloísio, pois, certamente, ele gostaria de estar presente ao retiro, apesar de suas tias - de criação - fazerem "cara feia" em deixá-lo ir. Isso se deu mais à frente, no outro sábado, quando o convidei a participar da reunião da Juventude Operária Católica, a JOC. Vencidas as batalhas, passados os sábados, chegou o carnaval. E nós, então - pelo menos, eu - já um tanto sabidos dos direitos e deveres do empregado do comércio, estavamos reunidos no prédio da Catedral, no período da tarde de um sábado, partimos para o nosso retiro, acompanhados da chamada JOC-F, que era o movimento das moças. No Abrigo dos Velhos, passamos dias de orações e de lazer, principalmente à noite, quando era aberta a parte do divertimento, em meio aos homens e mulheres idosas, que gostavam, a valer dos papeis que nós apresentavamos. Foram passados os dias de carnaval, com pregações por parte dos sacerdotes - o padre Raimundo Menezes Brasil e o Padre José Luís - e de lazer, sempre à noite, por nós, brincando e fazendo imitações de médicos, sapateiros, alfaiates e tantos mais. Foi o nosso primeiro carnaval do retiro que nos fez bem. Daí em diante, foram dias de labor, viagens e palestras em todos os bairros de Natal, formando núcleos da JOC, aumentando o seu poder de ajudar aos jovens trabalhadores a se organizar para a verdadeira luta. A JOC foi criada na Bélgica, pelo Padre Joseph Cardjin, em 1925, para reunir jovens filhos de trabalhadores das minas de carvão, orientá-los e capacitá-los para o seu futuro. Cardjin tinha o objetivo de levar o seu movimento aos diversos países do mundo. Em 1935, a JOC chegou ao Brasil, pelos Estados do Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e outros mais. Com a deflagração da II Guerra Mundial, o movimento paralizou um pouco. Em 1946, a JOC retomou as suas atividades e depois de 1950, ela chegou a Natal. Era um movimento valente, dando orígem à JAC - jovens agrários - a JEC - jovens estudantes - a JIC - jovens independentes - a JUC - jovens universitários. Com o passar do tempo, a JOC fez uma grande perigrinação à Roma, indo representantes de todos os Estados do Brasil, inclusive Natal, com João Batista de Oliveira, O JBOliveira, Alda Leda de Melo Freire, representado a JOC Feminina e o Padre Raimundo Brasil, como Assistente Espiritual. Foi, naquela época, em 1957, no dia 24 de agosto, um movimento colossal, apresentando ao Sumo Pontíce o Papa Pio XII, o que era, na verdade, a JOC em todo o mundo, com uma encenação de cada povo mostrando o seu meio de trabalho e como se fazia para poder cumpri-lo "Se tiverdes fé, ireis à conquista do mundo", disse o Monsenhor Cardjin. Ele esteve em Natal, antes da JOC enviar seus representantes à Roma, para ver de perto o que se estava a fazer. Pele clara, cabelos brancos, porte um tanto alto, Joseph Cardjin mostrou-se alegre com a juventude de Natal e, quando partiu, disse: "Até Roma".

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