sábado, 21 de fevereiro de 2009

RIBEIRA - 253

ISTO É CARNAVAL
Isto é carnaval!!! Com dinheiro ou sem dinheiro, meu amor, eu brinco!!! Eu estou relembrando os antigos - não, "velhos", como diz uma marchinha - carnavais de Natal, por excelencia. Nos anos "dourados" de 1950 se pulava a folia de qualquer forma. Eu lembro de Zé Areias, todo sujo de farinha de trigo, confetis, serpentinas, chapeu de palha emplumado, calças curtas, chinelos e o rosto completamente pintado de rouge, baton - nos lábios - camisa aberta aos peitos, mostrando seus volumosos mamilos que ele fazia questão de espremer onde estava ou chegava. E todos os que estavam presente, sorriam às pampas. "Olha o Zé Areia, Olha lá!!!", gritavam os mais afoitos para chamar mais de perto o "velho" boêmio que estava a sambar com toda a sua leveza de um homem de um corpo bem gorducho, mais que um Rei Momo e menos que um glutão. No tempo de 1920, o carnaval era mais tranquilo, com desfiles pela Avenida Tavares de Lyra, Rua Chile, Cais do Porto, Esplanada Silva Jardim, Rua Duque de Caxias e, voltando pela Avenida Tavares de Lyra. Uns poucos carros faziam o chamado corso, com seus proprietários conduzindo o veículo e ao lado, a esposa, emplumada à rigor e atras, as belas meninas, tres ou quatro, fazendo mesuras para os foliões da época. Nesse tempo, tinha seu Yoyo, que não era o Rei Momo, mas fazia a vez de um rei sem coroa e sem rainha, sem págens nem, carruagens, sem mordomos e ninguem para beijar-lhe os pés. Não importava-se, pois Yoyo era o rei que ele imaginava. No carnaval de Zé Areias, ele pulava (como, "pulava", se ele era gordo?) e brincava e o pandeiro era quem sortia o ritmo e Zé nem se importava com o fracasso do palhaço. Certa vez, eu vi Zé Areias na Avenida Rio Branco, sendo conduzido por dois ou três "vassalos", acompanhado o ritimo, mostrando seus exuberantes peitos, sem mascaras porém todo pintado da cabeça aos pés. O folião sorria a velas soltas com as peripércias do Zé que nem ligava aos que faziam fila e caminhava em frente, cantando e pulando ao seu jeito com todo o imenso corpanzil desarrumado. Nos bares do barro Ribeira, Zé Areias fazia a festa para o agrado de todos. Se alguém pergundasse a ele quem o estava a patrocinar, na certa levaria um jato de pó de arroz na cara, pois ninguêm patrocinaria a sua alegria de viver. Enfim, Zé Areias era o primeiro e único, igual aos outros que brincavam, sem corôa e sem dinheiro. Com a chegada do carnaval, tem gente que estravasa nas suas alegorias ou mesmo trejeitos, aproveitando a festa momesca para abusar de sua condição de ser apenas um ser macho. Estes fazem de tudo para depois dizer: "É Carnaval.!!!!".
O carnaval é considerado uma das festas populares mais animadas e representativas do mundo. Tem sua orígem no entrudo português, onde, no passado, as pessoas jogavam uma nas outras, água, ovos, farinha e bosta mesmo. O entrudo acontecia num periodo anterior a quaresmae, portanto, tinha um significado ligado à liberdade. Este sentido permanece até os dias de hoje no Carnaval. O entrudo chegou ao Brasil por volta do século XVII e foi influenciado pelas festas carnavalescas que aconteciam na Europa. Em países como a Itália e França, o carnaval ocorria em formas de desfiles urbanos, onde os carnavalescos usavam máscaras e fantasias. Personagens como a colombina, o pierrô e o Rei Momo também foram incorporados ao carnaval brasileiro, embora sejam de origem européia. No Brasil, no final do século XIX, começam a aparecer os primeiros blocos carnavalescos, cordões e os famosos "corsos". Estes últimos, tornaram-se mais populares no começo do século XX. As pessoas se fantasiavam, decoravam os seus carros e, em grupo, desfilavam pelas ruas das cidades. Está a origem dos carros alegóricos, típicos das escolas de samba atuais. O carnaval de rua manteve suas tradições originais na região Nordeste. Em cidades como Natal, Recife e Olinda, as pessoas saem às ruas durante o carnaval no ritmo do frevo e do maracatú. Dona Isabel, mais conhecida por Bebé, dona de um bar no bairro da Ribeira, costumava dizer que o carnaval bem que podia durar o ano todo. No bar de Bebé frequentavam as mais célebres intelectualidades de Natal, para se fazer na orgia que o Rei Momo mandava.

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