sábado, 16 de janeiro de 2010

RIBEIRA - 566

- SABRINA -
CONTO
Seu nome tinha gosto de mel. Tão doce e puro que todos a procuravam chamar: Sabrina era o seu nome. Moça do interior vinda alheia para a capital sem conhecer nada ou alguma coisa, ela procurou os locais que mais podiam lhe sustentar. Foi assim que Sabrina chegou até ao bar Mar Azul, um canto escondido num bairro boêmio da capital. Alí ela se fez igual as demais Sabrinas que se escondiam por aquele antro de perdição, mistura de amor bandido, cheio de ilusões e de quimeras mil. Sabrina era de uma elegância fina por sua cor morena, quase alva, cabelos ondulados feitos em tranças marcando uma ternura antiga onde todos a procuravam por sentir naqueles abraços algo que não encontrariam em suas próprias mansões. Se alguém procurasse outra mulher, mudaria de idéia ao ver Sabrina passar. E foi assim que a deusa do amor perfeito conseguiu a alegria dos ébrios de amor em seus locais de tristeza e dor. Sedutora e terna de uma afeição incomum ela era capaz de fazer aqueles que a amavam por instantes um celebre rei da humilde saudade que o destino desfolhava. Nos sublimes templos das ilusões perdidas via-se no olhar de Sabrina um sorriso que prendia e enfeitiçava alguém que sonhava com um passado de quimeras ilusões desfeitas.
E foi assim que Sabrina desfolhou as doces abistratas e eternas ilusões entre felicidade suprema em perfume da saudade. Um certo dia, depois de amor banal e intenso, sua quietude interna fora quebrada por alguém, um jovem frequentador do bar que após tanto ardor contido e quieto lhe fez perguntas nunca antes não reveladas. O jovem senhor lhe perguntou coisas de outrora, de sua infância, meninice enfim. Sabrina demorou a responder e quando falou foi para saber o que tinha de tão importante aquelas questões tão eternas e singular. O rapaz lhe disse, então, que nada de mais lhe perguntava. Apenas o seu passado. Silêncio profundo e imenso se fez notar nas palavras de Sabrina. Quando falou foi para recordar o seu tempo de menina imberbe e inocente, quando tinha apenas oito anos. Foi um tempo de mais angústia para a menina. Sabrina nem desejava recordar o que se passara, por vezes a chorar. O jovem homem se conteve em saber até ver que a angustia terminara no coração da mulher. Ela então falou que aqueles tempos foram os mais infelizes de sua infância. Sua mãe recomendara a menina a fazer o que um homem lhe seduzia. Era um homem pequeno, magro e feio, dizia Sabrina. E a moça temia quando criança por fazer o que a mãe lhe mandara ser feito. Certa vez, a menina for total depida pelo o minusculo homem que lhe tirou toda a veste. As vestes da menina eram um vestido de algodão tendo por baixo a calcinha puída de pano fino e escasso. O homem a arrancou de vez, deixando a criança nua, sem roupa. Alí, coberta de lágrimas, sentindo um imenso frio por ver sua nudez desnudada, a criança se encolheu toda, agarrada a uma árvore, talvez de frutas silvestres para que o minúsculo homem lhe acariciasse e, enfim, fizesse os agrados indecentes para uma menina. Essa foi a primeira vez. Outras mais se seguiram com avidez e a menina servindo de ima para a sevícia do desregrado homem de uma altivez sepulcral. Teve uma vez que o monstro mandou que ela urinasse na sua boca. Ela, tremendo de medo, nem sabia o que fazer. Sabia que por um momento se urinou toda, de medo incontido. Com o decorrer dos meses, a menina sempre nua quando se fazia presente do homem, sentiu a coragem de não ser mais a sua menina. Então, correu como uma fera quase morta foge do animal algoz. O minúsculo homem nada fez. Ela se escondeu por entre as folhas das bananeiras deixando que o tempo passasse, ainda temendo as garras afiadas do monstro para alcançá-la. Para Sabrina, foram dias e noites fora de casa. Depois disso tudo, ela se embrulhou entre palhas de bananeira e saiu mato a dentro, sem destino até alcançar uma vertente onde pode melhor se recompor em suas vestes. Da casa, nunca mais soube. Nem de sua mãe também. Do difícil tempo de menina veio a mocidade. Ela então passou noites a fio sem dormir, quase que sonhando com o minusculo homem feio.
Essa era a história da vida de Sabrina, mulher sensual e fértil, então com as suas garras afiadas para não temer mais aos homens que se passavam por vítimas. Os mistérios que as sombras vaporosas dormiam em seu sentir eram horizontes de um passado que se fez presente. De amor, Sabrina nada pensava, pois sabia que tal amor não tinha gema que lhe enfeitiçasse, nem milagres nem enfeites. Ela era então apenas Sabrina e nada mais. Não mais esperava no sublime amor a estrada de sonhos de um sonhador do mundo. Nada além de que uma frenética ilusão para se dar e pôr no ímpeto de um frenesi. Essa caricatura amor era tudo o que podia dar a alguém que a procurasse para acalmar as suas estranhas emoções.

Um comentário:

http://cidasonhosefantasias.zip.net/ disse...

Olá, li com especial atenção o seu texto Racilva. Percebi um sentimento de inocência e saudade das coisas simples.
Abraço, meus respeitos a você.
Cida