terça-feira, 31 de março de 2009

RIBEIRA - 279

JOÃO ALVARES
No dia 30 de abril de ano de 1896 nascia João que na pia batismal recebia o nome de João Àlvares de França, filho do professor Luis Alvares de França e de Ana Isabel Alvares Pinheiro. Era o primogênito da famila de mais seis irmão - Sebastião, Francisco, Beatriz, Alzira, Alice e Gabriela. Natal, Rn, era ainda uma pequena cidade e o professor Luis de França tinha um sítio da rua Camboim, estreia, por sinal. No seu tempo, a rua Camboim nem começava da rua Jundiaí, pois essa não existia ainda. E nem terminava da rua Apodi, pois essa também nem começava naquele canto. A rua Camboim era a última rua da Cidade que se chamou depois de Cidade Alta. O sítio terminava quando começava o sitio do "Coronel" Cascudo, pai de Luis da Câmara Cascudo, homem que se projetou na cidade do Natal por seus estudos. O sítio de Luis de França ficava no seu final, onde hoje é a sede da Assen,tomando quase todo o que seria chamado de quarteirão, tempos depois. Ali, vivia João com seus pais e irmãos, à sombra dos cajueiros, mangueiras, e de outros pés de frutas, numa sombra que parecia eterna. Luís de França, além do seu sítio na rua Camboim, tinha um outro terreno, em parceria com o seu tio. O terreno ficava onde hoje está a Nova Catedral. Em 1890 até 95, Luis concordou em doar o espaço ao padre João Maria para a construção de uma Igreja. Padre João Maria Cavalcante de Brito começou naquele local a construção da Catedral de Natal, um pouco distante da velha Catedral. Mas, com a sua doença, Padre João Maria não pode dar continuidade à obra e faleceu em 1905 deixando boa parte da construção feita.
João Alvares estudou em escola particular e no Atheneu, onde concluiu o primeiro estagio dos seus ensinos. Para ir mais além, João Alvares fez os estudos na Escola Normal, em 1918, onde, ele e tantos outros, inclusive moças, receberam diploma do Professores. No ano seguinte, em 1919, João Alvares conseguiu uma colocação no Estado, sendo Mestre da Secretaria de Ensino, tendo que partir pelo sertão, já como Inspetor de Ensino. Assim, ele foi para o municipio de Pau dos Ferros, terra distante da capital para onde se chegar, tinha-se que levar um bom tempo. De lá, partiu para Mossoró, Papari (hoje Nísia Floresta), Flores (hoje, Florânea) e tantos outros sertões bravios. Na condição de Inspetor de Ensino, ele era recebido pelos professores primários de cada municipio desses, como uma sumidade, com o mais prestigiado respeito. Em 1927, João Alvares teve que ir ao Rio de Janeiro, capital da República, para fazer o mestrado em sua profissão. Foi um longo período de sacrificios. A viagem foi de navio. E com o seu final, ele voltou à Natal, tendo sido recebidos com imenças corbeles de flores e festa por todos que habitavam Natal. Em 1929, veio o seu primeiro casamento com a jovem Raymunda Barbosa de França, gente de classe fina, natural de Belém, do Pará. Contudo, esse matrimonio durou pouco tempo, pois a sua esposa faleceu em principios de 1930, não deixando familia. Para João, foi um abalo muito grande a morte de sua mulher. Ambos moravam na rua "Vai Quem Quer", hoje chamada de rua Mossoró. O sepultamento ocorreu no cemitério do Alecrim, único da cidade. O tempo passou e João conheceu uma outra moça - Reinéria - com quem veio a se casar. A jovem moça era da família Leandro. Em casa, era chamada por Néra. Os dois foram morar um uma casa na rua Camboim, onde João nascera. A moça tinha sua família que residia na Rua da Estrela (hoje, José de Alencar) e assim, ficava perto dos seus familiares, pois a casa dos pais de Néra era na esquina da rua da Estrela, onde havia um local para a comercialização de urnas mortuarias, feitas pelo seu pai, Miguel Leandro que, por sinal, ocupava o seu tempo como Tabelião do 1º Cartorio de Natal, dando emprego também, a seus filhos. Em 1935, faleceu Miguel Leandro, um abalo para a familia composta de 16 filhos, deixando a esposa, Estefânia Leandro. Quem cuidou do enfermo, antes dele vir a falecer, foi a sua filha, Néra. Passado o tempo, João e Néra cuidaram de sua vida. Em 1936, no verão, mês de dezembro, eles foram passar as férias de fim de ano na Praia de Areia Preta. Alí, so havia casebres de taipa. Em um deles se abrigava João e Néra em companhia de seus parentes, Maria do Carmo e Tenente Severino, ambos casados. No ano seguinte, 1937, João Álvares foi incumbido de fazer inspeção das escolas de Baixa Verde, onde para lá rumou em companhia de sua esposa, Néra. A mulher reclamava muito das cobras que se escondiam nas paredes da casa em que residiam. E quando João teve que voltar a Natal, a sua esposa deu graças a Deus. Certa vez, ainda em Baixa Verde, eles - João e Néra - estavam jantando quando ouviu-se uns passos de algo de não se sabia o que era. De repente, um cavalo pôs a cabeça no vão da porta do corredor e balançou-a como quem dá "boa noite" e rumou de volta por por onde o educado animal havia entrado. Foi um susto e tanto. contava Néra, aquele cavalo tão educado entrando para apenas dar um "boa noite" e avisar ao dono que a porta da casa estava aberta àquela hora da noite, até cedo, por sinal, mesmo em se tratando de uma cidade do interior. Seu primeiro filho nasceu no ano de 1938. Foi uma festa para todos os seus familiares. Nôza - Leonor - era a mais encantada com o novo rebento, quase não o tirando dos braços para inticar, assim, a sua irmã, que morria de ciumes. Em 1940, João Alvares esteve empregado no Campo de Aviação de Parnamirim, cerca de tres léguas do centro. Foram cinco anos de assombros e medos. Havia o tradicional "apagão", quando ninguém podia ficar com qualquer luz acesa, mesmo num casebre do bairro do Carrasco ou Lagoa Seca. Nesse perido de "escuridão", um homem foi preso quando transmitia via código "Morse" informações sobre a cidade, escondido, no interior de uma catacumba do Cemitério do Alecrim. Isso, foi mais que um assombro, sem dúvidas. No mesmo período, em 1942, dois fatos aconteceram em ambas as famílias Leandro e Alvares. Um, foi a morte de Dona Estefãnia, mãe de Néra, vítima de diabetes. Ela faleceu no dia 23 de janeiro de 1942, sete anos após perder o marido que morreu de um desarranjo intestinal. O segundo foi a morte de Luís de França, pai de João Alvares, que morreu vítima do coração. Em igual tempo, João Álvares estava morando na rua Trairí esquina com av Hermes da Fonseca, última casa daquela rua. Deu-se ai um fato curioso. Certa vez, em 1944, o seu filho viu uma "gravata" pendurada nas telhas do quarto da casa, uma casa isolada por todos os lados, e plantios de pés de banana anã e de mamão. O garoto chamou a sua mãe para ver a tal "gravata". Quando a mulher chegou ao quarto, mas que repente, agarrou o filho nos braços e partiu para a rua clamado: "aquilo é uma cobra!!!". Os vizinhos acorreram para socorrer dona Néra enquanto João procurou ajuda de um guarda florestal que estava no morro do Estrondo. O homem veio e mirou na cabeça da serpente, deflagrando um único tiro e acertando em cheio na cabeça da cobra. O sangue que desceu, molhou todo o lençol da cama e dona Néra juntou tudo o que podia, encharcado com o sangue da serpente e atirou na rua, pois tal sangue não sairia com uma ou duas lavagens com água e sabão, por mais que se esfregasse. O caçador advertiu que uma outra serpente deveria aparecer pelas redondezas e dois dias depois a segunda serpente apareceu numa casa próxima a que o casal morava. O homem disse mais que aquelas cobras só andavam em parelha. "Se não fosse o menino!!!", era o que dizia uma mulher que morava na casa vizinha. Da rua Trairi, João Alvares, alarmado por sua esposa, que não tirava da cabeça a imagem da cobra, tratou de vender o imóvel e adquirir uma outra casa, não muito longe, na rua Afonso Pena. E a familia se mudou para o novo endereço. Como Inspetor de Ensino, João costumava a viajar para locais não muito longe. Néra ficava em casa, visitava os parentes, às vezes iá até a praia tomar banho de mar e dar banho no seu garoto. Em 1947, veio o segundo filho. Esse foi de um parto bem mais dificil, pois a mulher estava com 41 anos de idade. A parteira, Mãe Luiza, lutou em vão para extrair a criança do útero de dona Néra. Após dois dias de sacrificio, recomendou que aquele caso estava dificil e era bom que a mulher procurasse um médico e fosse ao hospital para ter o seu filho. Chamado às pressas pelo pai da criança. o Dr João Leandro que, além de dentista era médico, buscou uma ambulancia e levou a sua irmã para o Hospital Miguel Couto (hoje Hospital Onofre Lopes) e ali foi feita a operação de retirada do garoto. Ela costumava dizer: "Foi tirado a ferro!!!". Mesmo assim, o garoto, extraido a ferro não apresentava maiores transtornos, a não ser um ferimento na cabeça causado na hora da extração. Coisa de só menos importância e que sarou bem depressa. Passado o tempo, em 1953, João Alvares vendeu o imóvel e comprou uma casa do bairro de Petrópolis. Alí, ele viveu até o dia de sua morte, a 29 de março do ano de 1958. quando uma leucemia lhe cobrou a liberdade de viver. Morreu um mês antes do completar aniversário. Na hora de sua morte, estava com ele apenas a sua mulher, dona Reinéria Leandro Álvares. Era o fim de um professor, entre muitos outros, que foi lente da Polícia Militar durante vários anos, formando soldados, cabos, sargentos e tenentes. Hoje, nem uma pedra tem afixada para lembrar o seu nome naquele Quartel. Ou mesmo, nem uma rua, praça, beco ou vila qualquer para lembrar quem foi aquele professor João Álvares de França.

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