terça-feira, 13 de janeiro de 2009

RIBEIRA - 232

SÃO PEDRO
O Evangelho de Pedro foi descoberto em 1886, no Egito. Este evangelho apócrifo foi motivo de grande constrangimento para Serapião (190-221), bispo de Antioquia. Ele chegou a permitir que este evangelho fosse utilizado pela Igreja de sua região, mas arrependeu-se quando se deu conta, após a leitura detalhada, que seu teor ensinava doutrinas gnósticas (heréticas). Além do bispo Serapião, outros pais da Igreja fizeram referencia a este evangelho: Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerônimo e Teodoreto de Ciro outros pais da Igreja fazem referencia a este evangelho, que segundo os especialistas, foi composto na primeira metade do século II. Diz o Evangelho de Pedro Apóstolo:

I


"1 - Mas nenhum dos judeus lavou as mãos, nem Herodes, nem qualquer de seus juizes. Como não quisessem eles lavar-se, Pilatos se levantou. 2 - Mandou, então o rei Herodes que levassem o Senhor para fora, dizendo-lhes: 'Fazei tudo o que vos ordenei que fizesseis'.
II
3 - Encontrava-se alí José, amigo de Pilatos e do Senhor. Quando soube que o crucificariam, dirigiu-se a Pilatos e lhe pediu o corpo do Senhor para ser sepultado. 4 - Pilatos, de sua parte, o mandou a Herodes para que lhe pedisse o corpo. 5 - Disse Herodes: "Irmão Pilatos, ainda que ninguém o tivesse pedido, nós o teriamos sepultado, pois se aproxima o sábado. E está escrito na lei: 'Não se ponha o sol sobre o justiçado". E o entregou ao povo no dia antes dos ázimos, a festa deles.
III
6 - Apoderando-se do Senhor, eles o empurravam e diziam: "Arrastemos o filho de Deus, pois finalmente caiu em nossas mãos". 7 - Vestiram-no com um manto de púrpura, fizeram-no sentar-se numa cadeira do tribunal, dizendo: "julga com justiça, ó rei de Israel". 8 - Um deles trouxe uma coroa de espinhos e a colocou na cabeça do Senhor. 9 - Outros que alí se encontravam e cuspiram-lhe no rosto; outros lhe batiam nas faces, outros o fustigavam com uma vara, alguns o flagelavam, dizendo: "Esta é a honra que prestamos ao filho de Deus".
IV
10 - Levaram para lá dois malfeitores e crucificaram o Senhor no meio deles. Mas ele se calava como se não sentisse qualquer dor. 11 - Quando ergueram a cruz, escreveram no alto: "Este é o rei de Israel". 12 - Colocaram as vestes diante dele, dividiam-nas e lançaram sorte sobre elas. 13 - Mas um dos malfeitores o reprendeu, dizendo: "Nós sofremos assim por causa de ações más que praticamos. Este, porém, se tornou salvador dos homens, que mal vos fez?". - 14 -Indignados contra ele, ordenaram que não lhes fossem quebradas as pernas e assim morresse entre os tormentos.
V
15 - Era meio-dia, quando as trevas cobriram toda a Judéia. Eles se agitavam e se angustiavam, supondo que o sol já tivesse posto, pois ele ainda estava vivo. E está escrito para eles: "Não se ponha o sol sobre um justificado". 16 - E um deles disse: "Dai-lhe de beber fel com vinagre". Fizeram uma mistura e lhe deram para beber. 17 - E cuspiram tudo, enchendo desse modo a medida de seus pecados sobre suas cabeças. 18 - Muitos andavam com fachos e, pensando que fosse noite, retiraram-se para repousar. 19 - E o Senhor gritou, dizendo: "Minha força, minha força, tu me abandonastes!". Enquanto assim falava, foi assumido na glória. 20 - Na mesma hora o véu do templo de Jerusalém se rasgou em duas partes.
VI
21 - Tiraram os pregos das mãos do Senhor e o depuseram no chão. Tremeu toda a terra e houve grande medo. 22 - Brilhou, então, o sol e reconheceram que era a nona hora (três horas da tarde). 23 - Alegraram-se os judeuse deram seu corpo a José (de Arimatéia) para que o sepultasse. José tinha visto todo o bem que Jesus fizera. 24 - Tomando o Senhor, levou-o, envolvendo-o em um lençol e o depositou em seu próprio sepulcro, chamado jardim de José.
VII
25 - Os judeus, os anciãos e os sacerdotes compreenderam, então, o grande mal que tinham feito a sí mesmo e começaram a lamentar-se, batendo no peito e dizendo: "Ai de nossos pecados! O juizo e o fim de Jerusalém estão agora próximos!". 26 - Eu (Pedro) e meus amigos estávamos tristes; de ânimo abatido nos escondiamos. Estávamos sendo procurados por eles como malfeitores e como aqueles que queriam incendiar o templo. 27 - Por causa de tudo isso, jejuávamos e nos assentávamos, lamentando-nos e chorando noite e dia, até o sábado.
VIII
28 - Os escribas, os fariseus e os anciãos se reuniram, pois ficaram sabendo que todo o povo murmurava e se lamentava, batendo no peito e dizendo: "Se por ocasião de sua morte se realizaram sinais tão grandes, vede quanto ele era justo!". 29 - Tiveram medo e foram a Pilatos, pedindo-lhe; 30 - "Dá-nos soldados para que seu túmulo seja vigiado por três dias.Que não aconteça que seus discipulos venham roubá-lo e o povo acredite que ele tenha ressuscitado dos mortos e nos faça mal!". 31 - Pilatos deu-lhes o centurião Petrônio com soldados para vigiar o sepulcro. Com eles dirigiram-se ao túmulo os anciãos e os escribas 32 - e todos os que alí estavam com o centurião. Os soldados rolaram uma grande pedra 33 - e a colocaram na entrada do túmulo. Nela imprimiram sete selos. Depois ergueram alí uma tenda e montaram guarda.
IX
34 - Pela manhã, ao despontar do sábado, veio de Jerusalém e das vizinhanças uma multidão para ver o túmulo selado. 35 - Mas durante a noite que precedeu o dia do Senhor, enquanto os soldados montavam guarda, por turno, dois a dois, ressoou no céu uma voz forte. 36 - e viram abrir-se os céus e descer de lá doi homens, com grande esplendor. e aproximar-se do túmulo. 37 - A pedra que fora colocada em frente à porta rolou donde estava e se pôs de lado. Abriu-se o sepulcro e nele entraram os dois jovens.
X
38 - À vista disto, os soldados foram acordar o centurião e os anciãos, pois tamém estes estavam de guarda. 39 - E enquanto lhes contavam tudo o que tinham presenciado, viram também sair três homens do sepulcro: dois deles amparavam o terceiro e eram seguidos por uma cruz. 40 - A cabeça dos dois homens atingia o céu, enquanto a daquele que conduziam pela mão ultrapassava os céus. 41 - Ouviram do céu uma voz que dizia: "Pregaste aos que dormem? 42 - E da cruz se ouviu a resposta: - "Sim".
XI
43 - Eles, então, deliberaram em conjunto ir ralatar essas coisas a Pilatos. 44 - Enquanto ainda conversavam, abriram-se novamente os céus. Um homem desceu e entrou no túmulo. 45 - Vendo aquilo, o centurião e os que estavam com ele apressaram-se, sendo ainda noite, a procurar Pilatos, deixando o sepulcro que tinham vigiado. Extremamente abalados, expuseram tudo o que tinham visto e disseram: "Era verdadeiramente filho de Deus". 46 - Pilatos respondeu: "Sou inocente do sangue do filho de Deus, fostes vós que decidistes assim". 47 - Depois todos se aproximaram, pedindo e suplicando que ordenasse ao centurião e aos soldados não contar a ninguém o que tinham visto. 48 - "Para nós, diziam, é melhor ser culpado de gravíssimo pecado diante de Deus, do que cair nas mãos do povo judeu e ser lapidados". 49 - Pilatos, então ordenou ao centurião e aos soldados que nada dissessem.
XII
50 - Ao amanhecer do dia do Senhor, Maria Madalena, discipula do Senhor, que, por medo dos judeus ardentes de cólera, não havia feito na sepultura do Senhor tudo quanto as mulheres costumavam fazer pelos mortos que lhes eram caros, 51 - tomou consigo as amigas e dirigiu-se ao túmulo onde tinha sido posto. 52 - Elas temiam ser vistas pelos judeus e diziam: "Se, no dia em que foi crucificado, não podemos chorar e lamentar-nos batendo no peito, façamo-lo pelo menos agora no seu túmulo". 53 - "Quem, no entanto, nos há de revolver a pedra colocada na entrada do sepulcro, a fim de que possamos entrar, sentar-nos em volta dele e cumprir o que lhe é devido? 54 - A pedra é grande e tememos que alguém nos veja. Se não pudermos fazer, deponhamos, pelo menos, na porta o que trouxemos em sua memória. Choraremos e nos lamentaremos, batendo-nos no peito até a hora de voltarmos para casa".
XIII
55 - Mas quando chegaram, encontraram o sepulcro aberto. Aproximando-se, inclinaram-se e viram alí um jovem sentado no meio do sepulcro. Era belo e estava revestido de túnica de raro resplendor. Parguntaram-lhe: 56 - Por que viestes? A quem procurais? Por acaso, aquele que foi crucificado? Ressuscitou e foi-se embora. Se não acreditais, inclinai-vos e olhai o lugar onde jazia. Não está mais. Ressuscitou, na verdade, e voltou para o lugar donde veio". 57 - As mulheres fugiram atemorizadas.
XIV
58 - Era o último dia dos Ázimos. Muitos deixavam a cidade e voltavam para as suas casas, acabara-se a festa. 59 - Nós, porém, os doze apostolos do Senhor, chorávamos e nos entristeciamos, Depois, cada um, angustiado por tudo o que tinha acontecido, voltou para a sua casa. 60 - Eu, pelo contrário, Simão Pedro, e meu irmão André tomamos nossas redes e nos dirigimos ao mar. Conosco estava Levi, filho de Alfeu.
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Este é o Evangelho de Pedro, o Santo, que a Igreja desprezou. Alguns estudiosos buscam melhores informações estudando este e os outros Evangelhos Apócrifos em busca de uma verdade cujo teor não está tão longe assim.

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