quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

RIBEIRA - 233

CANUDOS

A chamada Guerra de Canudos, revolução ou insurreição, foi o confronto entre um movimento popular de fundo sócio-religioso e o Exército da República, que durou de 1896 a 1897, na então comunidade de Canudos, no interior do Estado da Bahia, no Brasil. O episódiofoi fruto de uma série de fatores como a grave crise econômica e social e social em que se encontrava a região à época, históricamente caracterizada pela presença de latifúndios improdutivos, situação essa agravada pela ocorrencia de secas cíclicas, de desemprego crônico; pela crença numa salvação milagrosa que pouparia os humildes habitantes do sertão dos flagelos do clima e da exclusão econômica e social. Inicialmente, em Canudos, os sertanejos não contestavam o regime republicano recem-adotado no país; houve apenas mobilizações esporádicas contra a municipalização da cobrança de impostos. A imprensa, o Clero e os latifundiários da região incomodaram-se com uma nova cidade independente e com a constante migração de pessoas e valores para aquele novo local passaram a acusá-los disso, ganhando desse modo, o apoio da opinião pública do pais para justificar a guerra movida contra o arraial de Canudos e os seus habitantes.
Aos poucos, construiu-se em torno de Antônio Conselheiro e seus adeptos uma imagem equivocada de que todos eram "perigosos monarquistas" a serviço de potências estrangeiras, querendo restaurar no país o regime imperial devido, entre outros, ao fato de o Exército Brasileiro sair derrotado em três expedições, incluindo uma comandada pelo Coronel Antônio Moreira César, também conhecido como "corta-cabeças" pela fama de ter mandado executar mais de cem pessoas na repressão à Revolução Federalista em Santa Catarina, expedição que contou com mais de mil homens. A derrota das tropas do Exército nas primeiras expedições contra o povoado apavorou o País, e deu legitimidade para a perpetração deste massacre que culminou com a morte de mais de seis mil sertanejos. Todas as casas foram queimadas.
Canudos era uma pequena aldeia que surgiu durante o século 18 às margens do rio Vaza-Barris. Com a chegada de Antônio Conselheiro em 1893 passou a crescer vertiginosamente, em poucos anos chegando a contar por volta de 25.000 habitantes. Antônio Conselheiro rebatizou o local de Belo Monte, apesar de estar situado num vale, entre colinas. A situação, na região, à época, era muito precária devido às secas, à fome, à pobreza e à violência social. Esse quadro, somado à elevada religiosidade dos sertanejos, deflagrou uma série de distúrbios sociais, os quais, diante da incapacidade dos poderes constituidos em debelá-los, conduziram a um conflito de maiores proporções.
Antônio Vicente Mendes Maciel, apelidado do "Antônio Conselheiro", nascido em Quixeramobim, Ceará, a 13 de março de 1830, de tradicional família que vivia nos sertões entre Quixeramobim e Boa Viagem - (Antônio nasceu, na verdade, em Vila do Campo Maior, chamada depois de Quixeramobim) - fora comerciante, professor e advogado prático nos sertões de Ipu e Sobral. Após a esposa tê-lo abandonado em favor de um sargento de policia, passou a viagar pelos sertões em uma andança de vinte e cinco anos. - (Antônio casou-se com Brasilina Laurentino de Lima, fogosa e bela jovem filha de um tio do mesmo. No ano seguinte, o jovem casal muda-se para Sobral, onde Antônio Vicente passa a viver como professor do primario, dando aulas para os filhos dos comeciantes e fazendeiros da região, e mais tarde como advogado prático, defendendo os pobres e desvalidos a título de pequena remuneração. Em 1861 o homem flagra a sua mulher em traição conjugal com um sargento de polícia em sua residencia na Vila do Ipu Grande. Dias depois ele faz uma tocaia para pegar o sargento. Antônio Vicente atira e mata o policial. Foi aberto processo contra sua pessoa e o negociante passou a ser procurado pelo sertão. Foi julgado e condenado à prisão em processo à revelia.) - Antônio Vicente chegou a Canudos em 1893, tornando-se líder do arraial e atraindo milhares de pessoas. Acreditava que era um enviado de Deus para acabar com as diferenças sociais e com a cobrança de tributos. Acreditava ainda que a República (então recem-implantada) era a materialização do reino do Anti-Cristo na Terra, uma vez que o governo laico seria uma profanação da autoridade da Igreja Católica para legitimar os governantes.
A primeira reação oficial do governo da Bahia deu-se em outubro de 1896, quando as autoridades de Juazeiro, BA, apelaram para o governo estadual em busca de uma solução. Este, em novembro, mandou contra o arraial um destacamento policial de cem praças. Os conselheiristas, vindo ao encontro do atacantes, surpreendeiro a tropa em Uauá obrigando-a a se retirar com vários mortos. Desde então, os jagunços fortificaram os acessos ao arraial. Em janeiro de 1897, depois de atravessar a serra do Cambaio, uma segunda expedição militar contra Canudos foi atacada no dia 18 e repelida com pesadas baixas pelos jagunços, que se abasteciam com as armas abandonadas ou tomadas à tropa. Os sertanejos mostravam grande coragem e habilidade militar, enquanto Antônio Conselheiros ocupa-se da esfera civil e religiosa.
Na capital do País, o governo federal ante este fato e a pressão de políticos que viam em Canudos um perigoso foco monarquista, assumiu a repressão, preparando a primeira expedição regular. A notícia da chegada de tropas militares à região atraiu para lá grande número de pessoas, que partiam am várias áreas do Nordeste e iam em defesa do "homem Santo". Novo conflito e os jagunços venceram. Em abril de 1897 o Governo autorizou a quarta expedição composta de duas colunas, ambas com mais de quatro mil soldados equipados com as mais modernas armas de época. Uma base de operações foi instalada em Monte Santo. No dia 27 de junho, depois de sofrer várias perdas, os atacantes chegaram a Canudos. A batalha se seguiu e o cerco foi apertado sobre o arraial. Depois da morte do Conselheiro em combate, em 22 de setembro, muitos jagunços abandonaram a luta, mulheres, homens, meninos foram capturados. O último reduto, entrincheirado na praça, resistia ao fogo pesado da artilharia do Governo. O arraial suportou até 5 de outubro de 1897, quando morreram os quatro derradeiros defensores: três homens um menino foram os últimos baluartes da sangrenta batalha.Os quatro defensores do arraial de Canudos. O cadaver de Antônio Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada a faca. O Exercito contou no local 5.200 casebres. Nessa incursão, os militares incendiaram o arraial, mataram grande parte da população e degolaram centenas de prisioneiros. Estima-se que morreram ao todo por volta de 25 mil pessoas, culminando com a destruição total da povoação.

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