quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RIBEIRA - 241

PALESTINA
Somos o povo dado em sacrifício pelas potências européias, somos o povo ofertado feito cordeiro para resolver o problema judaico, somos o problema palestino, os cinqüenta anos de holocausto, somos o povo que viu o seu País ser dividido, sua população expulsa, o povo que há 35 anos vive sob ocupação israelense, metade da sua população, em campos de refugiados miseráveis e a outra metade sob ocupação israelense. O povo que não tem o mínimo de dignidade, não tem água, não tem esgoto, não tem trabalho, viu a sua economia ser arrasada, viu as suas casas até hoje serem demolidas, as suas terras confiscadas, as suas crianças não podem ir à escola, um povo que cada vez mais o Estado de Israel tenta reduzir ao analfabetismo, um povo que não tem a liberdade de ir e vir. Para quem numa distância de cinco km pode representar 50 km, um povo que passa seis horas para chegar ao local de trabalho e que dista muitas vezes 20 minutos. Essa é a história do nosso povo. E, apesar de todo esse drama, de todo esse holocausto que vivemos, ainda somos chamados de terroristas. Não existe um povo terrorista, não existe um povo demônio. Quem diz isso, quem acredita que existe um povo assim é racista, não vê a realidade, não tem sensibilidade e não tem olhos para ver. Se Israel quiser a paz, pare de entrar nos territórios ocupados com seus tanques, com seus Apaches, F-16, pare de nos olhar de forma racista, como se fossemos uma subgente. Entrem. Os israelenses estão tão próximos das nossas casas e entram nas nossas aldeias para bombardear e demolir as nossas casas. Entrem com olhos de cientistas ou com olhos de seres humanos, entrem e olhem o que fizeram das nossas casas que vocês destruíram. O Estado de Israel destruiu janelas, portas, paredes. Nossas casas demolidas que se transformaram em cortiços e vejam. Qual é o ser humano que vive num cortiço, sem água, com um terço da sua população tendo problema de diarréia, de desnutrição comparáveis ao Congo e Zimbábue? Sem emprego, sem economia, perderam os seus bens. E, esperem olhos de amor, israelenses? Olhem os filmes dos nazistas e vejam como vocês estão iguais, senão até piores, porque o nosso holocausto dura mais de 50 anos. Pensem em vocês, como aqueles que estão vitimando. Na hora que vocês nos olharem como seres humanos, se entenderem que se vocês querem discotecas, nós queremos escola, trabalho, água, nessa hora a paz será possível, na hora que vocês israelenses, derrubarem o Estado de Israel com o seu racismo e com esse apartheid. VIOLÊNCIA INSTITUCIONALExiste uma espiral da violência. A primeira, verdadeira e única mãe da violência é a violência institucional, é a violência de um sistema injusto que exclui a possibilidade de vida e dignidade humana a um grande grupo.É esta violência que gera a segunda violência, a violência do fraco, do excluído, do oprimido. A violência daquele que vê o seu direito à vida, o seu direito ao trabalho, o seu direito à Educação, o seu direito à Saúde, serem negados em benefício de uma minoria hegemônica.Esta violência é sempre reprimida pela terceira violência, a violência do Estado, muito mais assassina que a violência revolucionária do oprimido que luta de forma legítima pelo seu direito sagrado e inalienável de vida, trabalho, Educação e Saúde. É uma impostura chamar de violência, chamar de terrorismo, apenas a segunda forma, a forma do mais fraco, do oprimido, do escravizado. É uma impostura chamar de violência o palestino que perdeu a sua fábrica, o palestino que perdeu a sua terra, que vê a sua casa sendo destruída, que até hoje tem a sua terra confiscada para fazer um muro em seu território, que proíbe o seu acesso ao seu trabalho, que proíbe os seus filhos de irem à escola, que obriga a sua mulher a dar a luz num posto de controle, na frente dos militares, que obriga a ver o seu filho recém-nascido ser assassinado num posto de controle, sem os cuidados médicos, que obrigam ver o seu poço ser salgado, que obrigam ver seu gado ser confiscado e assassinado, que obrigam ver as suas oliveiras serem arrancadas, o seu filho preso numa prisão israelense, sendo torturado sem um processo ou sequer uma acusação formal. É impostura chamar essa reação legítima pela vida, pela dignidade, pelo apelo ao mundo de que sou humano, que a minha mulher é humana, os meus familiares são humanos, os meus filhos são humanos. Quero vida, quero trabalho, quero escola, quero saúde. É uma impostura chamar essa reação de violência e terrorismo, ao passo que é o Governo de Israel que ocupa a terra palestina, que proíbe o trabalho palestino, que confisca todos os nossos direitos humanos, em nome da defesa da ordem. Que ordem? A ordem que oprime, que mata, que exclui? Isso não é ordem. A única forma de acabar com a violência no Oriente Médio e em todo o mundo é lembrar que a violência é uma espiral. É preciso matar a mãe da violência, a violência institucional. Enquanto houver injustiça, enquanto não houver acesso ao básico, ao trabalho, à liberdade de trabalhar, ao ir e vir, à liberdade de cultivar a sua terra, à liberdade de ter a sua casa, não haverá paz, não haverá forma de cessar a violência.Todos os povos oprimidos do mundo, em todas as épocas, do negro que se rebelou contra a escravidão, do índio que se rebelou contra a sua escravidão, do iraquiano, que está sob a ocupação militar americana, de todos os povos ainda sob a ocupação militar, inclusive o palestino sob ocupação militar americana e israelense, apelam para os homens de boa-fé que todos precisam trabalhar contra essa violência institucional, contra a injustiça, se não, não existe paz. O que estão fazendo é uma mera impostura. Obrigada. Responder Responder a todos Encaminhar
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RACISMO APARTHEID
--- Jamile Abdel Latif (Advogada palestina residente no Brasil)

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