quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

RIBEIRA - 394

- JOÃO LEANDRO -
Este é João Batista Leandro, chamado em família por "Segundo". Isso porque foi ele o segundo João a nascer na família Leandro. João Leandro nasceu em 28 de dezembro de 1902, tendo falecido em 03 de outubro de 1995. João Leandro ou Segundo, como era chamado, se formou em odontologia na Universsidade da Bahia e desde 1926 desempenhou suas atividades. Eu conheci mais de perto o tio Segundo, por conta de uma cirurgia que ele fez em um dente que eu quebrei. Tio Segundo, nesse tempo, tinha o consultório na Praça Gentil Ferreira, bairro do Alecrim, em frente ao Mercado Público. Além de dentista, ele também era clínico geral e atendia a todos que o procuravam, ou para um tratamento dentário ou mesmo por uma cuidar de uma molésta comum, pois como médico, ele tinha a desenvoltura para tratar de um doente.
Eu lembro que, quando fui a ele, era por causa de que eu estava estudando no Colégio Salesiano e, certa vez, vindo na calçada ao lado da Praça Pedro Velho - por sinal, onde ele morava - colidí com um pé de ficus. Batí de frente com a árvore, quebrando um dente da frente. Quando eu cheguei em casa, vindo do colégio, disse à minha mãe que estava com uma dor forte na boca. Ela não acreditou na história e fez eu dizer o que, na verdade, tinha ocorrido. Depois de muito lero, eu confessei que tinha batido em um pé de pau por conta de um cachorro.
E de explicar essa história levou tempo que não acabava mais. Mas, na verdade, o negócio foi por causa de um cão. Com certeza, eu gostava de tirar sarro com os cães. Era botar pra correr, fazer de conta que era um fantasma, aparecendo e desaparecendo. Toda traquinagem possivel eu fazia, até de levantar os braços para ver o cachorro correr. Pois é!. E em certa ocasião, um cachorro era danado para latir quando eu passava. E nessa oportunidade, eu fiz mesuras para o cão que latia ainda mais. De repente, o pé de ficus! Eu trombei com a árvore de frente! Ah! que dor! Eu balancei o dente e esse sacolejou. E assim, eu fui parar na cadeira do dentista. E esse dentista era tio Segundo. Ele examinou, passou um curativo e me mandou para casa, tendo o cuidado de ver se o dente não doía. Dois dias depois, eu voltei ao consultório. E ele disse à minha mãe.
--- Não tem jeito! Quebrou mesmo! Vamos ter que estrair! - disse tio Segundo.
Aquilo foi uma tremenda mal notícia para mim. Eu tinha que arrancar um dente da boca. Coisa triste. Então, ele pegou os alicates -tinha até um boticão - e lá se vai. Puxa pra lá, puxa pra cá, ninhaque, arrancou o meu precioso dente amado. Passou água na boca com a seringa para limpar o sangue que saía enquanto dizia:
--- Quanto sangue! Garoto pra ter sangue! - dizia Segundo.
Depois de um bom tempo me despachou, lembrando a minha mãe fazer compressas quentes para não sangrar demais e me receitou uns comprimidos de qualquer coisa pois o nome eu não sei mais qual era.
Depois desse tratamento, ainda tive que voltar ao consultório de tio Segundo para obturar outro dente e fazer um pivô em um de baixo que já estava estragado. Isso foi em 1950. Eu e minha mãe tomavamos o bonde na cidade e percorriamos até o bairro do Alecrim, onde estava o consultório do meu tio.
Essa a síntese de um odontólogo que viveu em Natal, na Bahia e em outros locais socorrendo aos que não podiam ou mesmo quem podia fazer tratamento bucal. Por alguma vez, eu sentei na cadeira de dentista de tio Segundo, que ele à vendera ao Albergue Noturno de Natal. Quem me falou que aquela cadeira e os instrumentos foram comprados a João Leandro, foi o dentista que me atendeu, por sinal era também chamado Dr. João Leandro. Apesar dos nomes coinciderem, um nada tinha a ver com o outro. De familiar, somente o sobrenome. Com um certo tempo, dr João Leandro, o Segundo, cansou de trabalhar e se aposentou. Ao falecer já estava com 92 anos, deixando a mulher e uma filha casada com um juiz conhecido em Natal de nome Antônio Gazaneu, hoje, com seus oitenta e dois anos. A sua viúva ainda vive. Hoje, Mirtes Leandro tem 92 anos. A diferença entre o dois - João e Mirtes - era de 17 anos.
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