quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

RIBEIRA - 414

- O PORTO -
No tempo que eu era jovem, costumava passear pelo porto de Natal, vendo, principalmente o rio Potengí e bem assim, os jovens que utilizavam as yoles de dois clubes existentes logo após o pier do cais para navegar dalí até a ponte de Igapó, perto do Cais da Marinha, no bairro Riffault bem mais conhecido por bairro Refole. Para mim, aquele era um lindissimo panorama, principalmente se estivesse fazendo sol. Os navios desembarcavam mercadorias, principalmente do norte do país, onde se via as toras de madeiras, muitas vezes caíndo ao lado direito da embarcação e seguindo rio à fora para serem recolhidas no Canto do Mangue pelos rapazes que arrastavam as pranchas para poder vender em um armazém existente no bairro. No porto, navios desembarcavam sacarias, as mais variadas, e embarcavam algodão, minérios, cera e outros produtos aqui desenvolvidos. Nesse tempo, não havia exportação de mangas, cajús, castanhas e até mesmo melão. No Estado ainda não havia o interesse nessa produção bem como o cimento explorado em Mossoró, atualmente. O que eu vislumbrava eram os homens pescadores de camarão, caranguejo e peixes pequenos, porque os peixes grandes, o movimento maior era no Canto do Mague, com os barcos chegando do alto mar. Do Porto, só me interesava olhar os botes que partiam do Cais Tavares de Lyra em direção à praia da Redinha. Alguns desses botes, de tanta gente que levava, se envergavam de tal modo que uma das partes encostava nas águas do rio, com a garotada aproveitando para estender as suas mãos numa forma capaz de divertimento. Às vezes, um bote, de tanto pessado com as suas cagas e gente, emborcava. Então, os homens caíam na água para socorrer mulheres e meninos e evitar que se afogassem nas tortuosas correntezas do rio. Em um tempo mais remoto, no ano de 1900, o Cais não existia como no tempo em que eu conhecí. As embarcações aportavam no meio da lama com umas tábuas para os passageiros desembarcar. Isso, foi do início do século XX. Depois, foi construido o cais que, com o tempo, passou a ser chamado "Tavares de Lyra". Antes era conhecido por Cais "Nove de Julho". Eu estava a ver todo esse panorama da ponta do Cais do Porto. Antes da construão do Porto de Natal, os navios ficavam esperando, calados, no meio do rio. Era uma esteira enorme de navios. Não, como em Santos (SP). Porém, eram muitos navios de cargas. Quando aportava um navio de passageiros, antes de ser construido o Porto, as pessoas desembarcavam e embarcavam através de canoas que traziam e levavam os passageiros. Logo após a construção do Porto, os Ita, - era o nome dado aos navios de passageiros -, tinham a preferencia de atracar.Se um navio de carga tivesse a desembarcar sua mercadoria, este navio suspendia o desembarque e seguia para o meio do rio para que o Ita aportasse. Tão logo os passageiros de terra embarcavam, o Ita saía dando lugar a embarcação de cargas que retomava o seu trabalho de desembarcar as mercadorias - ou embarcar também -.Do cais do Porto, eu também vislumbrava um aterro parecendo barro. Era a antiga Estação da Coroa, onde o trém fazia sua parada final, vindo do interior de Baixa Verde. Isso, foi antes do ano de 1916. Os passageiros desembarcavam e eram trasladados em barcos para o outro lado do rio, na Estação Ferroviária. Com o passar do tempo, a ativação da ponte de Igapó, em 1916, a estação da Coroa sucumbiu. Só restou a sua lembrança. O trêm trazia os passageiros de Baixa Verde até a Ribeira, em Natal. Quando não remoía a memoria, eu via passar pelas águas do rio as lanchas cheias de gente com destino à Redinha. Se uma lancha ia, a outra vinha trazendo os passageiros que do lado de cá da cidade faziam suas compras ou vendiam os seus produtos artesanais. Naqueles idos de 1952, era esse o panorama que eu tinha a vislumbrar da pedra do cais do Porto.
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Veja também:
http://nataldeontem.blogspot.com/

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