terça-feira, 1 de dezembro de 2009

RIBEIRA - 392

- FANDANGO -
Miguel Leandro, tabelião do 1º Cartório de Natal, era homem bem quisto por toda alta sociedade aqui residente na sua época. Salvo alguns. Em Natal, foi construido nos ídos de 1907, o Solar Bela Vista, por graças do Coronel Aureliano Medeiros, dono do imóvel e considerado na época um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. O belo prédio tinha em suas características traços do estilo neoclassico. O palacete, o mais moderno no seu tempo, tinha mobílias, tapetes, lustres, critais, vidros entre outros, tudo importado da Bélgica, França e Alemanha.
Quando da inauguração do palacete, ou um pouco depois, o Coronel Aureliano Medeiros convidou o seu amigo para apresentar na festa de final de ano, algo que Miguel Leandro fazia, em Natal, a pedido ou não, uma apresentação do Fandango. O Coronel Aureliano armaria um tablado no pátio interno do palacete para poder ser vista a majestosa apresentação. E convidaria as mais ilustres autoridades da cidade para ver o espetáculo de Fandango exibido por nobres jovens da nossa capital. Entre os convivas, estava Miguel Leandro. E assim se fez. Acertada a data, então Miguel Leandro juntou os mais ricos jovens de Natal para se apresentar naquele dia no Solar Bela Vista diante de tal seleto público. Na festa, tinham comidas e bebidas, servidas a todos os convivas. Os rapazes do Fandango, sob o olhar do seu mestre, senhor Miguel Leandro, estavam prontos para se exibir perante o público formado de mocinhas, moços, senhoras e senhores, inclusive o Coronel Aureliano. Toda uma platéia reunida ao redor do tablado para assistir a apresentação daquela dança portuguesa.
O Fandango é conhecido desde o período barroco, caracterizado por movimentos vivos e agitados muito frequentemente acompanhado de sapateado e seguindo um cíclo de acordes característicos para melhor desepenho da dança. Em Portugal, o fandango é típico da região do Ribatejo, antiga província portuguesa, onde é dançado à desgarrada, ou seja, ganha o que dançar melhor. Ainda hoje é a dança representativa dos campinos. O termo fandango, no Brasil, se aplica a dois grandes grupos de folguedos populares: o auto marítimo do ciclo natalino, encontrado em alguns estados do Nordeste e o baile sulista encontrado no sul do país. Fandango é uma festa popular em homenagem aos marujos. Também tem o nome de marujada. É composta por personagens vestidos de marinheiros que cantam e dançam ao som de instrumentos de cordas. No Brasil seria uma comemoração feita para celebrar a chegada de embarcações a vela, sendo portanto originária dos povoados litorâneos. O caso mais engraçado da dança é a chegada do Birico e Mateus, onde os jovens faziam ou fazem a caracterização de dois palhaços que brincam ou brincavam aos acordes da música, sempre sapateando, o que emprestava um ritmo mais contundente colhendo a risada de quem os assistem.
Ao encerrar da festa dos marujos de alta classe, vinham os aplausos dos que os assistiram, para o orgulho de Miguel Leandro e a sua família que frequentemente recebiam afusivos abraços do dono do Solar, para o qual nada havia de melhor naquela noite de entretenimento informal no seu espaço privado. De alegre regozijo, o Coronel sempre dizia a Miguel que aquela comemoração era algo de importância histórica. Ao seu modo, o velho Miguel só fazia agradecer solene ao ritmo de um cálice de vinho do Porto. A festividade prosseguiu por horas sem fim, com a marujada já dispersa, conversando entre olhares com as lindas e belas dozelas que estavam em seu lugar, sem acompanhantes, mesmo assim, sob a vista de Miguel Leandro.
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