quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

RIBEIRA - 406

- CAJU -
Certa vez, o meu pai caminhava para a sua - e nossa - casa pela Rua Açu, no trecho entre a Avenida Pudente de Morais e a Avenida Campos Sales quando viu exposto na calçada um caju igual a este (foto), até na cor. Ele apressou-se em apanhar, vamos dizer, o fruto - isso, porque o fruto do caju é a castanha - e se curvou para pegar o caju ainda quente, pois tinha caído naquela hora, e passaria a por no bolso do paletó. Passaria, porque no mesmo, um galho apodrecido da árvore despencou lá de cima e veio de encontro ao meu pai, golpeando bem em cima da nuca. O meu pai, apanhando o caju - suculento que me pôs água na boca - saiu de baixo do cajueiro e olhou para cima vendo de onde o galho podre se desprendera pessando até que fosse alguem que estivesso por lá e feito aquilo de propósito. O galho do cajueiro nem era tão grande assim. Mas doeu quando bateu na cucuruta do meu pai. Desse dia em diante, sempre que ele passava pela rua Açu, olhava bem para ver se nao tinha outro galho partido que podesse atingí-lo.
Sei que, quando chegou em casa, meu pai mostrou o caju - enorme que ele só - e contou a façanha do pau que despencou de cima do cajueiro e lhe atingiu a nuca. Eu caí da gargalhada e disse que aquele caju serveria para se fazer refresco. Nesse tempo, não havia geladeira lá em nossa casa para se fazer rafresco. Tinha-se que fazer com água fria da quartinha e misturava-se com um tanto de açucar. Aí estava pronto o refresco do caju. Da mesma forma se fazia com outras frutas, como mangaba, maracujá, goiaba, cajá, manga-rosa e outras frutas que dessem para expremer e tirar o suco. Nesse dia bodocó faltou pouco pra virar. O seja: o caju estava com um sabor tão doce que nós bebemos o seu suco como uns glutões.
Dizem que o cajueiro foi exmportado pelos portugueses do Brasil para o resto do mundo. Quer dizer: no Brasil é o dono de todos os cajueiros existentes da Ásia e na África. Até Maurício de Nassau fez doce de caju em compotas, para chegar às melhores mesas da Europa. Ora veja só. Também há quem diga que o caju é suculento e rico em vitamina C e ferro. Depois do beneficiamento do caju preparam-se sucos, mel, doces, passas, rapaduras e até mesmo a cajuína, uma verdadeira aguardente do caju. Muito antes do descobrimento do Brasil e antes da chegada dos portugueses, o caju já era alimento básico das populações indigenas daqui. Eles faziam até uma bebida que parecia cachaça com a fermentação do suco do caju. A bebida era chamada de mocororó.
Desde antanhos, eu e o meu pai percorriamos os morros de Natal a procura de caju, quando era o seu tempo. A questão era que a gente encontrava uns cajuzinhos azedos e travosos nessas bandas do morro. Na região onde é hoje Mãe Luiza, o bairro, não morava ninguem, a não ser um pescador, João Balbino, que só vivia da pesca que ele fazia dos rochedos da praia de Areia Preta ou de Barreira Roxa. Pelas cercanias de, hoje, Mãe Luiza existiam cajueiros de monta, parecia até que aqui só havia os sítios de cajueiros. Mesmo sendo azedos, nós - eu e o meu pai - colhiamos os cajus para levar para a nossa casa. As castanhas, eram uns tiquinhos de nada. Nem prestava para assar. A poupa, nós tragavamos, com azedume e tudo, até dizer "basta". Quando se queria pegar uns cajus mais nobres, iamos para o Tirol, onde havia cercados onde nasciam cajus, mangas, pitombas, araçás, pinhas, jacas, graviólas e outras tantas. Então, era uma graça para nós trazermos para casa esta "caça" de frutas tão soborosas.
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