sábado, 6 de dezembro de 2008

RIBEIRA - 197

CAJUEIRO NORDESTINO
João Jerônimo da Silva era o seu nome apesar de se conhecer apenas por João. Ele dirigia um caminhão Chevrolet 48, Cara Branca, porque tinha a sua frente niquelada e, toda semana costumava ir ao Estado da Paraíba, apanhãr frutas, como laranjas e mangas, para trazer para Natal (Rn) e por à venda no mercado público da Cidade. Em um dia de sábado, João, tendo voltado da viagem, rumou para a sua casa que ficava na avenida Afonso Pena, no bairro do Tirol, próximo à rua Mossoró, pos a cidade, em 1928 já havia sido dividida em quadriláteros de terrenos.. Esse fato se deu em 1950. O fato que vou contar. Pois bem. Quando chegou a tarde do sábado, João veio com o seu caminhão e encostou em baixo de um cajueiro, pois ali fazia sombra. Depois do almoço, ele chamou seu ajudante e um ou dois irmãos para fazer um reparo no pneu trazeiro do caminhão, pois onde ele estacionou o carro tinha sombra do cajueiro. O tal cajueiro ficava na esquina das ruas Afonso Pena e Mossoró. Do outro lado de onde ficava o cajueiro tinha um sítio murado em todo o quarteirão, cheio de fruteiras, como sendo mangueiras, cajueiros, coqueiros e muitas outras espécies. Assim era o terreno do lado oposto ao cajueiro onde João estacionou o seu caminhão. Pois bem. Começado o serviço, só se ouvia o tilintar das ferramentas pelo chão. Os homens calçaram o caminhão pelas rodas da frente, com sepos de um lado e de outro e tmbém um pneu do lado direito do carro, atrás e na frente, para o caminhão ficar sepado e não correr, apesão de João colocar o carro em primeira marcha. Pois bem. Isso era de tarde, inda cedo. Sol quente de fazer dó. A turma, toda suada, chega pingava de testa a baixo. tomaram conta do serviço. Puxa pra lá, puxa pra cá, até arrancarem o pneu esquerdo do belo caminhão. Pra bem dizer, tal carro não tinha porta. O motorista subia por um degrau e se sentava ao volante, e, a porta que não existia, era apenas um formato feito um L. Esse L evitava que o motorista se jogasse para fora ou mesmo, se jogasse em caso de acidente. Assim, eram os caminhões de antigamente. E o tempo passou. João e seus ajudantes retiraram o pneu do carro e começaram a fazer o serviço enquanto havia luz do sol, pois a Companhia Força e Luz só acendia a luz dos postes lá para as 6 horas, e essa luz era fraca, não iluminando o carro onde os homens trabalhavam. Se me lembro bem, o que eles faziam, era trocar os rolamentos, por graxa e ajeitar os freios do caminhão. Era serviço para um sábado e um domingo, quando tudo terminava. De uma vez, era o pneu do lado esquerdo. Depois, era que eles começariam a fazer do outro lado que dava para um muro que cercava o cajueiro para evitar que os garotos tirassem cajus verdes e pequenos, o que não fazia diferença alguma, pois a turma invadia o terreno de qualquer jeito. E veio a noite. Assim, os mecânicos arrumaram as ferramentas todas e guardaram num baú do caminhão, rumando, depois, para as suas casas, proximas ao local de serviço. O cruzamento das ruas Afonso Pena e Mossoró tinha uma baixa e sempre que chovia (ainda hoje é assim) todo o local se enchia de água e lama formada por um barro que a Prefeitura colocara na rua Mossoró. O tempo estava bom, sem prenuncio de chuva naquele tempo. No dia seguinte, João e seus ajudantes começariam a outra parte do serviço. Porém, o tempo mudou a cara. Veio a madrugada e uma chuva torrencial se abateu sobre o lugar onde estava o caminhão de João Jerônimo. Chuva muita e em poucas horas todo o local estava tomado pelas águas que chegava até a calçada da casa de João. De imediato, o povo se alarmou. Ainda de madrugada, as águas chegavam as portas das residências proximas do cruzamento das duas ruas, invadindo quintais onde seu moradores procuravam se proteger colocando toras de coqueiros para impedir que a invasão do aguaceiro acontecesse. Só se ouvia o alarme das pessoas na rua toda, vez que o alagamento se estendia até a rua Açu, cem metros de distancia. Era um invernam aquele com s aguas tomando conta da rua Afonso Pena, da rua Mossoró e da rua Açu. Chega a manhã e quem viu o caminhão atolado, notava que a lama cobria os pneus do veículo. A chuva não parava e a criançada que já nem dormira, aproveitava para brincar na lagoa que se formara em frente de suas casas. Cada um que tomasse banho a seu bel prazer. Choveu por todo o domingo, com brava intensidade. Os macânicos foram ver o caminhão, arrastanto a lama com quase a metade da cintura. Viram o drama e nada puderam fazer. O negócio era esperar pelo dia seguinte. E esperaram, assim mesmo. O certo foi, quando o tempo amainou, lá para terça ou quarta-feira, João recomeçou a fazer o serviço, pelo menos arrastar o carro para um local onde pudesse fazer o serviço que ainda restava. Já perdera muito tempo e até mesmo a aliança de casamento que se afundara na lama. Lama essa que demoraria seis meses para secar, caso não continuasse a chover torrencialmente, como na madrugada daquele domingo. O certo é que, com o carro num local mais elevado e longe do lamaçal, João, agora até sem aliança, terminou o serviço e, sem mais demora, com uma semana perdida, pode viajar para a Paraíba em busca de suas frutas. Seis meses depois, quando não havia mais lama no local onde o caminhão ficou atolado, em uma segunda-feira, a sua sogra, vindo da feira das Rocas, passando entre o barro feito uns canecos, viu um brilho a saltar. Era a aliança de João que ela, de alegria retumbava, mostrou aos vizinhos que foram conferir aquela aliança de ouro, justo a que João Jerônimo havia perdido na lama num dia qualquer de muita chuva.

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