domingo, 7 de dezembro de 2008

RIBEIRA - 198

VITROLA
Na Ribeira dos velhos tempos existia um bar chamado Flamengo. Alí se comia e bebia até altas horas da noite ou primeiras da madrugada. O bar ficava da rua Duque de Caxias, bem perto da rua 15 de Novembro, o palácio das noites de prazer. A rua 15 era um local que, quase, não apagava a luz das suas casas, pois ali era a volúpia generalizada com as damas vivendo os seus bem mais brilhantes momentos de prazer ao lado dos seus homens. Nos palácios do prazer, tinha um pouco de tudo. E os ébrios loucos dormiam embalados no colo da mulher amada. Amada. por um instante de prazer. E o bar fundia-se com o ardente cantar que as alegres damas fecundavam nos seus notívagos embriagados amores. Era um acordo delicioso aqueles inebriantes instantes de promessas e casual ardor. Às sete horas da manhã, o Bar Flamengo abria suas portas, apenas para cumprir o que ditava a lei, pois, enquanto fechado, os loucos embriagados permanecim dentro do salão. Apenas a vitrola deixava de por as músicas, canções dos seresteiros da noite e do dia, para bem dizer. Os discos eram ligeiramente difefentes dos que se comprava no comércio. Ao se por uma ficha, um braço eletrónico vinha até onde estava depositado o disco e levava para por a tocar a canção chorosa que se ouvia a seguir. Dessas vitrolas, ainda existem por aí, nos bares da vida. Porém, a do Bar Flamengo era um encanto de enterna afeição. Podia-se ouvir fox, swing, begin ou as mais belas canções ditadas pelos atentos intérpretes de sua época. Canções que se perdiam na voragem do vício de beber, pois eram o anseio dos inebriados homens do prazer na companhia de suas damas da noite e do dia. Quando surgia o claro do dia, os ébrios estavam a dormir, por vezes só, pois a dama já tinha retirado o seu dinheiro do bolso ou da carteira dos jovens e assim, por entre cadeiras e mesas, desaparecia. Quando era dia, o sol já fecundo, o Bar Flamengo abria suas portas para receber novos fregueses que alí buscavam um pouco de café bem forte para tirar o gosto amargo da bebida que lhes estonteavam. Tal Bar, nunca fechou em definitivo as suas portas, mesmo depois que a rua 15 de Novembro perdeu os seus encantos. Inda há pouco ele estava a funcionar, fornecendo café aos que trabalham no Porto sem saber que, um certo dia, alí estava, com certeza, talvez o seu pai, ébrio e louco de amor.

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